Nessas últimas duas semanas, tivemos um exemplo gritante do papel das expectativas nos preços de ativos nos mercados. O presidente eleito, Lula, ainda na COP-27, declarou:
“O dólar vai subir e a bolsa cair? Paciência!”
Com essa simples frase, tivemos uma mudança brusca nos mercados, com a curva soberana de juros abrindo bruscamente (veja abaixo). Como uma simples declaração pode afetar tanto os mercados e a vida das pessoas?
Figura 1: Curvas de juros e preços recentes; Fonte: Bloomberg; Elaboração: XP Macro.
Pelos gráficos acima, vemos que expectativa importa, e muito! Isso porque os mercados são vivos e móveis e respondem (muitas vezes, rapidamente) a mudanças na realidade, ou ainda, a mudanças nas expectativas da realidade. Não precisa nem a realidade ter mudado, mas a mera expectativa de mudança fará preço e impactará os mercados. Exatamente como no caso acima, onde nada mudou a não ser a expectativa. Perceba, foi um comentário de um futuro governo, que ainda nem assumiu, dizendo o que fará, ou melhor, deixando implícito em sua fala o planejamento por maiores gastos sem muita preocupação (pelo menos aparente e demonstrada) com o controle fiscal. Em resumo, o novo governo, na figura do presidente eleito, declarou que seguirá com planos de gastar mais, independentemente do que os mercados financeiros pensam ou preferem.
Essa expectativa foi suficiente para fazer uma mudança brutal em muitíssimo pouco tempo:
(i) Curva de juros soberana: praticamente mais 200 pontos base (+2,0%) (gráfico superior esquerdo);
(ii) Spread sobre IPCA: mais 50 pontos base no spread sobre o IPCA (g. superior direito);
(iii) SELIC esperada: de uma futura queda esperada para a manutenção das taxas estratosféricas de quase 14% (g. inferior esquerdo);
(iv) Inflação esperada: de queda no curto prazo, para estabilização e posterior aumento da inflação – fruto de um gasto maior sinalizado em uma “mera frase” do novo presidente eleito.
Os casos anteriores são apenas expectativas de mercado em relação à renda fixa. Esse impacto é apenas um dos que existem nos ativos. Os mercados de renda variável mostram, diariamente, esses efeitos na volatilidade (altas e baixas) dos preços de cada ativo. A bolsa costuma ser o mercado com maior volatilidade (excetuando-se os criptoativos). Veja o que aconteceu com o preço do banco Bradesco após a divulgação de resultados de seu último trimestre (3T22):
Figura 2 – Preço do Bradesco (BBDC4) de R$ 18 para R$ 15 / BBDC4, pós resultado de 3T22.
O Bradesco, um dos maiores bancos do Brasil, dos mais sólidos e estáveis que temos, viu seu valor de mercado perder ~20% de um dia para o outro após entregar um resultado trimestral ruim. Pergunto: o Bradesco realmente perdeu 20% do seu valor intrínseco do dia para noite por um powerpoint apresentado pela sua área de RI? Claro que não. Por detrás desse movimento existe a EXPECTATIVA de que as dificuldades do 3T22 tenham uma duração para além do trimestre ruim, impactando outros trimestres. E o mercado não espera, mas antecipa as novas informações… Obviamente quem estava alocado no momento dessa queda, viu seu patrimônio nesse ativo encolher brutalmente em um só dia. A expectativa pode ser etérea, mas o impacto é real.
O mercado acerta sempre? Óbvio que não! O ponto principal é que expectativas (boas ou ruins) fazem preço nos ativos líquidos do mercado com uma rapidez incrível.
É exatamente por essa característica de antecipar expectativas que, independentemente da variável que se esteja avaliando, normalmente existe o que o “mercado” está esperando. O “mercado”, efetivamente falando, é uma ficção, ele não existe. O que existem são os milhares/milhões de agentes (isto é, investidores, tomadores de recursos, analistas, economistas, influencers, pitaqueiros, jornalistas, curiosos, entre tantos outros) que compõe o mercado. E a média/mediana do que esse povo todo espera do futuro é o que é divulgado sobre a alcunha de “o mercado espera”.
Surpresas positivas são recepcionadas por aumentos dos preços/valores das empresas, títulos e demais ativos. Surpresas negativas ou ruins, por sua vez, disparam quedas nesses preços.
O entendimento de como essas expectativas são formadas é algo que vale a pena gastar tempo para se aprender, principalmente por aqueles que querem se aprofundar em conhecer mais dos mercados financeiros, para melhor investir/especular. É tanto uma ciência, quanto uma arte em si. Isso porque tais expectativas são influenciadas tanto por variáveis concretas, reais e objetivas, numericamente definidas, como níveis de juros, taxas de inflação, PIB, quanto outras que não tem uma definição matemática precisa, nem é objetiva, como nível de medo, estresse, ganância e questões eminentemente emocionais.
O que você está esperando para 2023? O que o mercado espera para 2023? Só o tempo dirá, mas antes das coisas acontecerem, as expectativas irão atuar e mover mercados e preços.
Bons investimentos!