O Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, interrompeu as vendas de carne para a China depois de confirmar um caso de doença da vaca louca, levantando preocupações entre os agricultores sobre a proibição prolongada da carne bovina para o maior parceiro comercial do país.
O Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil informou nesta quarta-feira (22) que notificou a Organização Mundial de Saúde Animal e enviou amostras para testes no Canadá, após detectar a doença em uma pequena fazenda no Pará.
Como parte de um acordo bilateral de 2015 com a China, o Brasil é obrigado a suspender automaticamente os embarques do produto. O Ministério da Agricultura e Pecuária não respondeu a pedidos de comentários sobre se os embarques para outros países, incluindo os Estados Unidos, também seriam interrompidos.
Em 2021, dois casos de doença da vaca louca obrigaram o país a suspender as exportações de carne bovina para a China, maior compradora da carne brasileira, por cerca de três meses, desferindo um duro golpe para os pecuaristas do país.
O governo do estado do Pará informou que detectou o caso em uma fazenda com cerca de 160 cabeças de gado, afirmando que os sintomas sugeriam tratar-se de um chamado caso atípico da doença, que ocorre espontaneamente em vacas mais velhas e é menos perigoso do que o tipo clássico de infecção, geralmente causada por ração de gado contaminada.
Os casos detectados há dois anos também eram do tipo atípico, de acordo com o grupo industrial Abrafrigo, mas os chineses ainda mantiveram o embargo de meses enquanto as autoridades brasileiras trabalhavam para convencê-los de que a carne do país era segura.
As exportações brasileiras de carne bovina já estavam sob escrutínio em 2017, quando a polícia acusou os inspetores de aceitar subornos para permitir a venda de carnes podres e infestadas de salmonelas, levando a China e outros países a reduzir as importações.
Mas os altos preços da carne bovina nos EUA podem dissuadir os americanos de se juntarem à China para impor sua própria proibição desta vez, especialmente se o caso da doença da vaca louca for confirmado como atípico e restrito a apenas um estado, disse Cesar de Castro Alves, agropecuário especialista do Itaú BBA. O Departamento de Agricultura dos EUA não respondeu aos pedidos de comentários.
Uma proibição chinesa prolongada à carne bovina brasileira pode ser uma boa notícia para os agricultores australianos, disseram analistas do setor, encorajando a China a acelerar as negociações para aliviar as restrições às importações. As tensões comerciais com a Austrália se intensificaram em 2020, depois que Canberra buscou apoio de líderes europeus para investigar a resposta inicial de Pequim à pandemia.
“Todas as providências estão sendo tomadas de imediato em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a reconhecida qualidade de nossa carne”, afirmou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
Fávaro disse em entrevista à televisão na quarta-feira que espera que a proibição seja suspensa antes que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visite a China no final de março. A visita será a primeira desde que assumiu o terceiro mandato.
(com The Wall Street Journal)