Como o preço dos combustíveis afeta a inflação

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A reoneração dos combustíveis – a saber, gasolina e etanol –, anunciada por Haddad na semana passada, suscitou dois pontos de vista entre os agentes do mercado: por um lado, comentou-se sobre possíveis benefícios fiscais. Do outro, levou a revisões de alta para o IPCA. 

Os combustíveis representam um percentual em torno de 6% para a inflação, no Brasil, segundo a tabela do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE. Desse número, quase 5% equivalem à gasolina. 

Segundo economistas consultados pelo Valor Econômico, a reoneração deve resultar em aumento de 0,35% no IPCA. 

O aumento da inflação é um dos principais efeitos da retomada dos impostos para a economia, afirma o estrategista da Nomos Investimentos, Rodrigo Corrêa. No entanto, “a melhora fiscal, do ponto de vista do governo, é o aumento de arrecadação”. 

Mecânica da inflação

Rodrigo explica que, com o aumento nos combustíveis, consequentemente, os preços de outros bens – como os alimentos – podem ficar mais caros, já que a principal matriz de transporte do país, é a rodoviária, depende da gasolina e etanol.

Já a principal camada de brasileiros a sentir as consequências da reoneração é a classe média, uma das maiores responsáveis pelo consumo de combustíveis, de acordo com o analista de macroeconomia da Benndorf, Marco Ferrini.

O analista ainda ressalta que isso afeta a renda disponível, lesando o desempenho econômico do país e de modo a possivelmente acarretar numa recessão em 2023. 

“No mais, a alta da inflação vai atuar a favor do discurso hawkish do BC para manter a taxa de juros no topo da curva, fator também negativo para a economia”, completou Marco.

“Variações de preços nos combustíveis, principalmente na gasolina, têm um reflexo considerável na inflação, como ficou evidente no ano passado”, pontuou Marco Ferrini. 

Segundo o analista do IBGE André Filipe Guedes, em entrevista ao Valor Econômico em janeiro, se retirados os subitens gasolina e energia elétrica do cálculo inflacionário, o IPCA teria sido 9,56% em 2022, valor bem acima do resultado de 5,79%. 

Em 2022, o preço da gasolina caiu 25,78%, após alta de 47,49% em 2021, e o da energia elétrica caiu 19,01%. 

Quanto à Brasília e a questão fiscal

A principal justificativa de Haddad para a volta dos impostos sobre os combustíveis é o fortalecimento da política fiscal do Brasil. 

“Se aumentou ou voltou a reonerar de imposto os combustíveis, naturalmente, conforme a população continue comprando esses combustíveis, ela vai pagar mais imposto e vai aumentar, por consequência direta, a arrecadação ”, explica Rodrigo Correa. 

A reoneração faz parte de um plano de medidas econômicas a serem adotadas com objetivo de reduzir o déficit primário de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), previsto para 2023, para um número em torno de 1%, explica Marco Ferrini. 

“O governo federal espera arrecadar cerca de R$ 28,8 bilhões com a reoneração parcial da gasolina e do etanol e o imposto sobre exportação de petróleo que durará 4 meses”, indicou o analista da Benndorf. 

Para a gasolina, a reoneração foi de R$ 0,47 por litro, mas como é acompanhada de redução em R$ 0,13 feita pela Petrobras, o impacto final ao consumidor é de R$ 0,34. Já o etanol teve reoneração de R$ 0,02. Os novos preços começaram a valer em 1º de março.

Para a inflação cair

De acordo com Marco Ferrini, o Brasil – e o resto do mundo – são atravessados, atualmente, por uma inflação de oferta, caracterizada por aumentos substanciais no custo de bens ou serviços importantes devido a acréscimos nos custos aos produtores.

“Esses efeitos persistem parcialmente até hoje porque as economias desaceleraram menos do que o previsto, mas continuam perdendo força e devem ser normalizados ainda em 2023. Além disso, como a inflação mundial está muito alta, nós importamos inflação de outros países”, destaca o analista. 

Marco também aponta para a necessidade de se ter modais de transporte alternativos na malha brasileira, como ferrovias e portos, para diminuir a dependência dos custos de mercadorias de possíveis oscilações no preço dos combustíveis.  

Rodrigo Correa assinala que a pressão inflacionária pode ser controlada a partir de um equilíbrio entre cortes de gastos e manutenção de arrecadação. O novo mecanismo de arcabouço fiscal de Haddad pode ser essa ponte, segundo o estrategista. 

“Se esse mecanismo for crível, ou seja, realmente for pro lado certo, for pro lado correto, trabalhar equilíbrio, não tentando só levantar a arrecadação, né? Mas também, eventualmente, cortar gastos de algum lugar […], isso é talvez a principal variável que vai fazer com que a inflação futura […] volte a cair”, explicou Rodrigo.

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