“Cripto é investimento de longo prazo, não de timing.” Para Samir Kerbage, diretor de investimentos da Hashdex, o Bitcoin, Ethereum e demais criptoativos não se resumem aos trades curtos proporcionados pela alta volatilidade de tais ativos.
Ele e Renato Campos, líder de Relações com Investidores da gestora, expuseram sua tese de investimentos no evento “Perspectivas 2033”, da Nomos Investimentos, no último fim de semana.
Conjecturar sobre o futuro, aliás, soa bastante adequado quando a pauta são criptomoedas.
No entanto, Samir se utiliza do passado para explicar como tende a ser a interação do mundo real com o Bitcoin daqui a dez anos.
Bitcoin como troco do café
O executivo compara a atual desconfiança majoritária dos bancos centrais e da sociedade em geral quanto às criptos com o surgimento da Internet, em 1998.
“Novas tecnologias são muito difíceis de ver o potencial no começo”, frisa Samir.
Mencionando o processo de aderência global ao Google, o gestor destacou no evento a relevância do que chama de “shift geracional” no processo de integração do Bitcoin à sociedade.
Quando inventado, narra, o atual líder entre os sites de pesquisa era utilizado apenas por aficionados por tecnologia, enquanto grandes corporações recusavam-se a aderir à ferramenta.
A geração seguinte, todavia, aprendeu a lidar com o Google ainda na infância, durante as pesquisas escolares. Uma vez adultos, integraram a tecnologia à realidade corporativa.
E onde entra o Bitcoin? Atualmente, nos meios de pagamento de jogos online, junto à Solana, Cardano e uma variedade de ativos digitais, responde o diretor da Hashdex.
Onde estarão os mesmos ativos no futuro? Para Samir Kerbage, nos mesmos lugares onde estiverem os adultos que hoje são as crianças gamers.
Ele vê a mesma habitualidade que temos hoje com a Internet no uso das criptos amanhã.

A cripto de hoje
Um futuro promissor, mas para poucos. Samir ressalta que, assim como diversos golpes e iniciativas de fundamentos fracos apareceram e fracassaram em meio ao surgimento da Internet, assim será com os criptoativos – o caso da Terra LUNA como exemplo mais recente.
Ele estipula que 20% das iniciativas cripto serão bem sucedidas. Apesar do percentual apertado, quem sobreviver deve gerar muito valor, acrescentou.
O Bitcoin lidera essa corrida, provando fazer jus ao título de “ouro digital”, defenderam os executivos da Hashdex.
A primeira criptomoeda, fundada em 2008, “é volátil em relação ao dólar, talvez ao ouro, nesse momento”, comenta Renato.
No entanto, prosseguiu, a confiança em moedas fiduciárias se restringe a poucos países privilegiados.
Em comparação às moedas de países como Argentina e Nigéria, o Bitcoin seria muito mais confiável.
As moedas fiduciárias — emitidas por governos — dependem de reservas fracionárias, explica Samir, e “o sistema bancário inteiro é baseado em confiança, por isso que os reguladores morrem de medo de corrida bancária”
O Bitcoin também é baseado em confiança, mas ela não se apoia em um governo central.
O lastro do principal criptoativo tem lastro na matemática e na criptografia do blockchain, acrescenta o gestor.
Citando a máxima “don’t trust, verify” — não confie, verifique — Renato convidou o público a auditar o sistema de criptografia o Bitcoin em ferramentas como o ChatGPT.
Bitcoin para as carteiras conservadoras
O mundo ainda está em fase de inovação e experimentação das criptos, lembra Samir. Ainda assim, os principais ativos já teriam provado seu valor como investimento.
Pode ser contraintuitivo pensar que ter cripto no portfólio reduz o risco da carteira, mas nisso consiste a estratégia da Hashdex.
A volatilidade diária ou mensal do Bitcoin impressiona, mas não diz tudo. “Se você tivesse mantido Bitcoin nos últimos dez anos, teria um retorno anualizado de 125%.”
Apenas em 2023, o BOVA11, fundo listado em bolsa (ETF) que replica o Ibovespa caiu 6,6%, enquanto o HASH11, ETF de criptoativos gerido pela Hashdex, subiu 55,9%.
Por estudo e experiência, Samir constata que, no curto prazo, o Bitcoin vai cair entre 70% a 90%: “o importante é manter a disciplina”, conclui.
Fundada em 2018, a Hashdex experimentou o viés negativo da primeira e principal criptomoeda do ano seguinte.
Contudo, as recuperações dos ativos digitais também são mais expressivas. “Cripto tende a se recuperar muito mais rápido que as ações”, acrescenta o diretor da gestora.
Renato menciona a importância da estratégia de investimento ao aplicar em criptos.
Procurar hora de comprar e hora de vender não seria uma alternativa eficiente. Ao invés disso, comprar aos poucos blindaria o investidor dos riscos de ter pago um preço ruim.
A alocação também é ponto fundamental. Samir aponta que ter 1% do patrimônio em cripto é o ideal para os mais conservadores — para os mais arrojados, 5%.
A sabedoria popular corrobora com a recomendação, ao dizer que “a diferença entre o remédio e o veneno é o tamanho da dose”.
O diretor de investimentos da Hashdex não esconde que criptoativos são sim investimentos de alto risco, mas destaca que, se bem alocados, podem reduzir o risco de um portfólio de investimentos.
“Todos os perfis de carteira” deveriam conter cripto em algum grau, resume o diretor de RI da asset.
Assista ao evento completo: