O dólar é a moeda utilizada como referência na grande maioria dos negócios internacionais, inclusive entre países. Mesmo que isso já ocorra há cerca de 80 anos, muitas pessoas nunca pararam para questionar o porquê da moeda ser métrica do câmbio nas principais economias do mundo.
História
Antes das duas guerras mundiais – especialmente da segunda -, o dólar não era tudo isso.
Nos primeiros anos depois da independência dos Estados Unidos (e da guerra por ela), em 1776, o país ainda não tinha controle sobre a emissão e circulação da moeda.
Isso só foi acontecer quase 20 anos depois, em 1792, quando o The Coinage Act (Lei da Cunhagem) foi assinado por George Washington – que viria a estampar as notas de 1 dólar. A lei estabeleceu a criação da primeira Casa da Moeda e determinou o dólar como a unidade de dinheiro do país.
Entretanto, ainda era difícil ter muito controle à época sobre a emissão, o que levou ao mundo enxergar com maus olhos o sistema financeiro dos EUA durante muito tempo.
Até o estabelecimento do protagonismo do dólar, a libra-esterlina era a moeda mais importante do mundo.
Com medidas ao longo do tempo para fortalecer a moeda americana, o cenário começou a mudar a partir do século XX.
As duas guerras mundiais, especialmente a segunda, deixaram os países europeus enfraquecidos, e os EUA surgiram como os principais investidores na reconstrução do continente, estabelecendo a dominância de sua moeda.
Acordo de Bretton-Woods
Reforçando ainda mais esse caráter protagonista, mais de 40 nações aliadas assinaram, em 1944, o Acordo de Bretton Woods, que aconteceu na cidade homônima nos Estados Unidos.
Na teoria, o acordo previa fomentar a colaboração econômica entre as nações, agilizar o comércio global e estabelecer um sistema financeiro global, além de uniformizar as políticas monetárias.
Por outro lado, como os Estados Unidos emergiram da guerra como liderança na nova ordem econômica no mundo, o acordo revelou-se amplamente favorável aos interesses do país.
Dentre alguns elementos estabelecidos, os principais foram: (I) os países deveriam indexar seus câmbios ao dólar americano com limite de variação de 1%; (II) o dólar teria seu lastro ligado ao outro e cada dólar valeria 35 gramas de ouro; (III) criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e do Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
Cerca de vinte anos depois, o acordo começou a enfrentar problemas, especialmente pelo fato da economia americana começar a entrar em crise, com o financiamento de guerras e alguns estímulos dados à economia doméstica.
Em 1971, o modelo acabou.
Então, por que o dólar continua sendo a moeda de referência internacional?
Existem alguns fatores que mantêm a hegemonia do dólar.
A moeda é a mais negociada no mundo e, de acordo com o Estadão, mais de US$ 6 bilhões são negociados todos os dias.
O câmbio também segue sendo a principal reserva cambial dos bancos centrais ao redor do mundo. Ainda segundo o Estadão, cerca de 60% do cofre dos países desenvolvidos é constituído por dólares.
Quando o dólar se movimenta, todo mundo mexe junto?
Rodrigo Cohen, analista de investimentos, aponta que tudo depende do motivo pelo qual o dólar subiu ou caiu. Não necessariamente porque o dólar desvalorizou que outras moedas mais fracas também irão.
Inclusive, algumas quedas podem reverberar também a economia brasileira, como foi no dia do anúncio da nova taxa de juros do Federal Reserve (Fed).
Todavia, como aponta o analista de macroeconomia da Benndorf Research, Marco Ferrini, geralmente crises em grande potências econômicas mundiais tendem a afetar o resto do globo com intensidade.
Isso acontece, segundo ele, porque as economias estão interligadas e “a economia mundial depende muito de alguns poucos protagonistas”.
Apesar disso, os países conseguem se proteger e a suas moedas em casos de crise e/ou desvalorização do dólar.
Marco lista que as nações podem acumular reservas cambiais, diversificar seus parceiros econômicos e têm suas próprias políticas monetárias e fiscais.
“Os países têm [suas] economias próprias e não estão 100% ligados aos Estados Unidos”, comentou Rodrigo.
O dólar pode deixar de ser o câmbio de referência internacional?
“É um cenário bastante complexo e que requer muito tempo ou um evento ‘cisne negro’ que colocaria a credibilidade dos Estados Unidos e do dólar em xeque”, declarou Marco.
Ele citou que a recente discussão sobre o teto da dívida americana teriam potencial para afetar esse protagonismo, especialmente se os EUA não apoiassem o pagamento da dívida.
“Existir essa possibilidade, existe. Mas eu não vejo isso acontecer no curto prazo”, disse Rodrigo.
O analista citou a China como possível concorrente neste sentido, acrescentando que uma troca na referência cambial do mundo não deve ocorrer em breve.
Marco também aponta que o gigante asiático vem realizando esforços para internacionalizar sua moeda, o renminbi, e que essa tentativa está sendo bem-sucedida, pelo fato do câmbio chinês ter conseguido se tornar o sétimo mais usado em pagamentos globais e segundo para emissão de títulos de dívida.
“A segunda maior economia do mundo internacionaliza sua moeda através de algumas medidas, como polos de negociação offshore, acordos de swap cambial, zonas de livre comércio, acordos comerciais e investimentos diretos em outras nações.”
(Com dados do Estadão)