Brasil: o patinho feio, manco e cego!

bandeira-brasil-puida- pixabay

DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.

A IMD, o International Institute for Management Development, é uma escola de negócios global, de origem suíça, constantemente posicionada entre as escolas de negócio mais renomadas do planeta, em todos os principais rankings globais. Desde 1989, através de seu Centro para Competitividade Global, publica um estudo que contém um ranking global de competitividade entre os países das principais economias, de acordo com parâmetros que indicam a competitividade de um país.

Como estamos? De mal a pior.

Na edição de 2023, o Brasil, no principal ranking (agregado) está em 60 entre 64 países. Atrás de nós só: (61) África do Sul; (62) Mongólia; (63) Argentina; (64) Venezuela – lembrando que os últimos dois são países que efetivamente quebraram e vivem numa situação totalmente precária e caótica. Nossas posições dos últimos 5 anos (entre 2019 e 2023, respectivamente) no ranking geral foram: 59, 56, 57, 59, 60 entre 63, 63, 64, 63 e 64 posições totais.

Comparação com pares (Américas – 9) e países populosos (27).

É triste notar que nas Américas só somos mais competitivos que Argentina (63) e Venezuela (64). Perdemos para Chile (44), Peru (55), México (56) e Colombia (58).

Há além do ranking geral, outros 4 subrankings que medem aspectos específicos de nosso país, ficamos ranqueados entre 2019 e 2023 nas seguintes posições:

– Desempenho Econômico – as posições foram: 57 / 56 / 51 / 48 / 41;

– Eficiência Governamental – as posições foram: 62 / 61 / 62 / 61 / 62;

– Eficiencia de Negócios – as posições foram: 57 / 47 / 49 / 52 / 61;

– Infraestrutura – as posições foram: 54 / 53 / 52 / 53 / 55.

Ranking do brasil em 2023 nos subrankings.

Temos um relativo destaque no controle de preços (viva o BC brasileiro!), e investimentos internacionais (IED) – ou seja, somos um destino de investimentos relativamente interessante para os gringos. Estamos também na média no quesito infraestrutura cientifica (boas universidades; sim, nós temos nerds capacitados!). Mas no resto (todas as demais ranqueamos em 40+), nossa capacitação é sofrível.

Melhores colocados: exemplos

Os 3 primeiros do ranking de 2023 foram (do terceiro para o primeiro): Suíça, Irlanda e Dinamarca. São países de populações menores que a brasileira e naturalmente isso ajuda na gestão pública. Mas temos muito que aprender com esses países. Em resumo, são países que fazem excelente uso do seu acesso a mercados e parceiros comerciais, assim como Singapura, que fechou em quarto.

Vivemos em um mundo com inúmeras crises acontecendo simultaneamente e países que conseguem navegar esse ambiente imprevisível com agilidade e adaptação estão vencendo. Essas características têm construído economias resilientes para países como Irlanda, Islândia e Bahrein. Outros conseguem que seus governos reajam rapidamente e de forma adequada aos eventos – são exemplos: EUA, Arábia Saudita, Qatar (3 no oriente médio) e Singapura (Ásia).

A Dinamarca ranqueia muito bem em todos os aspectos e continua a evoluir nos menos competitivos. Ranqueou primeiro em eficiência de negócios, segundo em infraestrutura e melhorou em eficiência governamental de sexto para quinto. A Irlanda pulou de decima primeira para segunda no geral por uma desempenho econômico estelar (de sétima para primeira). Por fim, Suíça permanece bastante competitiva em várias frentes.

Critérios de avaliação

No Desempenho Econômico, os critérios usados são: economia doméstica, comércio internacional, investimento internacional, emprego e Inflação. O governo anterior, com atitudes mais a favor dos mercados, ajudou com reformas importantes como: independência legal do Banco Central, marco do saneamento, marco dos portos.

Na Eficiência Governamental, os critérios usados são: finanças públicas, políticas tributárias, framework institucional, legislação para negócios, framework social. Esse é o pior quesito que temos de longe. A morosidade e ineficiência de nosso Estado é patente até para quem olha de fora.

Nosso emaranhado tributário é dos mais complexos do mundo. Caso efetivamente ocorra a simplificação tributária prometida, estaremos melhores com certeza. O engessamento orçamentário com bases na Constituição é outro ponto que nos deixa com governos lentos e inertes frente aos desafios da vida.

O ativismo jurídico que leva à falta de segurança jurídica é outro problema a ser atacado e endereçado se quisermos evoluir. Outro ponto necessário é a reforma administrativa, falada no último governo e enterrada no atual.

Na Eficiência de Negócios, os critérios são: produtividade e eficiência, mercado de trabalho, finanças, práticas de gestão, valores e atitudes. O famigerado “custo Brasil” entra aqui nos detonando em muitas posições.

A gestão econômica dos últimos anos, com mais elementos pró-mercado, determinou a mais forte melhoria entre todos os critérios. A lei da liberdade econômica, a privatização da Eletrobras, e as reformas trabalhista e previdenciária foram exemplos dessas atitudes que melhoraram nossa eficiência em negócios.

Mas problemas ainda são muitos: gastamos talvez o maior tempo entre todos os países para ter uma infraestrutura para pagar impostos. Somos lentos para abrir negócios e prover todas as autorizações e alvarás que um negócio pode precisar.

Na Infraestrutura, os critérios são: infraestrutura básica, infraestrutura tecnológica, infraestrutura cientifica, saúde e meio ambiente, educação. Na infraestrutura, continuamos a penar.

Desde infraestrutura básica ruim (saneamento começa a ser atacado agora); estradas e portos deficientes, educação pública de péssima qualidade são problemas estruturais que temos a décadas e não haverá nenhum passe de mágica para arrumá-los. Apenas projetos corretos e continuidade entre governos poderão nos fazer avançar aqui.

Mas, às vezes, bons projetos são discutidos (e esperamos que aprovados), como o marco das garantias, que promete revitalizar o mercado de crédito, fundamental em projetos de infraestrutura, entre outros.

Conclusão

Estamos no atual governo discutindo pontos fundamentais que poderão nos beneficiar – entre eles destaco o novo arcabouço fiscal (quase lá) e principalmente, a reforma tributária.

Sobre o arcabouço fiscal, após aprovado (deve passar), o governo ainda terá que provar que manterá o equílibrio fiscal mínimo. Essa questão ainda não encontra resposta nas simulações da maioria dos analistas econômicos. Já quanto a reforma tributária, há espaço para melhorar e muito o ambiente pesado de negócios que temos no Brasil.

Mas faltam muita coisa a ser feita. Primeiro, nossos governantes precisam parar de querer desfazer o que foi feito por governos anteriores. Nesse ponto, nosso Congresso está de parabéns ao travar pautas que só iam contra o interesse legítimo da nação.

Precisamos urgentemente endereçar, tratar e cuidar da educação básica de qualidade. Não é possível vivermos perdendo geração atrás de geração por simples incompetência e interesses políticos e corporativistas escusos que não o dos brasileiros pequenos e sua qualificação para o futuro.

A economia do futuro é uma economia da informação. Sem educação básica de QUALIDADE, seremos sempre e unicamente exportadores de commodities. Esse é um ponto que precisamos acordar como país e traçar um plano de Estado, que nossas lideranças subscrevam, independentemente da ideologia ou qualquer outra orientação política.

Temos ilhas de excelência na economia – a maior é nosso agronegócio, que em 2023 tem carregado o PIB em suas costas. Competitividade, inovação e mercados tem sido o motor de nosso agro, Os demais setores e o governo tem que aprender com o agro e replicar as melhores práticas.

É inacreditável como estamos perdendo tempo com políticas sem pé nem cabeça como a de usar dinheiro público para dar desconto em carros à combustão para pessoas que não precisam disso. Ou alguém discorda que esses recursos seriam melhor empregados em saúde, educação e segurança pública? Ou ainda, algo feito para a economia verde, na qual somos forte candidato a ser um dos expoentes?

Falta-nos, na realidade, um projeto coeso com o que queremos ser no futuro. Escrevi sobre o que o governo deveria fazer para deixarmos o passado e nos tornarmos o país do futuro; onde atuar para o bem do maior número de brasileiros.

Esse projeto passa por escolher os setores do futuro, como tecnologia e inteligência artificial, e nele concentrarmos esforços públicos, privados e de educação.

Temos a maioria dos ingredientes para melhorarmos como nação – terra, muita gente, recursos naturais, capacidade e excelência. Falta-nos liderança política séria (porque tudo passa por isso e é feito ou destruído através disso – veja o livro Porque as nações fracassam, de Daron Acemoglu e James Robinson) e que pense em questões estruturais e não eleitoreiras.

Para esse último desafio, tenho esperança e fé em dias melhores, mas não tenho sugestão prática além de lutarmos por educação e conscientização política (processo lento).

Concluindo: precisamos melhorar como nação.

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