Para analista técnico, varejista tem de “correr atrás” para recuperar confiança do mercado após revisão de balanço mostrar prejuízo de R$ 12,9 bilhões em 2022
A Americanas [AMER3] divulgou nesta quinta-feira (16) que seu prejuízo líquido em 2022 foi de R$ 12,9 bilhões, quase um ano após a descoberta das fraudes contábeis nos resultados financeiros em janeiro deste ano. Em 2021, o lucro líquido de R$ 544 milhões se transformou em prejuízo de R$ 6,2 bilhões.
Ainda assim, a CFO da varejista, Camille Faria, lançou discurso otimista, afirmando esperar acordo com credores em dezembro e que a companhia terá forte capitalização em 2024.
“Americanas continua […] quebrada na questão de confiança de mercado, que, para mim, vale mais do que o balanço da empresa”, contrapõe João Tonello, analista técnico e fundamentalista. Para ele, a empresa deve seguir apresentando resultados negativos em 2023 e 2024, o que pode se estender até 2025 caso a questão da confiança do mercado não seja resolvida.
A atual gestão da varejista declarou que “um time de assessores jurídicos externos realizou uma análise criteriosa e identificou que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela gestão anterior”, destacando que isso ocorreu “com esforços dos envolvidos em ocultar sua real situação patrimonial”.
Outro ponto trazido por Tonello foi o Ebitda – lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização – fraco da Americanas. O indicador ficou negativo em 2022 em R$ 6,2 bilhões. “Se a empresa tem um Ebitda negativo, significa que algo operacional da empresa não está tão interessante para gerar lucro”.
Tonello acredita que isto é mais um fator que enfraquece qualquer tese positiva sobre a companhia. “A gente vê uma empresa extremamente endividada, com fraude no balanço, com resultados ruins em 2021, que piorou em 2022 e ainda não tem perspectivas de melhora em 2023.”
E no técnico?
Muito se fala sobre a situação fundamentalista da Americanas, mas no técnico, a ação também sofreu em 2023. Desde 2020, AMER3 vem em queda progressiva. No entanto, foi em 2023 que a companhia levou seu maior golpe.
Em 12 de janeiro, quando o rombo foi descoberto, o ativo caiu quase 80%, passando de R$ 12,00 para R$ 2,72.
Mesmo com a notícia sobre os prejuízos bilionários em 2021 e 2022, o ativo da varejista subiu X% nesta quinta-feira. A principal motivação para o desempenho foi a queda dos juros futuros, que acabou beneficiando a ação. Além disso, o mercado parece aliviado por finalmente ter em mãos os balanços ajustados, após tantos adiamentos.
Segundo Filipe Borges, analista técnico, AMER3 está consolidado desde o final de setembro entre os R$ 0,68 até os R$ 0,95. Ao olhar o curto prazo, pode-se desenhar uma linha de tendência de alta (LTA) desde o período, com a ação encontrando uma resistência nos R$ 0,95, explicou o especialista.
“No momento eu não vejo nenhuma operação para realizar no ativo”, declarou. Para quem já é posicionado na ponta compradora, ele indica um stop abaixo dos R$ 0,79 e para novas compras, prefere aguardar um fechamento acima dos R$ 0,95 com aumento de volume.
“Vale ressaltar que o ativo tem uma cotação muito baixa e isso prejudica um pouco o gráfico do ativo e a análise dele também.”
Tonello acredita que, no Brasil, o melhor papel do setor varejista – mesmo ainda enfrentando problemas – é o Magazine Luiza [MGLU3]. Por outro lado, ele deixa claro que dentro do varejo, a melhor oportunidade está no BDR do Mercado Livre [MELI34].