Cordão umbilical financeiro: já adultos e ainda recebendo dinheiro dos pais

Quase 60% dos pais fornecem ajuda financeira aos seus filhos adultos, descobriu um novo estudo

Os pais sempre apoiaram seus filhos até a vida adulta, desde financiar casamentos até comprar uma casa. Agora, o cordão umbilical financeiro se estende muito mais tarde na vida adulta.

Aproximadamente 59% dos pais disseram que ajudaram financeiramente seus filhos jovens adultos no ano passado, de acordo com um relatório divulgado na última quinta-feira (25) pelo Pew Research Center, que se concentrou em pessoas com menos de 35 anos. 

Mais jovens também estão vivendo com seus pais. Entre adultos com menos de 25 anos, 57% vivem com seus pais, um aumento em relação aos 53% em 1993.

O apoio dos pais continua até mais tarde na vida porque os jovens adultos agora levam mais tempo para atingir muitos marcos da vida adulta – e chegar lá é mais caro do que foi para as gerações passadas, disseram economistas e pesquisadores. 

Também há uma lacuna de riqueza maior entre os americanos mais velhos e os mais jovens, dando a alguns pais mais meios e razão para ajudar. Em resumo, a vida adulta não significa mais sair da folha de pagamento dos pais.

“Essa transição tem acontecido cada vez mais tarde, por muitas razões diferentes. Agora é aos 25, 30, 35, 40 anos”, disse Sarah Behr, fundadora da Simplify Financial Planning em São Francisco.

Kami Loukipoudis, diretora de design de 39 anos, e seu marido Adam Stojanik, professor de ensino médio de 39 anos, sabiam que precisariam da ajuda dos pais para comprar no mercado imobiliário caro de Nova York.

“Nós poderíamos pagar uma hipoteca, mas a entrada era o verdadeiro obstáculo”, disse Stojanik. “A ideia de tentar economizar por conta própria – enquanto pagávamos aluguel em NY – levaria 300 anos.”

A mãe de Loukipoudis deu-lhes o dinheiro para uma entrada de 10% em um apartamento de dois quartos no bairro nova-iorquino do Queens.

A mesada dos jovens adultos

Os filhos adultos não necessariamente estão recebendo salários maiores que seus pais, mas estão permanecendo na folha de pagamento dos pais por mais tempo do que as gerações anteriores, de acordo com Marla Ripoll, professora de economia na Universidade de Pittsburgh, que estudou a tendência analisando os pagamentos dos pais para os filhos adultos ao longo de 20 anos.

Ripoll descobriu que 14% dos filhos adultos recebem uma transferência de dinheiro de seus pais pelo menos uma vez em qualquer ano, e cerca da metade recebe ajuda financeira em algum momento dentro desse período. Essas taxas têm se mantido estáveis ao longo dos anos. 

O que mudou é que as transferências agora continuam por muito mais tempo, ela descobriu. Essa ajuda de longo prazo pode ser um obstáculo para a mobilidade social, tornando ainda mais difícil para os jovens de famílias de baixa renda alcançarem um nível igual, disseram os pesquisadores.

Dos filhos adultos jovens que disseram ter recebido ajuda financeira de um dos pais no último ano, a maioria disse que utilizou o dinheiro para despesas domésticas do dia a dia, como contas de telefone e assinaturas de serviços de streaming como Netflix, de acordo com a pesquisa do Pew.

A quantia de dinheiro e a frequência da ajuda variam de acordo com a idade: aqueles no extremo mais velho da faixa etária de 18 a 34 anos são muito mais propensos a dizer que são completamente independentes financeiramente de seus pais em comparação com os filhos adultos mais jovens, já que muitos deste último grupo estão concluindo sua educação. 

Quase um terço dos filhos adultos jovens entre 30 e 34 anos dizem ainda receber ajuda dos pais.

Heather McAfee, uma fisioterapeuta de 33 anos em Austin, Texas, disse que morou em casa entre 2019 e 2021. Caso contrário, não teria conseguido progredir no pagamento de seus empréstimos estudantis enquanto os preços dos aluguéis em sua região permaneciam tão altos. O plano deu certo – ela reduziu seu saldo de dívida estudantil de US$ 83.000 para US$ 15.000 desde então.

“Isso ajudou tremendamente”, disse ela. “Eu não precisei pegar mais empréstimos para pagar aluguel ou algo do tipo. Aquela pressão desapareceu.”

Estabelecendo limites para ajuda financeira

Apenas um pouco mais da metade dos pais entrevistados afirmaram que ter seus filhos adultos em casa os aproximou ou melhorou seu relacionamento, mas quase 20% disseram que isso afetou suas finanças pessoais.

Os consultores financeiros frequentemente se encontram em uma posição delicada de falar com ambos os lados da equação: filhos adultos que precisam de assistência e os pais determinados a ajudar os filhos até a meia-idade, dentro de limites.

As famílias geralmente não estabelecem regras concretas sobre quando a ajuda financeira acontecerá e para que o dinheiro será usado, o que pode resultar em surpresas no futuro, disse Behr.

Em um caso, os clientes de Behr receberam a entrada necessária para comprar um apartamento de uma sogra generosa. Anos depois, essa mesma sogra disse a eles que esperava um pagamento quando o casal vendesse a casa.

O pagamento de segunda mão

O auxílio para dar entrada – algo comum para muitos compradores de primeira casa – está aumentando devido aos preços mais altos das casas e às taxas de hipoteca elevadas. 

Cerca de um quinto dos compradores da primeira casa disseram que receberam ajuda de um parente ou amigo ao juntar o dinheiro necessário para a parcela, de acordo com uma pesquisa de 2023 com compradores e vendedores de imóveis da Associação Nacional de Corretores. 

E 38% dos compradores com menos de 30 anos receberam ajuda dos pais para a entrada, segundo uma pesquisa realizada na primavera pelo Redfin.

Famílias com mais dinheiro frequentemente vão além de ajudar com a entrada. Elas se tornam um verdadeiro banco e pagam a hipoteca. O Serviço de Receita Federal estabelece níveis mínimos de juros para tais empréstimos, que permanecem significativamente mais baratos do que as taxas de juros atuais de hipotecas. 

Timothy Burke, diretor executivo da National Family Mortgage, que facilita tais empréstimos, disse que os pais frequentemente estão frustrados em nome de seus filhos que estão procurando casa. As altas taxas de juros e o mercado imobiliário acirrado estão impedindo seus filhos de alcançar um marco que os próprios pais foram capazes de acessar mais facilmente.

Mei Chao, uma dona de casa de 41 anos, e seu marido, William Chao, especialista em tecnologia da informação com 44 anos, compraram sua primeira casa como casal em 2017. 

Eles contaram com a ajuda financeira das duas irmãs de seu marido e de sua mãe para preencher uma lacuna em sua linha do tempo de compra da casa. Enquanto aguardavam a venda do apartamento de William em Manhattan, eles usaram o dinheiro da família para comprar a nova casa no Queens.

A estrutura dos acordos ficou complicada. Após vender o apartamento em Manhattan, Mei e seu marido conseguiram reembolsar suas irmãs integralmente. Mas eles não tinham dinheiro suficiente da venda para fazer o mesmo pela mãe de Mei.

Então, eles mantiveram o nome da sogra no registro da casa – uma concessão que Mei disse que ambos estavam mais do que felizes em fazer.

“No final, tudo deu certo. Fico feliz que a mãe dele nos pressionou”, disse Mei. “Sem a ajuda dela, não posso dizer que teríamos esta casa.”

(Com The Wall Street Journal; Título original: Well Into Adulthood and Still Getting Money From Their Parents)