Com um impressionante salto de 135% em fevereiro, as ações ordinárias da Oi [OIBR3] traçam nesta quinta-feira (22) o quinto dia seguido de alta – as preferenciais [OIBR4] também. Há ideias de quais sejam os motores da valorização recente, no entanto é praticamente consenso no mercado que a empresa continua uma não opção de investimento.
A premissa é verdadeira mesmo para operações de curto prazo. O analista técnico Filipe Borges concorda que OIBR3 teve uma “excelente movimentação de alta” nos últimos dias, todavia ressalta não ver, graficamente, nenhuma oportunidade de compra para o papel no momento.
Condições para trade em OIBR3
A ação está em região de sobrecompra – isto é, excessivamente valorizado –, podendo descambar para uma forte reversão com a mesma rapidez com a qual subiu. Do prisma da análise técnica, explicou Filipe, OIBR3 se tornaria interessante se, após a valorização expressiva, houvesse uma correção saudável, geralmente entre 50% e 61,8% de toda a movimentação observada.
Definitivamente não foi o caso no impulso de agora. “O ativo simplesmente subiu e deixou stop muito caro”, de modo que qualquer stop na ação hoje seria superior a 10%, 15% ou até 20% abaixo do total da cotação de hoje.
Filipe também recomenda enfaticamente ler sobre os fundamentos da Oi antes de mantê-la na carteira.
O futuro da Oi
O prisma fundamentalista é outra razão para receio com a Oi. Quer dizer, não para o Bradesco BBI, dona da única recomendação de compra para OIBR3 catalogada pela Bloomberg.
O BTG Pactual tem posição neutra, o Santander indica venda, e outras casas de research sequer consideram a companhia digna de atenção hoje. “Acreditamos que é um case difícil demais, e acaba não recompensando o esforço de acompanhar”, declarou Sérgio Neto, analista da Capitalizo, ao TradeNews.
Os mais de seis anos de processos não resolveram todos os problemas da companhia, que fechou 2022 com saldo devedor de R$ 22 bilhões, e o analista João Tonello vê o futuro repetir o passado. Assim como a Oi saiu da primeira recuperação sem força suficiente para fazê-lo, a projeção dele é que a empresa continue quebrada ao sair do segundo processo.
Ainda assim, Tonello faz votos de que a RJ atual efetivamente recupere a companhia, “porque, até agora, a gente não tem essa certeza”.
A nova versão do plano de recuperação judicial foi apresentada em 6 de fevereiro. O novo plano, explicou Tonello, tem o objetivo de levantar mais de R$ 15 bilhões através da venda de ativos, incluindo a operação de banda larga (Oi Fibra), a participação na V.tal (empresa de rede neutra), além de imóveis e outros bens.
Por que OIBR3 subiu tanto?
Em fato relevante publicado na última quarta-feira (21), Oi enumerou possíveis razões para seus papéis subirem tanto no mês. A lista inclui a divulgação do novo plano de RJ e a convocação de Assembleia Geral de Credores para 5 de março, publicada em 16 de fevereiro.
Mas o principal burburinho gira em torno da compra de participação significativa na empresa por meio da Trustee Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM). A gestora comunicou ontem o aumento de sua participação acionária para 5,14% do total das ações ordinárias.
Em entrevista ao Valor, uma pretensa fonte que acompanha de perto o processo de recuperação judicial da Oi confirma que o fundo da Trustee que adquiriu participação na companhia está a serviço de Nelson Tanure.
A aquisição divulgada ontem deve tornar a Trustee o maior acionista individual da Oi. Em comunicado, a gestora disse tratar-se de um investimento com a intenção de contribuir para “uma ampla solução para o soerguimento dessa relevante instituição de serviço público em todo o território nacional”.
A gestora comprou a participação por meio do Fundo de Investimento Financeiro em Ações Nova Oi, criado pela Trustee em janeiro. De acordo com a Exame, o Nova Oi tem apenas dois cotistas, cujos nomes não são revelados.