Por Lucas Fernandes
Nos últimos anos, o Brasil tem observado um aumento significativo no número de pessoas envolvidas em apostas esportivas, especialmente com a popularização das plataformas digitais, conhecidas como “bets”. Embora essas casas de apostas ofereçam a promessa de ganhos rápidos e emocionantes, elas também têm sido responsáveis pelo endividamento crescente de muitos brasileiros. A combinação de publicidade massiva, fácil acesso às plataformas e falta de regulamentação tem contribuído para que uma parcela considerável da população se afunde financeiramente nesse tipo de atividade.
O mercado de apostas esportivas no Brasil explodiu após a regulamentação parcial da atividade em 2018, através da Lei 13.756. Desde então, diversas plataformas estrangeiras de apostas se estabeleceram no país, oferecendo promoções, bônus e facilidade de uso em seus aplicativos. Com o advento da internet e o uso crescente de smartphones, o acesso às apostas esportivas se tornou mais prático e, consequentemente, mais tentador para a população.
Esse fenômeno tem sido impulsionado pela presença massiva de propagandas, muitas vezes envolvendo celebridades e grandes influenciadores digitais, que retratam as apostas como uma forma fácil de ganhar dinheiro, sem dar a devida atenção aos riscos envolvidos. No Reino Unido, um mercado mais maduro onde as apostas foram regulamentadas há 19 anos, o gasto com marketing gira em torno de 20% da receita bruta. Nos Estados Unidos, onde o mercado de apostas ainda está em expansão, as empresas ainda investem cerca de 30% de suas receitas em marketing.
Estudos e levantamentos recentes apontam que o perfil médio do apostador brasileiro é formado majoritariamente por homens jovens, entre 18 e 35 anos, que enxergam as apostas esportivas como uma alternativa de entretenimento e, em muitos casos, como uma possibilidade de complementar a renda.
Contudo, essa prática tem levado muitos brasileiros a gastarem mais do que podem. As apostas esportivas, que inicialmente podem parecer inofensivas, podem evoluir rapidamente para uma forma de dependência. Segundo o Banco Central, 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família apostaram R$ 3 bilhões. A média mensal de 2024 de gastos com essas apostas, superam os R$ 20 bilhões. O vício em apostas tem semelhanças com outros tipos de vício, como o álcool e as drogas, afetando a saúde mental dos indivíduos.
O aumento do endividamento entre apostadores é preocupante. Segundo dados de uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), em torno de 30% dos brasileiros que apostam regularmente nas plataformas online estão enfrentando dificuldades financeiras como resultado dessa prática. Muitos apostadores acabam utilizando recursos de crédito, como cartões e empréstimos, para continuar jogando, o que agrava ainda mais a situação.
Essa dependência financeira das apostas não afeta apenas o indivíduo, mas também suas famílias. A pressão por tentar recuperar o dinheiro perdido leva muitos a continuarem apostando, criando um ciclo vicioso de perda e mais apostas. Há inúmeros relatos na internet de pessoas que venderam casa, carro, geladeira, micro-ondas e até brinquedos dos filhos, para apostarem. Esse comportamento tem causado tensões familiares, endividamento crônico e, em alguns casos, até depressão e suicídio.
Embora o Brasil tenha avançado na legalização das apostas esportivas, ainda há um vazio regulatório significativo. As casas de apostas, muitas das quais sediadas em outros países, operam sem uma fiscalização rigorosa e sem regras claras que protejam os apostadores brasileiros. Além disso, não existem mecanismos eficazes para controlar ou limitar o acesso de pessoas vulneráveis ou para oferecer ajuda adequada àqueles que desenvolvem dependência do jogo.
Diferentemente de outros países que possuem legislações mais rígidas, o Brasil ainda está em uma fase inicial de regulação, o que faz com que os apostadores tenham pouca ou nenhuma proteção contra práticas abusivas das empresas de apostas. Em países como o Reino Unido, por exemplo, já há mecanismos como limites de apostas diárias e restrições a promoções, mas no Brasil, essas medidas ainda estão sendo discutidas.
Uma das principais maneiras de combater o crescente endividamento em apostas esportivas é a educação e a conscientização. O governo, em parceria com instituições de saúde e financeiras, deve promover campanhas para alertar sobre os riscos das apostas e fornecer informações sobre como identificar e tratar o vício em jogos de azar.
Além disso, é essencial que as escolas e famílias discutam mais abertamente o tema, para que os jovens, o principal público dessas plataformas, entendam as armadilhas envolvidas. A educação financeira, em particular, pode ajudar a prevenir que mais pessoas caiam nas armadilhas das promessas fáceis de ganho que as plataformas de apostas oferecem.
As apostas esportivas estão se tornando uma prática cada vez mais comum no Brasil, mas o que inicialmente pode parecer uma forma divertida de entretenimento tem mostrado um lado sombrio. O endividamento de brasileiros em casas de apostas é uma realidade preocupante que precisa ser enfrentada com seriedade e responsabilidade.
A regulamentação mais eficaz, junto com campanhas de conscientização, pode ajudar a mitigar os danos causados por esse fenômeno. Além disso, é crucial que as pessoas entendam que, embora as apostas possam ser tentadoras, elas não são um caminho viável para resolver problemas financeiros e podem, ao contrário, ser uma fonte de novas dificuldades.
O texto trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.