A chamada “super quarta” promete movimentar os mercados globais nesta semana, com decisões simultâneas do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed). No Brasil, a expectativa majoritária é de manutenção da taxa Selic em 15% ao ano, enquanto nos Estados Unidos a autoridade monetária deve anunciar o retorno do ciclo de cortes, reduzindo os juros em 0,25 ponto percentual.
Segundo analistas, a decisão do Copom deve refletir um cenário de avanços na desinflação, mas ainda insuficientes para justificar uma flexibilização da política monetária. Já no caso do Fed, a fraqueza do mercado de trabalho e do consumo das famílias reforça a leitura de que a taxa de juros americana precisa recuar gradualmente para sustentar a atividade econômica.
Brasil: Selic deve permanecer estável em 15%
Desde a última reunião, indicadores domésticos mostraram algum alívio. O pico da inflação já ficou para trás, o câmbio se valorizou em relação a pares emergentes, as expectativas de inflação começaram a ceder e a economia perdeu fôlego.
Para Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, “os avanços ainda não justificam uma mudança de postura do Banco Central. O último comunicado sequer descartou a possibilidade de alta da Selic — improvável, mas usado como sinalização de firmeza na condução da política monetária”.
Entre os desafios, o mercado de trabalho segue apertado e a inflação de serviços roda a 5,8% em 12 meses, acima do teto da meta. Além disso, estímulos fiscais previstos para o segundo semestre, como o pagamento de precatórios, reajuste de servidores e liberação de emendas, podem pressionar ainda mais a política monetária.
A expectativa, segundo Saadia, é de um comunicado menos duro, com queda na projeção de inflação do Banco Central de 3,4% para 3,3% em 2025. A mensagem central deve ser a de que a taxa Selic atual é suficiente para garantir a convergência da inflação no horizonte relevante.
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Estados Unidos: Fed deve cortar juros em 0,25 ponto
Do outro lado, o Federal Reserve deve anunciar na quarta-feira (17) o primeiro corte de juros desde 2024. A projeção predominante é de redução de 25 pontos-base, levando a taxa para o intervalo entre 4,75% e 5% ao ano.
Leandro Manzoni, analista de economia do portal Investing, destaca que a decisão vem após “a fraqueza do mercado de trabalho e a perda de força do consumo das famílias”, fatores que reforçam a necessidade de estímulo monetário.
Além da taxa básica, o Fed divulgará suas Projeções Econômicas trimestrais. No último documento, a expectativa era de dois cortes de 0,25 ponto nas três reuniões restantes de 2025. O mercado agora considera esse cenário praticamente certo. Para 2026, as apostas variam entre dois e três cortes adicionais, que poderiam levar a taxa de juros americana para 3% ao ano.
Segundo Manzoni, “nada impede que a inflação continue subindo e os EUA caminhem para um cenário de estagflação, deixando o Fed no dilema de manter a taxa em nível neutro ou em patamar restritivo para combater preços elevados”.
Impactos globais e dilemas à frente
As decisões do Copom e do Fed acontecem em um contexto em que bancos centrais equilibram o combate à inflação com a necessidade de sustentar o crescimento. No Brasil, a Selic em 15% limita o crédito e o consumo, mas funciona como barreira contra uma inflação de serviços persistente. Já nos EUA, o risco é que cortes graduais não sejam suficientes para evitar baixo crescimento combinado a inflação resiliente.
O resultado da super quarta tende a impactar diretamente câmbio, bolsa e curva de juros, tanto no Brasil quanto no exterior. Para investidores, o foco estará não apenas nas decisões desta semana, mas principalmente nas sinalizações sobre os próximos passos da política monetária.