A Amazon aposta alto no Prime

O Prime Day pode dar um impulso necessário ao lado varejista, mas a AWS também precisa de uma mãozinha.

O fundador da Amazon Jeff Bezos gostava de citar o famoso investidor Benjamin Graham da seguinte forma: “No curto prazo, o mercado de ações é uma máquina de votação; no longo prazo, é uma balança.” A gigante do comércio eletrônico tem ficado aquém no último aspecto.

As ações da Amazon subiram 51% até agora neste ano, superando os pares de tecnologia Apple, Microsoft e a controladora do Google, Alphabet. 

No entanto, as ações também ficaram atrás dessas três nos últimos anos e, exceto por um breve período no início da pandemia, não foram exatamente um desempenho excepcional antes disso. 

Entre as outras empresas de tecnologia com valor de mercado superior a US$ 1 trilhão, a Amazon é a única que ficou atrás do desempenho do S&P 500 nos últimos cinco anos, de acordo com a FactSet.

A extravagância de vendas do Prime Day – que acontece hoje e amanhã – pode impulsionar o lado varejista da Amazon, que viu seu crescimento de vendas estagnado em território de um dígito baixo na maior parte dos últimos dois anos, desde que desfrutou de um forte impulso no início da pandemia.

A Amazon nunca divulga as vendas reais do Prime Day, embora o evento deste ano ocorra após uma expansão significativa das capacidades de entrega no mesmo dia da empresa. 

O analista Youssef Squali, da Truist, prevê que o Prime Day deste ano gerará entre US$ 5,1 bilhões e US$ 6,3 bilhões em receita, em comparação com uma estimativa de US$ 4,4 bilhões de receita durante o evento do ano passado. 

Justin Post, da BofA Securities, projeta que as vendas do Prime Day para o negócio de varejo de primeira parte da Amazon crescerão 10% em relação ao ano anterior, enquanto as vendas de terceiros para o Prime Day aumentarão 14% em relação ao ano anterior.

No entanto, o Prime Day significa pouco para o pequeno, mas muito mais lucrativo negócio de computação em nuvem da Amazon chamado Amazon Web Services, ou AWS. E as dificuldades lá são mais recentes, à medida que as taxas de juros em alta e uma desaceleração da economia global forçaram os clientes corporativos a reduzir seus gastos com serviços em nuvem. 

O crescimento da receita da AWS atingiu o ponto mais baixo registrado, com 16% em relação ao ano anterior, no primeiro trimestre, e a empresa alertou em sua última teleconferência de resultados em abril que o crescimento estava se mostrando ainda mais baixo no segundo trimestre.

Grande parte do impulso recente das ações pode ser atribuída à crença entre os analistas de que a AWS está atingindo um ponto de inflexão. 

As estimativas de consenso de Wall Street indicam que o crescimento da AWS voltará a subir mais adiante neste ano e voltará a superar a marca de 20% na primeira metade do próximo ano, de acordo com as estimativas de consenso da FactSet. 

Em uma apresentação para investidores no final de maio, Mark Shmulik, da Bernstein, nomeou a Amazon como sua “melhor ideia”, descrevendo a AWS como “prestes a atingir o fundo e decolar”.

A empresa também não escolheu explorar tanto a febre da inteligência artificial generativa quanto seus concorrentes em nuvem, Microsoft e Google, mas isso também pode mudar em breve. 

Em uma entrevista à CNBC na semana passada, o CEO da Amazon e sucessor de Bezos, Andy Jassy, chamou a inteligência artificial generativa de “uma das maiores transformações técnicas de nossas vidas”. 

Em um relatório no mês passado, Brian Nowak, do Morgan Stanley, estimou que cerca de 7% dos clientes da AWS já estão comprando produtos e serviços relacionados à IA da empresa.

A AWS geralmente faz seus principais anúncios de novos serviços em sua conferência anual “re:Invent” em novembro. 

Isso poderia significar uma série de notícias sobre IA no final do ano que serviriam como mais um catalisador para as ações; a controladora do Google viu seu preço das ações subir 15% no mês seguinte à sua conferência para desenvolvedores com foco em IA em maio. 

No entanto, o Google não possui um gigantesco negócio varejista que gera US$ 450 bilhões em receita por ano. A Amazon precisa vender sua visão de IA enquanto também garante que uma grande quantidade de aviões e caminhões funcione no prazo certo.

(Com The Wall Street Journal; Título original: Amazon Has a Lot of Pumps to Prime)