A convergência perfeita para o recorde histórico do Ibovespa – os 140 mil pontos são logo ali?

Isabela Jordão

 

O marasmo no mercado brasileiro realmente acabou? O Ibovespa encerrou o pregão desta segunda-feira (19) na marca dos 135.940 pontos – quase dois mil acima do último recorde de fechamento, de dezembro passado, mas ainda assim abaixo dos 136.179 registrados ao longo do pregão, em nova máxima histórica intradiária. 

O misto da precificação de um pouso suave da economia americana, avaliação em geral positiva da temporada de balanços do segundo trimestre e mais uma série de fatores, incluindo a carta semestral da Squadra Investimentos, impulsionaram o índice para mais um ganho diário. Dos 13 pregões de agosto até o momento, nove foram positivos. 

Apesar da melhora do cenário macroeconômico, uma continuidade da valorização do Ibovespa não é consenso. 

Sobe ou desce?

No curtíssimo prazo, olhando para indicadores da análise técnica, estamos perto de uma exaustão do movimento de alta”, aponta Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed. Assim, ele destaca a possibilidade de ocorrer uma lateralização ou rápida queda do Ibovespa nos próximos dias.

Já para Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, a tendência de alta do Ibovespa tende a continuar no curtíssimo prazo, principalmente considerando que não há nenhum indicador econômico previsto para a semana.

Marco Saravalle, sócio e CIO da MSX Invest, vê possibilidade de realização de lucros para o Ibovespa em setembro, caso o Banco Central confirme alguma alta de juros até o fim do ano.

Por que o Ibovespa subiu?

O principal motivo é que cada vez mais se projeta que os EUA estão caminhando para um pouso suave, isto é, para reduzir a inflação sem que a economia entre em recessão. As expectativas precificadas apontam para um início dos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) na próxima reunião de política monetária. 

A dúvida já não é mais tanto se o Fed vai ou não cortar juros, mas o quanto. As apostas oscilam majoritariamente entre 0,25 e 0,5 ponto percentual para a reunião de setembro. Fica no radar ainda o Simpósio de Jackson Hole, evento anual do BC americano, com discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, na sexta-feira (23). 

Adicionalmente, Nova York teve um dia positivo nos mercados à vista e futuro, assim como as praças da Europa. 

Política monetária também é pauta por aqui. Há dúvidas se o Copom vai subir juros ou não em setembro, acrescenta Saravalle. “De um lado, pode ser uma leitura até positiva, mostrando que o Banco Central continua com uma alta credibilidade, focando na expectativa de inflação.”

Ao contrário dos EUA, recessão não preocupa no Brasil. A atividade econômica continua bem no país, exibindo a saúde das empresas, prossegue o especialista. Aliás, a temporada de balanços do segundo trimestre agradou no geral, o que contribui para o fôlego do mercado local. 

Expectativa do mercado de ocorrer cada cenário na reunião do Copom de setembro, em valores obtidos conforme metodologia de apreçamento da B3. [Fonte: B3]
Tivemos uma boa temporada de resultados, com muitas surpresas e número acima do esperado pelo sell side”, descreveu Leandro Petrokas. Ele também cita a queda do dólar e dos contratos de juros futuros hoje, assim como uma zeragem de posições vendidas. “Ou seja, mercado no modo risk-on nesta segunda.”

A Squadra Investimentos teve sua parcela de mérito no apetite ao risco na B3 hoje. As ações do Magazine Luiza [MGLU3] saltaram mais de 10% após a gestora expor em sua carta semestral, divulgada na noite de domingo (18) que zerou a posição vendida na varejista. 

Equatorial [EQTL3], Energisa [ENGI11], Vibra [VBBR3] e Rumo [RAIL3] também subiram na sessão. A carta trouxe visão positiva para cada uma das companhias, classificando as duas primeiras como “possivelmente as melhores empresas do segmento de distribuição de energia no Brasil” e a última como dona de uma ferrovia que é “um ativo único e irreplicável, fundamental para escoar a crescente produção do agronegócio do Centro-Oeste”. 

Houve hoje também a “feliz coincidência” de Vale [VALE3] ter se valorizado na sessão, diz Marco Saravalle. 

Com a alta de mais de 3% do minério de ferro em Cingapura hoje, após uma semana inteira de quedas, as ações da mineradora – as quais têm o maior peso dentro do Ibovespa – começaram a recuperar parte das perdas acumuladas nas últimas três semanas. Inclusive, surgiu entre os operadores de mercado a dúvida sobre se não seria agora o momento de voltar a investir nas empresas do setor de metais, completou o especialista. 

O que fazer?

Na MSX Invest, Saravalle tem sugerido aos investidores começar a colocar os lucros no bolso. “Alguns papéis já esticaram, já estão com outros múltiplos, talvez reduzindo a simetria daqui para frente”, justifica. Para os mais conservadores, ele recomenda por alguma dose de proteção nas carteiras diante dos níveis atuais de preço.

O gestor afirma não reduzir o otimismo, mas considera natural alguma dose de realização parcial de lucros frente às altas recentes. “Cabe pelo menos um rebalanceamento agora nas posições, colocar um dinheiro no caixa, mas não tomar decisão de sair da bolsa. Acho que o otimismo prevalece pelo menos no curto e médio prazo.”

Beto Saadia, por sua vez, recomenda um olhar mais amplo de apetite ao risco. “O mercado está vendo esse all-time high, esse recorde histórico de índice Bovespa, mas o índice small caps ainda está mais ou menos 50% atrás das suas máximas históricas.” A constatação é de que há “vários setores na economia que ainda não se beneficiaram desse novo cenário”.

No geral, Leandro Petrokas recomenda ao investidor fugir do comportamento de manada. Comprar ativos depois de uma forte valorização pode ser extremamente arriscado, diz. “Mesmo que seja  impossível cravar o ponto exato de virada do mercado, sabemos que comprar nas baixas e vender nas altas é mais seguro e mais tende a ser mais lucrativo no longo prazo.”

No fim, é indispensável ter um plano de investimentos e respeitá-lo. Afinal, tanto a euforia quanto o pânico podem levar o investidor a decisões que podem gerar prejuízos significativos. “Serenidade é a palavra-chave”, finaliza o especialista da Quantzed.

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