O serviço de streaming tem vantagem sobre os rivais, mas o aumento do preço das ações elevou as expectativas
Ser a Netflix hoje em dia é viver a estranha dicotomia de ser uma empresa que venceu a guerra, mas que ainda tem muitas batalhas a travar.
A empresa encerrou o terceiro trimestre com pouco mais de 247 milhões de assinantes pagantes – mais que o dobro do que a segunda maior empresa de streaming, a Disney, declara ter em seu serviço principal.
Essa vantagem parece insuperável no momento e, oficialmente, desencadeou uma disputa sobre como os segundos colocados serão classificados.
A Paramount está agora mantendo discussões sobre fusões – com a Warner Bros. Discovery, proprietária da Max, como apenas uma possibilidade. A Disney está pensando em assumir o controle da fatia da Hulu que ainda não possui.
Isso deixou algumas pessoas em Wall Street preocupadas com o fato de que mesmo os bons resultados não serão suficientes desta vez – a empresa planeja divulgar os resultados na tarde desta terça-feira (23) – e que até mesmo as projeções de longo prazo podem estar ficando fora de controle.
Jason Bazinet, analista do Citigroup, rebaixou as ações para uma classificação neutra em 9 de janeiro. “Em 2024 e 2025, Wall Street tem grandes expectativas para a Netflix”, escreveu ele.
Os analistas estimam que a Netflix adicionou 8,8 milhões de assinantes pagantes no quarto trimestre – praticamente o mesmo que no período anterior. Isso equivaleria a mais de 17,5 milhões de adesões em um período de seis meses, o que a Netflix não faz desde o primeiro semestre de 2020, com o início da pandemia.
Porém, a empresa ainda estava em meio ao lançamento de seu programa de compartilhamento de contas no final do terceiro trimestre, o que significa que ainda não havia solicitado que todos os usuários que compartilham senhas parassem ou comprassem.
Isso provavelmente ajudará na contagem de assinantes do quarto trimestre, embora os efeitos desse trabalho não sejam tão fortes em 2024.
Os analistas esperam que a receita da Netflix cresça 14% este ano e 11% no próximo ano, em comparação com o crescimento de 6% estimado para 2023.
Isso supera o crescimento projetado de assinantes de valor médio para esses dois anos e reflete uma aposta de que a Netflix pode usar sua posição de liderança para continuar obtendo mais receita por usuário.
Não é uma tarefa impossível, mas também não é uma tarefa fácil. O único desafio que a Netflix compartilha com seus rivais de streaming é a exposição às greves trabalhistas que paralisaram Hollywood durante a maior parte do ano passado, atrasando o lançamento de programas e filmes para o outono de 2023 e além.
O número de estreias de programas nos EUA em todas as plataformas de distribuição caiu 21% em 2023, de acordo com um novo relatório da empresa de pesquisa de mercado Luminate.
Parece provável que isso continue até este ano; a Ampere Analysis informou na sexta-feira que o número de temporadas de TV com roteiro produzidas nos EUA encomendadas em 2023 caiu quase 37% em relação ao ano anterior.
Como resultado, a Netflix e seus pares terão menos programação nova para atrair novos assinantes. E esses assinantes estão ficando mais seletivos.
O Wall Street Journal noticiou no início deste mês que as desistências mensais de clientes de serviços de streaming aumentaram mais de um ponto percentual, para 6,3% em novembro, em relação ao ano anterior.
Uma grande vantagem que a Netflix tem sobre seus rivais da mídia tradicional é um ramo de publicidade que só pode crescer.
Durante uma apresentação na conferência CES no início deste mês, um executivo da Netflix disse que seu plano com anúncios tem agora 23 milhões de usuários ativos mensais, em comparação com os 15 milhões registrados em 1º de novembro.
A Disney, a Warner e a Paramount também oferecem planos com anúncios, mas eles não estão nem perto de compensar a queda brusca na publicidade tradicional da TV e nas tarifas de TV a cabo que essas empresas estão sofrendo.
Entretanto, a concorrência também está aumentando para a Netflix em relação aos anúncios. A Amazon está lançando um plano com anúncios para seu serviço Prime Video no final deste mês.
E, ao contrário da Netflix, a opção do Prime com suporte de anúncios se tornará o padrão para seus espectadores, e aqueles que quiserem permanecer sem anúncios terão que optar por um novo plano que custará US$ 3 adicionais por mês.
O Morgan Stanley estima que isso resultará na conquista pela Amazon de cerca de 70 milhões de espectadores de publicidade nos EUA – três vezes mais do que a Netflix conseguiu acumular globalmente em pouco mais de um ano – logo de cara.
A guerra do streaming pode estar entrando em uma nova fase.
(Com The Wall Street Journal; Título original: Netflix Has Its Own Tough Act to Follow)