Desde a última reunião do Copom, não houve notícias que farão o Banco Central alterar o plano de voo. Mas tivemos novidades ruins no cenário. Algumas dessas ajudaram a piorar as expectativas de inflação e podem ser mencionadas no comunicado de hoje.
As despesas parafiscais preocuparam com o anúncio da política Nova Indústria Brasil. Nossa memória de políticas passadas industriais não é tranquilizadora e o risco de subsídios com critérios políticos é alto.
Há também aumento de incertezas geopolíticas com o desenrolar da guerra da Ucrânia, de conflitos no Oriente Médio e eleições americanas. Em 2024, o mundo atravessará mais de 60 eleições nacionais em curso, um recorde global. Serão mais de 6 bilhões de pessoas votando.
Outro risco no radar são os impactos climáticos do El Niño, que aceleraram o preço dos alimentos nas leituras de IPCA dos últimos dois meses. Afetaram safras de commodities relevantes no nosso país, que depende em boa parte do setor. E ainda devem trazer surpresas até o meio do ano.
Ainda projeto Selic a 9% até o fim do ano.
Pré-Fed
O Fed já pavimentou o caminho para queda de juros desde a última reunião. O debate agora é como será essa trajetória e principalmente a comunicação. O mercado americano virou o ano com uma expectativa de queda de juros bastante agressiva, atribuindo perto de 100% de chances de os juros caírem em março – hoje, flutuam abaixo de 50%.
Já nos primeiros dias do ano, o Fed fez seu papel essencial de banco central, que é de diminuir a volatilidade do mercado e ancorar expectativas, vindo a público, por meio de diferentes membros dos Feds regionais, esfriar os ânimos do mercado com um discurso mais duro, sem corroborar com a trajetória otimista projetada nos contratos futuros. O motivo é que esse otimismo exagerado afrouxa as condições econômicas e acaba contaminando novamente a inflação atrapalhando o trabalho de ancoragem do Fed.
Boa parte do discurso de quede de juros da última reunião do Fed não foi por conta de uma ancoragem completa das expectativas de inflação, mas sim de riscos econômicos em se manter um juro tão alto. Dados recentes de atividade, do mercado de trabalho, dos balanços e da própria bolsa teimam em refletir uma economia aquecida, confortando mais o Fed para um discurso mais hawkish hoje (duro, de menos quedas de juros à frente).