Após o Brasil interromper a exportação de carne para a China, maior mercado de exportação da pecuária nacional, os ativos dos frigoríficos brasileiros despencaram. A pausa na venda aconteceu após ser detectado uma suspeita de Encefalopatia Espongiforme Bovina, popularmente conhecida como “mal da vaca louca”, em uma propriedade do município de Marabá (PA).
O Ministério da Agricultura e Pecuária anunciou a suspensão na última quarta-feira (22), quando enviou amostras para testes no Canadá. Por enquanto, nenhum animal da propriedade no Pará foi abatido, o que significa que a carne não entrou no mercado. Mas a falta de um prazo determinado para a retomada das exportações, junto ao temor da perda de credibilidade, geraram preocupações.
Entre todos os listados, “sem dúvida nenhuma, o frigorífico que deve ser mais impactado é Minerva [BEEF3]”, devido à grande exposição ao gigante asiático, afirma Eduardo Jamil Rahal, head institucional de research na Levante Corp. “Uma parcela muito relevante da receita é direcionada à exportação para a China. Então, naturalmente é uma empresa que, com o fechamento imediato dessas exportações, sofre bastante”, explica o analista.
Apesar disso, Rahal aponta que Minerva tem diversificado bastante suas plantas, o que permite que ela escoe os produtos para outros países. “Ela tem feito até alguns investimentos mais recentes, sem necessariamente aumentar a alavancagem, com a própria geração de caixa. E isso é benéfico do ponto de vista da diversificação.“
No dia do anúncio, BEEF3 recuou 7,92%, a maior baixa do setor, seguida de BRF [BRFS3] com 6,71% de queda. Marfrig [MRFG3] caiu 4,71%, e JBS [JBSS3], 4,33%.
A expectativa é que o comércio entre os dois países volte a acontecer antes da visita do presidente Lula à China, que acontecerá no final de março. Apesar da preocupação do mercado, a interrupção no envio de carne por conta da doença é entendida como um gesto positivo pelos chineses.
“Essa paralisação é interessante porque eles [China] veem com bons olhos. É visto como uma segurança a mais para importação de alimentos na China, na qual o Brasil vai interromper os embarques caso encontre um único animal doente em todos os rebanhos do país. A ideia é meio que a seguinte: ‘quando encontramos o animal doente, paramos a exportação e só voltamos com o aval da China’”, explicam Diana Stuhlberger e Matheus Moraes, analistas do setor agropecuário da Eleven Financial.
O atual embargo deve reduzir o volume de exportações dos frigoríficos brasileiros, mas possivelmente aumentará o preço do produto exportado, de acordo com o head de análise fundamentalista da Benndorf Research, Niels Tahara.
Não é a primeira vez e não deve ser a última que a “vaca enlouquece” por aqui. Os últimos casos de suspensão ocorreram em 2019 e 2021, com duração de 13 dias e três meses, respectivamente. “No último embargo de três meses, que aconteceu no 4T21, a Minerva apresentou queda de volumes de 10,4% a/a, mas com aumento de 2,8% a/a na receita bruta devido aos maiores preços”, exemplifica Tahara.
“Além disso, dada a diversificação geográfica com presença em outros países da América do Sul, a companhia conseguiu aumentar de forma significativa o volume em outras plantas no continente, dada a sua capacidade de arbitrar as produções entre as plantas”, complementa o analista da Eleven.
Além do cenário atual, é necessário que os frigoríficos se preparem para novos casos parecidos no futuro. “Esse não é o primeiro surto da doença e nós não esperamos que seja o último”, afirma o analista da Levante, “simplesmente pelo fato de que é uma enfermidade que atinge animais em uma idade mais avançada, e, se nós olhássemos na lupa cada um dos gados aqui no país, a gente poderia encontrar mais casos.”