A trajetória do petróleo nos últimos três anos é um ótimo exemplo de que não é porque os especialistas do mercado estão em consenso que eles estão certos.
De acordo com Lucas Rego, diretor de Relações com Investidores da Athena Capital, não dá pra se levar tão a sério as previsões fruto de consenso entre os especialistas. Primeiro, porque é grande a chance de elas estarem erradas. Segundo, “porque opiniões consensuais são precificadas sem espaço para se ganhar dinheiro mesmo que os fatos se concretizem”.
É normal que o mercado requeira opiniões de especialistas e ajuste portfólios em vista delas. O grande perigo pode estar justamente na formação de um consenso, cuja probabilidade de indução ao erro é significativamente maior. “Quem não ajustou o portfólio quando previram que o juro no Brasil seria estruturalmente menor?”, questiona Lucas.
Todavia, como criticar os erros dos especialistas não ajuda em nada os investidores, ele expõe a metodologia da Athena de interpretação e alocação.
No exemplo do petróleo, ele começa por 2020, auge da pandemia, quando o barril do Brent foi às mínimas históricas. Era comum entre especialistas – em meio aos hábitos do “novo normal” e adoção do ESG e dos carros elétricos – a visão de que a commodity permaneceria em patamares inferiores ao passado.
“A demanda vai demorar a voltar, isso se ela sequer voltar”, disse o CEO da Shell em entrevista, recordou Lucas.
Irônica e curiosamente, o início da guerra na Ucrânia, em 2021, dissipou tais projeções. O Brent atingiu a cotação de US$ 120, à medida que as maiores economias do mundo impunham sanções à Rússia.
“Era comum especialistas comentarem que as sanções na Rússia implicariam em manter o petróleo em um preço superior ao passado”, aguçando temores sobre o cenário inflacionário mundial. Em entrevista à CNN americana, o analista de petróleo Matt Smith, da plataforma especializada em commodities Kpler, afirmou que os preços do óleo poderiam muito bem ficar nos três dígitos por bastante tempo.
Outro revés do destino em 2023. O Brent voltou à média de preço dos anos pré-pandemia, encerrando o ano passado abaixo de US$ 80. Ao longo do ano inteiro, explica Lucas, os preços de commodities em geral foram se normalizando, aliviando pressões inflacionárias e mudando previsões de cenários.
“Voltamos a patamares de preços que seriam vistos como normais nos anos pré pandemia.”
Agora, com as tensões no Irã, o especialista voltou a receber questionamentos sobre o futuro do petróleo. Lucas abre o jogo: na Athena Capital, a referência de preço do Brent é US$ 60 atualmente, bem abaixo da projeção majoritária no mercado financeiro em geral.
“O importante para nós é ver retorno em um preço que parece improvável”, no que os analistas da Athena chamam de “margem de segurança”. Assim, é possível gravitar para empresas com espaço para gerar valor através de ganhos de eficiência, redução de lifting costs, melhor alocação de capital e outros fatores que vão além do preço da commodity, destrinchou o diretor de RI.