A visão do mercado para o próximo presidente do Brasil

A partir das cartas de gestores e de pesquisa interna da XP Investimentos, o TradeNews teve acesso às perspectivas das principais gestoras de fundos do Brasil para o cenário político-fiscal do país do próximo ano

A menos de 20 dias para o primeiro turno das eleições, marcado para 2 de outubro, o mercado financeiro segue na eterna busca por portfólios “antifrágeis” – para utilizar a terminologia de Nassim Taleb –, independentemente de quem vista a faixa presidencial em 1º de janeiro de 2023.

A partir das cartas de gestores e de pesquisa interna da XP Investimentos, o TradeNews coletou as perspectivas das principais gestoras de fundos do Brasil para o cenário político-fiscal do país do próximo ano e as projeções de impacto no mercado de capitais.

Vista Capital

“O cenário brasileiro ainda está bastante nebuloso com possíveis impactos das eleições, mas onde a equipe pode extrair informações, a expectativa é de que mesmo com as bombas que estão sendo deixadas para o próximo mandato (com o exemplo do Fiscal), ainda há gordura suficiente para que haja uma boa margem para crescimento  que está reprimida nos preços atuais.”

Ibiúna Capital

“Após um rali relevante no ‘kit Brasil’ em meados de agosto, os prêmios de risco no país nos parecem relativamente estreitos à luz tanto da proximidade de eleição presidencial como da visão estruturalmente cautelosa e defensiva nos ativos do país que detemos há mais de um ano. Seguimos preocupados com os fundamentos do país diante da perversa combinação entre (i) ventos adversos vindos do exterior; (ii) incerteza acerca do regime macroeconômico (a âncora fiscal em particular) a vigorar a partir de 2023; e (iii) o ruído na esfera política com a proximidade da corrida eleitoral.”

SPX Capital

“Outra noticia bem recebida pelo mercado foi a melhora do presidente Bolsonaro nas pesquisas, apesar de ainda estar bastante atrás do ex-presidente Lula. Ainda acreditamos que Lula seja favorito para vencer as eleições e terá que endereçar questões muito relevantes uma vez eleito, como a definição de qual será a nova “âncora fiscal” que substituirá o teto de gastos, e como arrumará recursos para financiar sua agenda de gastos e investimentos (provavelmente por meio de uma reforma tributária). Tais incertezas fiscais nos mantêm cautelosos com o cenário, apesar de construtivos com a política monetária, dado que esperamos que o Banco Central inicie um ciclo de corte de juros no primeiro semestre de 2023.”

Gávea Investimentos

“No Brasil, estamos em uma situação peculiar. Saímos na frente no processo de normalização monetária. Ademais, medidas governamentais levaram a uma redução importante de preços administrados (combustíveis, energia e telecomunicações), em conjunção a um cenário mais benigno no que toca o preço internacional do petróleo e da gasolina no mercado interno. Isso tem levado a reduções importantes nas projeções de inflação do ano corrente e, por tabela, de 2023, tanto devido à sinalização de que a redução de impostos federais sobre combustíveis não deverá ser revertida, independente [sic] de qual lado ganhar as eleições, quanto a uma inércia menor e a um diagnóstico de que, passadas as eleições, um cenário de ruptura parece hoje pouco provável.”

Occam Brasil

“A aproximação da eleição presidencial motivou a sinalização da continuidade do pagamento dos benefícios mais elevados no programa Auxílio Brasil e do corte de impostos federais sobre combustíveis, confirmando nosso cenário  de maior estimulo fiscal no próximo ano. A diferença nas intenções de votos aponta para um quadro ainda passível de alteração, aumentando a incerteza sobre qual será o novo arcabouço fiscal.”

Kinea Investimentos

“No Brasil, mantemos posições nos setores de elétricas, petróleo, transportes e serviços. Estamos construtivos com o cenário até o final do ano, mesmo com a aproximação das eleições. Acreditamos que os preços são atraentes e os principais candidatos tem incentivos para adotar uma posição fiscal moderada no início do próximo mandato.”

Dahlia Capital

“Acreditamos que, ao longo dos últimos seis anos, o Brasil fez uma série de reformas que ainda trarão resultados  positivos para os próximos anos, como reforma da previdência, lei do gás, do saneamento e de telecom, a privatização da Eletrobras e a transferência para a inciativa privada de projetos de infra. A situação fiscal requer cuidado, mas a inflação (e a taxa de juros) alta continua sendo um dos principais problemas que o próximo governo  irá enfrentar. Diante desse cenário, mantemos uma visão otimista para ativos brasileiros, principalmente ações e a moeda. Porém, os riscos no cenário global ainda preocupam, o que nos impede de ter riscos muito além das posições neutras em nossas carteiras.”

Safari Capital

“Pensando nos desfechos e seus efeitos sobre a política econômica, Bolsonaro é mais do mesmo, mas com um pouco  menos do populismo fiscal que caracterizou a sua gestão nesses últimos meses. O governo carrega um paradoxo: para manter o discurso radical e uma postura anti-establishment (o que, sem dúvida, lhe dá capital político), o governo teve que fechar um acordo com o que há de mais atrasado na política brasileira.

“Já Lula representa os extremos dessa eleição. Do lado negativo, a avaliação econômica de muitos no seu entorno é, para dizer o mínimo, atrasada. Há matizes, é verdade, com parte defendendo o protagonismo do Estado no investimento e outros pregando uma expansão maior nas transferências aos mais pobres, mas sem contrapartidas fiscais. Independente [sic] do diagnóstico, a solução vem sempre pelos gastos.

“Não estamos minimizando a turbulência que virá nesse período, será uma eleição apertada, com alguns momentos  perigosos de radicalização. Mas, na normalidade democrática, que deve prevalecer, o que pode vir dos dois lados está longe do ótimo, mas é muito melhor do que está nos preços. E há um desfecho que pode ser bem positivo.”

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