Segurança, rentabilidade e riscos reduzidos são alguns dos principais atributos que levam investidores para títulos de renda fixa. A associação não está errada, mas pode estar incompleta. De acordo com os especialistas ouvidos pelo TradeNews, há ações na B3 tão rentáveis e seguras quanto uma debênture ou fundo imobiliário – com o adicional de uma precificação muito mais vantajosa.
Nos EUA, as ações de comportamento semelhante ao da debênture ganham o nome debenture-like stocks. Elas se caracterizam por um fluxo de retorno mais confiável que o de outros tipos de ações, de acordo com o glossário do portal estrangeiro Investopedia.
Assim como um título de renda fixa, as ações podem ter seu retorno decomposto em renda e ganho de capital, explica Thawana Califfa, analista da Módulo Capital. A diferença é que, enquanto a renda fixa traz retorno a partir do pagamento de juros em montantes e janelas pré-determinadas, as ações geram renda por meio dos dividendos.
Por vezes, prossegue ela, a ação de uma empresa dona de ativos imobiliários, como a Multiplan [MULT3], pode representar uma opção de alocação superior a um FII.
Além da administradora de shoppings, a analista da Módulo também vê o Itaú [ITUB4], maior banco do Brasil, e a Equatorial [EQTL3], holding do setor elétrico brasileiro que atua em diversos segmentos, como empresas que oferecem segurança e certo grau de estabilidade de fluxo de caixa, com sólido histórico de pagamento de dividendos.
Há outros exemplos, conforme enumera Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Empresas de concessões, como a CCR [CCRO3] e EcoRodovias [ECOR3], ou gestoras de ativos imobiliários, como Syn Prop e Tech [SYNE3].
Dada a natureza das empresas citadas, pode-se pode encarar as respectivas ações como tão seguras quanto uma debênture, não só como ativo mas também em recorrência de receita, completou Beto.
“A única diferença é que essas empresas não pagam uma receita mensal, um rendimento mensal. Pelo contrário, às vezes, elas guardam esses recursos em caixa justamente para investir e crescer em novos ativos. Isso é uma coisa que, por exemplo, o fundo imobiliário não faz.”
Assim, a taxa de retorno esperada para as ações compensa a falta de recorrência mensal. Usando o setor de shoppings como exemplo, Beto afirma que o potencial de retorno das ações da Allos [ALOS3] é superior ao de um fundo imobiliário de shopping.
Além dos rendimentos (ou yields), a depreciação do preço das ações é outro argumento a favor das ações ao invés de títulos como debêntures ou FIIs. Há maior aversão ao risco sobre ações por teoricamente os papéis serem mais voláteis, o que leva os ativos a serem negociados a preços mais baixos.
Porém, acrescenta Beto, quando há preços mais baixos em relação à qualidade e ao potencial de um ativo, tem-se rendimento maior do os ativos mais populares – como fundos imobiliários, fiagros e semelhantes. Por estes últimos pagarem rendimentos mensais e de recorrência linear, “eles acabam atraindo um público muito mais amplo, mais leigo e que enxerga, só pelo fato de pagar um rendimento mensal, uma segurança muito maior em relação à ação”.
A liquidez é uma das vantagens de ações do gênero em relação às debêntures, destaca Thawana. Em caso de necessidade de resgate, vender uma debênture no mercado secundário pode levar a um deságio significativo. “Além disso, no longo prazo, as boas empresas podem ajustar seus preços em resposta à inflação, protegendo os investidores contra a erosão do poder de compra, o que é menos comum em títulos de renda pré-fixados.”
A analista compara também as debenture-like stocks com fundos imobiliários – que, apesar de estarem na categoria de renda variável, são comumente usados para obtenção de renda passiva. “Fundos imobiliários proporcionam renda passiva estável, porém têm menos potencial de crescimento de capital e seus retornos estão diretamente ligados ao desempenho volátil do mercado imobiliário.”
Apesar do diferencial de segurança entre debêntures e ações não ser tão espaçado assim, ela lembra que ações são investimentos para longo prazo, portanto ficam sujeitas à volatilidades ocasionais. Dito isso, ela recomenda investir “em empresas que oferecem segurança e um certo grau de estabilidade de fluxo de caixa, com sólido histórico de pagamento de dividendos.”