Além da vitória judicial, OceanPact [OPCT3] se beneficiará do aquecimento do mercado global de embarcações de apoio

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Isabela Jordão

 

Uma vitória judicial contra a Petrobras [PETR3; PETR4] impulsionou as ações da OceanPact [OPCT3] em 8% na última sexta-feira (22). A decisão favorável, todavia, está apenas na superfície do que a HIX Capital crê ser um mar de oportunidades.

A gestora divide em duas frentes a tese de investimento na OceanPact, sendo o imbróglio na Justiça o primeiro fundamento. A outra justificativa para o investimento em OPCT3 é mais macroeconômica: enquanto o mercado global de barcos de apoio tem sido majoritariamente subabastecido, a empresa tem uma frota que pode ser recontratada a diárias de mercado mais elevadas que as dos atuais contratos.

Entre o mar e o tribunal

A decisão da semana passada refere-se à quebra de contrato da Petrobras com a Up Offshore – aquisição da OceanPact, em 2021, de oito embarcações, mais o litígio contra a Petrobras, por apenas por US$ 30 milhões – em relação ao barco de apoio Up Coral.  Em 2014, A Petrobras, em plena crise, descumpriu muitos contratos com empresas estrangeiras, explica Natan Franco, analista de investimentos da HIX.

A Petrobras deve indenizar a subsidiária da OceanPact em torno de R$ 580 milhões, que devem passar para R$ 400 milhões após desconto dos PIS/Cofins e Imposto de Renda.

Já havia consenso de que a jurisprudência estava a favor da OceanPact, mas o julgamento do processo com o UP Coral veio antes do previsto. Em apresentação para investidores em junho, a direção da companhia alertou que a disputa poderia levar de dois a seis anos.

Entretanto, a compensação da Petrobras referente à quebra do contrato sobre o Up Coral deve vir já em 2024.

Outra disputa relacionada à Up Offshore, desta vez quanto ao barco Turquoise, passou para a fase de apelação na 3ª instância no Superior Tribunal de Justiça. No total, cinco processos da OceanPact contra a Petrobras valem entre R$ 800 e R$ 900 milhões – quase 90% do valor de mercado da primeira, que supera em pouco R$ 1 bilhão.

A conclusão da disputa em torno dos valores projetados seria suficiente para quitar parte relevante da dívida da OceanPact, destaca Natan.

Muito petróleo para pouco barco

Além da vitória legal, há um horizonte macroeconômico de longo prazo muito favorável à OceanPact, segundo o especialista. O mercado global de embarcações de apoio offshore se encontra subabastecido.

Desde 2014, narram os especialistas da HIX, a construção de embarcações de apoio para petrolíferas empacou no mundo inteiro. Nove anos depois, a frota pré-existente obviamente está reduzindo com o envelhecimento dos barcos, ao mesmo tempo em que os investimentos em produção de petróleo offshore se recuperaram e devem crescer de forma relevante nos próximos anos, principalmente no Brasil.

De 2019 para hoje a frota global de barcos do tipo AHTS – embarcações de alta potência que atuam em reboque, manuseio de âncoras e transporte de suprimentos – reduziu em 14%, enquanto a frota de PSV – navios especializados no apoio às plataformas oceânicas e barcos maiores – reduziu 5%.

Por aqui, a Petrobras e outras companhias devem adicionar 24 navios-plataforma do tipo FPSO no Brasil apenas até 2027. Ainda na América Latina, as empresas internacionais de petróleo devem acrescentar mais 12 plataformas FPSO na Guiana – região com muitos projetos de águas profundas.

“Todas essas plataformas adicionadas demandam em média três embarcações de apoio”, descreveu Natan, mencionando também a criação de novos projetos offshore na África e no Mar do Norte.

Em linhas curtas, o mercado de embarcações de apoio tem visto aumento expressivo na demanda, sem qualquer sinal de alteração na oferta em vista pelo menos nos próximos cinco anos.

Os motivos são muitos. Primeiramente, o preço do aluguel diário dos barcos não incentiva a construção de novas embarcações. Se “o retorno não é razoável para justificar nova construção”, o preço tende a subir. Segundo a HIX, a diária de mercado precisaria aumentar cerca de 50% para fomentar novos barcos.

Adicionalmente, o número de estaleiros ativos no mundo reduziu em 65%, de aproximadamente mil para apenas 350, enquanto o tempo de construção aumentou de 17 meses em 2014 para três anos hoje.

Aproximadamente 61% da frota da OceanPact permanece contratada abaixo das taxas de mercado. À medida que os contratos forem gradualmente renovados, a expectativa é que o EBITDA suba dos atuais R$ 400 milhões em 2023 para em torno de R$ 600 milhões nos próximos dois anos.

Apenas como referência, a diária média dos contratos dos maiores barcos do tipo PSV na empresa está ao redor de US$ 25 mil, enquanto no último leilão da Petrobras as diárias atingiram quase US$ 41 mil, um aumento de 63%, que será capturado à medida que esses contratos forem renovados.

65% da frota da OceanPact está contratada com diárias abaixo das vigentes no mercado; último contrato termina em 2026. [Fonte: OceanPact]
O atual incentivo do mercado à procura de energia renovável de offshore wind é outro desestimulante à construção de novas embarcações de apoio offshore. A operação de plataformas offshore consiste em um “setor sujo”, de embarcações movidas a diesel.

Ainda não se sabe os requisitos necessários para adaptar os barcos às demandas ESG. Portanto, “as próprias empresas não vão querer investir agora sem saber exatamente qual será a propulsão requerida para daqui a dez anos, sendo que esses barcos duram de vinte a trinta anos”, pondera Natan.

Ademais, o financiamento para o setor está escasso e caro. A maior empresa global e com melhor perfil de dívida do setor, a americana Tidewater, recentemente precificou um bond de US$ 250 milhões, com vencimento em julho de 2028, a uma taxa de 10.375% ao ano em dólar. Com esse patamar de custo de dívida, a construção de novas embarcações fica inviável.

A quantidade de embarcações de apoio no livro de pedidos nos estaleiros hoje corresponde a apenas 3% da frota existente. Na direção contrária, o custo de operação dos projetos de produção de petróleo em águas profundas offshore caiu de forma relevante ao longo dos anos.

Em suma, quem precisa dos barcos da OceanPact está com mais caixa disponível, enquanto as condições para o mercado adicionar novas embarcações são impeditivas. A empresa, acrescenta Gustavo Heilberg, ainda está com as tarifas de aluguel das embarcações atrasadas.

“À medida que tenha seus contratos renegociados, OceanPact vai ter um aumento expressivo de receita.” Dado o nível de alavancagem operacional do negócio, parte significativa desse aumento de receita se converterá em Ebitda.

A HIX tem participação superior a 5% na companhia, adquirida em julho deste ano. OPCT3 “deveria valer 2,7 vezes o valor de mercado atual considerando um múltiplo de apenas 5x Ebitda 2026 e o valor dos créditos conta a Petrobras”, declarou o fundador e CEO da gestora, Gustavo Heilberg, diante da valorização de sexta-feira.

Atualmente a OceanPact negocia próximo a 5x Ebitda 2023, enquanto os principais competidores estrangeiros negociam de 7 a 9x.

Investir na companhia vale a pena mesmo para quem ainda não estava posicionado na ação, acrescenta o gestor. Ele menciona também que o valor de mercado da frota da OceanPact, segundo dados março, consiste no dobro do valor contábil da empresa, sendo que o valor das diárias e dos barcos continuaram apreciando desde então.

Valor contábil da OceanPact comparado ao valor de mercado da frota; dados de março de 2023. [Fonte: OceanPact]

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