Ambipar [AMBP3] vale o trade? O que vem depois do salto de 180%

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Isabela Jordão

 

Analista gráfico acende o alerta para provável gatilho de venda em breve

As ações da Ambipar subiram menos de 1% nesta quinta-feira (18), arrematando um salto acumulado de quase 180% nos últimos trinta dias, que reflete um combo de notícias e fatores técnicos. A performance surpreende, e pode atrair investidores na intenção de abocanhar uma parte do movimento. Mas, como nem tudo que reluz é ouro, os especialistas ouvidos pelo TradeNews não recomendam entrar no ativo agora.

A cautela vem tanto do lado técnico quanto fundamentalista. “Sigo pessimista no curto prazo, sem muitas expectativas para 2024”, diz Guilherme La Vega, analista e sócio da casa de research Arkad Invest, que mantém recomendação neutra para AMBP3. “Se tudo correr bem e a empresa interromper as aquisições, devemos ter uma companhia terminando de arrumar a casa em meados de 2025.”

A MSX Invest possuía ações da empresa em carteira há um tempo, sob a justificativa de um desconto gritante do preço ante os fundamentos – que hoje não se sustenta mais. Marco Saravalle, sócio e CIO da gestora, aconselha não entrar no papel, tanto por não haver mais a assimetria de antigamente quanto porque AMBP3 agora está sujeita a forte volatilidade.

Desempenho de AMP3 do IPO, em 2020, a 2024. [Fonte: Nelogica/Filipe Borges]
Se compras não fazem mais sentido, por outro lado as vendas entraram no radar. O analista técnico Filipe Borges explica que as operações de leilão de abertura nos papéis da Ambipar têm sido boas nos últimos dias, dado o volume de lotes. Ele hoje está mais inclinado a analisar um leilão para operar na ponta vendedora, caso haja lote igualmente considerável. “Acredito que a hora em que [AMBP3] corrigir, esta correção será na mesma força com que veio essa alta”, defende.

No vocabulário da análise técnica, correções são exatamente o que o nome sugere: um movimento posterior e na direção oposta a saltos ou quedas expressivas.

A ação se encontra em uma região de resistência na faixa dos R$ 24. Para quem está posicionado em Ambipar, a recomendação de Filipe é carregar o ativo, guiando-se pelas mínimas do gráfico diário e analisar operações apenas com fins de day trade. “Para novas operações de swing trade, eu aguardaria um pouquinho”, completa.

Filipe relata como tem visto soma considerável de pessoas tentando vender o papel desde que estava cotado entre R$ 12 e R$ 15. O cenário é atípico. A sequência de fatos que levaram ao rali de AMBP3 é curiosa.

Em 17 de junho, começou timidamente o fluxo de negócios que quase triplicou o valor da ação – se comparados os R$ 8,40 do fechamento do dia 14 com os R$ 24 de hoje. O volume negociado passou da média de R$ 1 milhão ou menos diários e bateu R$ 10 milhões em vários dias na primeira semana de julho.

A mudança coincidiu com o anúncio da empresa no dia 3. A Ambipar informou a aprovação de um programa de recompra de até 20,8 milhões de ações em até 18 meses. Pouco depois, no dia 10, o acionista controlador da empresa, Tércio Borlenghi Junior, divulgou o próprio aumento da participação na companhia. Em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ele informou a aquisição do correspondente a cerca de 6,47% do capital social total e votante, totalizando a posse de mais de 73% do negócio.

Como na montanha russa, quanto mais radical a subida, mas impactante é a descida. Dois dias após o anúncio de Tércio, AMBP3 registrou tombo de 16%, a maior queda desde o IPO, em julho de 2020.

Para completar, a gestora Trustee – que tem Nelson Tanure entre os cotistas – informou na mesma data a aquisição de 6,6% do capital social da Ambipar. A compra visa apurar a possibilidade de eventual intenção na participação do conselho de administração da Ambipar, de acordo com a asset.

O fluxo de notícias carrega um pano de fundo tão ou mais importante. O salto repentino das ações da Ambipar refletiu também um aumento inesperado nos preços do aluguel de ações (BTC) e a dificuldade de encontrar AMBP3 para locação. “Parece que, enquanto o Tércio adquiria grandes volumes de ações, ele também restringia o aluguel, o que pressionou os players com posição vendida”, explica Guilherme.

A subida vertiginosa da taxa de aluguel acelerou um chamado short squeeze, completou Saravalle, definindo o salto de 180% como puramente técnico. “Por fundamentos, a assimetria já se reduziu, praticamente não existe nesse patamar de preço.”

Na mesma linha, o analista da Arkad Invest não vê impacto das notícias nos fundamentos da Ambipar. Por outro lado, Guilherme vê o aumento da participação do fundador como “um enfraquecimento na governança da companhia”.

Isso porque o cenário já estava incerto. Nos últimos anos, a Ambipar fez cerca de 70 aquisições, o “tem 100%” a ver com a desvalorização da ação, nas palavras de Saravalle.

“O maior impacto das aquisições para a desvalorização do papel foi a piora da estrutura de capital, somado a um cenário de juros elevados, o que acaba penalizando essas empresas que têm grande parte do seu valor no longo prazo”, ponderou Guilherme La Vega.

Tanto a parte financeira quanto a operacional sofreram com o advento das aquisições. Além da alavancagem e da consequente necessidade de capital, retoma o CIO da MSX, a Ambipar enfrenta desafios em relação à integração das adquiridas.

A companhia, prossegue Marco Saravalle, tende a não realizar novas aquisições de grande impacto. “A gente conversou com o diretor há alguns meses”, relata. “Pode acontecer aquisições? Pode. Algo muito pontual, então eles costumam deixar um pouco mais aberto, mas o que deve acontecer é não ocorrer grandes aquisições.”

De todo modo, o grande foco da Ambipar agora é buscar a redução do endividamento em relação à geração de caixa, finaliza.

No início de junho, a companhia promoveu seu Investor Day, onde anunciou novo guidance, estimando crescimento da receita líquida de 10% em 2024, com a margem Ebitda aumentando pelo menos 3 pontos percentuais nos próximos 12 meses.

Guilherme La Vega considerou ótimos os anúncios feitos no evento. Para ele, contribuem para uma melhor percepção do mercado sobre a companhia, “que, na minha visão, nunca foi tão transparente”. Ele ressalta positivamente o departamento de Relações com Investidores da Ambipar: “vem facilitando o acesso ao mercado, o que é muito positivo para os acionistas”.

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