Apareceu no WSJ: Quer entender inflação? Olhe o preço do seu corte de cabelo

Custos crescentes nas barbearias e salões sinalizam que o problema da inflação não vai embora

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Donna Homann corta o cabelo de algumas pessoas desde 1970, quando cobrava apenas um dólar por cabeça.

Em janeiro, ela fez algo que não fez em quatro anos: subiu os preços em seu Side Door Beauty Salon de US$ 18 para US$ 20 por uma lavagem e corte unissex, e de US$ 14 para US$ 16 por estilização, que inclui escova e alisamento. O custo de vida de Donna está aumentando, assim como o custo de fazer negócios. O preço do corte de cabelo também tem que subir, diz ela.

Tendências econômicas no Side Door Beauty Salon, em Central Illinois, são más notícias para qualquer um em busca de alívio da inflação crescente. Um corte de cabelo é uma aquisição que nenhum consumidor americano pode importar. Quando os preços do corte de cabelo sobem, economistas dizem ser sinal de que a inflação se tornou profundamente atrelada à economia doméstica.Em maio, os preços dos cortes de cabelo registravam alta de 6,2% frente o ano anterior, de acordo com o Bureau of Labor Statistics, o maior crescimento anual desde 1982.Donna Hoffman diz que odeia subir preços, “mas não faço isso por hobby”. Entre as pressões encaradas por ela estão os custos com a pessoa que afia as tesouras – de US$ 25 para US$ 30 por lâmina – contas de água cada vez mais caras, preços mais altos de perucas e sprays de cabelo e fretes de xampu e produtos de estilização, que ela diz terem quase triplicado.Outro aumento nos preços poderia ajudá-la a se manter, mas na verdade apresenta um problema adicional. Alguns clientes já estão alargando o tempo entre os cortes, e Donna não tem certeza sobre quantos aumentos de preço eles podem suportar, dado o aumento do custo de vida.

“Eles se preocupam com dirigir pela cidade para chegar aqui. Eles estão preocupados se terão dinheiro suficiente para comer e viver”, afirma.

Muitos oficiais dos EUA culparam a alta dos preços nas forças globais, como interrupções na cadeia de suprimentos tão distantes quanto a China, que tornaram os chips de computador escassos e aumentaram o custo de carros e eletrônicos.

Amostragem da inflação do corte de cabelo ao redor do mundo [Gráfico: WSJ]
Cortes de cabelo mostram que há mais em jogo quando se trata de tendências de inflação estrutural.Entre 2010 e 2012, quando os EUA se recuperavam da recessão, o desemprego estava alto e a inflação, abaixo da meta de 2% do Federal Reserve. Os preços dos cortes de cabelo mal se mexeram na época, subindo apenas à medida que a última expansão avançava, o desemprego caiu e postos de trabalho ficaram cada vez mais escassos. No entanto, a escalada dos preços não chegou nem perto de ser tão aguda quanto as vistas hoje pelos clientes.Uma razão pela qual cortes de cabelo indicam questões econômicas maiores é que aluguel e trabalho, dois dos principais custos para barbearias e salões, são duas das maiores forças de preços na economia mais ampla. O Payroll representa cerca de 50% do orçamento de um salão médio e os pagamentos de aluguel ou arrendamento representam 20%, de acordo com Nina Daily, diretora-executiva da Professional Beauty Association, um grupo comercial do setor de beleza.“A maior parte dessa inflação está agora embutida no sistema de uma forma que levará tempo e esforço para se livrar”, comenta Stephen Cecchetti, professor de finanças internacionais na Brandeis University que rastreou a inflação para a Casa Branca na juventude quando os preços estavam em disparada nos anos 1970.Cortes de cabelo são um indicador útil, diz ele. Cecchetti menciona um ex-colega de seu tempo no Banco de Compensações Internacionais, sediado na Suíça, que tinha o hábito de cortar o cabelo sempre que viajava para o exterior. Visitar barbearias, afirma Cecchetti, “era como uma viagem de campo de economia”.Agora, o aumento do preço dos cortes de cabelo está correto com a estimativa de que a inflação subjacente – olhando além da volatilidade em setores como energia e alimentos – tem rodado bem acima de 5%, e não vai cair rapidamente. O agasalho do cachorro da família também está custando mais: o preço da tosa de animais de estimação subiu 7,4% em maio em relação ao ano anterior, de acordo com o Bureau of Labor Statistics.Muitos dos quase meio milhão de membros da Professional Beauty Association subiram os preços, Daily menciona. A associação ofereceu treinamentos sobre como aumentar preços sem alienar os clientes, por exemplo, aumentando as taxas de serviços individuais gradualmente, e não de maneira geral.

Lesley Rogers, que tem o próprio salão em Nova Orleans, pegou empréstimos do Paycheck Protection Protection Program para sair ilesa pandemia – a primeira vem em que o negócio se endividou desde a abertura em 2014, disse ela. Lesley se sentiu sem escolha a não ser subir o preço do corte de US$ 70 para US$ 80 alguns meses atrás. Quando o salão abriu, ela cobrava US$ 50. Ela agora considera outro aumento de US4 5 para compensar materiais como tintura de cabelo, que aumentaram de preço desde então.

“Não há nada que você possa fazer a não ser ajustar”, disse Lesley.

Visão ampla da inflação do corte de cabelo nos EUA [Gráfico: WSJ]
Antes da pandemia, o barbeiro de Vinny Frazetto em Bayside, NY, cortava o cabelo dele por US$ 20. Quando a loja reabriu após uma longa paralisação na pandemia, o corte subiu para US$ 25.Quando ele saiu da barbearia mês passado tendo gastado US$ 40, após US$ 30 o corte e US$ 10 de gorjeta, Vinny entendeu que deveria começar a ir com menos frequência. “A dor no bolso é desproporcionalmente mais agora do que no ano passado”, disse o coordenador de contas de RP.Em San Francisco, Shorty Maniace subiu os preços na J. P. Kempt Barber Social de US$ 55 para US$ 65 em maio e está considerando outro reajuste. Quando a barbearia abriu, em 2013, um corte padrão estava US$ 45. Ele diz que as pessoas regularmente saem do salão bufando após ouvirem o preço.
Shorty Maniace corta cabelo de um cliente [Gráfico: WSJ]
O aluguel de Maniace pelo salão subiu para US$ 800 por mês em junho. O salário-mínimo em San Francisco, salário inicial para o pessoal da recepção, subiu para US$ 16,99 a hora em julho. Ele também disse estar gastando mais com planos de saúde dos funcionários e taxas por clientes que pagam com cartão de crédito.“É realmente uma droga, porque a nós, donos de pequenos negócios, não convém tentar ser ganancioso”, disse Maniace, que tem cortado cabelos pelos últimos 34 anos.

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Versão em português por Isabela Jordão. Baseado no texto originalmente escrito por Rachel Wolfe e Jon Hilsenrath para o The Wall Street Journal.

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