A economia dos EUA pode estar caminhando para uma recessão – ou não. Os investidores vão ficar de olho nos lucros dos bancos para esclarecer o ponto.
Os grandes bancos começam a divulgar os balanços corporativos do segundo trimestre nesta semana, e o que os executivos dizem sobre o estado da economia pode importar mais para os investidores do que o lucro que as empresas relatarem.
Os executivos de bancos têm uma ampla visão da força da economia dos EUA, já que suas empresas analisam as finanças de milhões de lares americanos. Ultimamente, os banqueiros não estão em sintonia com a direção do país.
Há uma boa razão para discordância. O trimestre foi caracterizado por alguns dados econômicos promissores, como boa contratação e gasto do consumidor. No entanto, a inflação mais alta em décadas continua em fúria, prejudicando empresas e famílias, e as pessoas estão cada mais pessimistas em relação à economia.
A oscilação da economia chinesa e a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que virou os mercados de commodities de cabeça para baixo, estão injetando ainda mais incertezas na mistura. Apenas 19% dos líderes de empresas de médio porte estão otimistas com a economia dos EUA, de acordo com uma pesquisa divulgada no mês passado pelo JPMorgan. Há um ano, eram 75%.
Na última rodada de lucros bancários, em abril, o JPMorgan surpreendeu Wall Street ao reservar US$ 900 milhões em novos fundos para se preparar para a fraqueza econômica. Vale a pena observar se outros bancos vão seguir o exemplo desta vez.
Seja qual for o caso, espera-se que os lucros dos bancos sejam amplamente mais baixos, em parte porque os resultados do ano passado foram muito fortes. Na época, as negociações corporativas empurraram os bancos em Wall Street para grandes lucros, mas os líderes das corporações estão à margem agora. Há um ano, os bancos também estavam liberando parte do dinheiro que haviam reservado para o que temiam ser uma onda de empréstimos ruins, o que engordou os saldos finais.
Os seis maiores bancos dos EUA devem reportar, ao todo, US$ 27,2 bilhões em lucros no segundo trimestre, segundo a FactSet, uma queda de 10% em relação ao primeiro trimestre e de 35% em relação ao ano anterior.
O JPMorgan divulgará seus resultados trimestrais na quinta-feira (14), juntamente com o Morgan Stanley. Wells Fargo e Citigroup publicam na sexta-feira (15), enquanto Bank of America e Goldman Sachs reportarão na segunda-feira (18).
A inflação disparou durante o primeiro trimestre, mas os consumidores ainda gastaram bastante em seus cartões de crédito neste período.
Não está claro o que aconteceu no segundo trimestre.
O CEO do Bank of America, Brian Moynihan, disse no mês passado que os consumidores ainda têm bastante dinheiro e estão dispostos a gastar em itens caros, como viagens. Ainda assim, a confiança do consumidor continuou em decadência diante dos altos preços dos alimentos e da energia. O indicador de sentimento da Universidade de Michigan caiu em junho para o menor nível já registrado desde 1952. As pessoas que economizaram durante a pandemia começaram a usar as reservas para cobrir despesas.
Taxa de juros
As taxas de juros subiram expressivamente durante o segundo trimestre: o Fed elevou as taxas em meio ponto percentual no mês de maio e outro 0,75 ponto em junho. Outra alta é esperada para este mês.
Normalmente, taxas mais altas são motivo de comemoração para os bancos, pois eles ganham mais dinheiro com empréstimos quando as taxas sobem. Mas, desta vez, os investidores parecem temerosos de que os aumentos das taxas acabem em recessão. O KBW Nasdaq Bank Index caiu 23% até agora este ano, ficando atrás do S&P 500, que recentemente encerrou seu pior primeiro semestre em mais de cinco décadas.
Os empréstimos foram lentos durante a maior parte do período pandêmico, mas em algumas áreas estão começando a acelerar.
Os empréstimos comerciais e industriais em bancos dos EUA chegaram a US$ 2,7 trilhões no final de junho, segundo o Federal Reserve. Isso representa um aumento de 6% em relação ao final de março e de 9% em relação ao ano anterior.
Mas as originações de hipotecas estão desacelerando após um “boom” impulsionado pela pandemia nas vendas e refinanciamentos de imóveis. Altas taxas prejudicaram novas compras e tornaram o refinanciamento de hipotecas existentes menos atraente.
Investimento em bancos e trading
Os índices de Wall Street estão retornando ao modelo de altas pandêmicas. Embora as fusões e aquisições tenham se mantido firmes quando comparadas ao padrão histórico, a taxa caiu 24% em relação ao ano anterior no segundo trimestre, de acordo com a Dealogic. Pior, as ofertas públicas iniciais praticamente paralisaram. As taxas de investimento bancário provavelmente caíram de 45 a 50% em todo o setor no segundo trimestre, de acordo com analistas do Deutsche Bank.
No entanto, ainda há luz no fim do túnel para os bancos: a volatilidade nos mercados de ações, títulos e commodities deve dar um grande impulso às mesas de trading. No JPMorgan, a receita das negociações deve crescer de 15% a 20%, conforme dito por executivos em maio. O Citigroup espera que a receita comercial aumente mais de 25%.
(Wall Street Journal)