Se imagine daqui a 40 anos. Como acha que estará fisicamente? Ainda trabalhando? Fazer esse exercício mental, pensando no futuro com o máximo de detalhamento, pode ajudar na preparação para a aposentadoria, que deve ser iniciada o mais cedo possível, de acordo com o psicólogo financeiro Celso Sant’Ana.
Cerca de 11 milhões de brasileiros já estão à frente no assunto, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) publicados em junho deste ano. Entretanto, considerando que o país atualmente é composto por mais de 214 milhões de habitantes, o número é notoriamente baixo, representando apenas 5,3% da população.
O psicólogo afirma que o maior benefício de pensar na aposentadoria o quanto antes, é estar tranquilo sobre o fato de que, em algum momento posterior, não será possível ter a mesma força de trabalho, dedicação e energia.
Porém, ele continua, o pensamento imediatista é tão comum, que a ideia de poupar chega a ser estranha, fazendo o indivíduo se questionar se realmente vale a pena deixar de consumir agora para usufruir de um poder de compra maior mais para frente, sempre atrelando o problema ao “eu do futuro”.
“Na educação financeira, que ainda é incipiente no Brasil, é muito difícil colocar isso na cabeça das pessoas mais jovens”, afirma.
Sant’Ana comenta ainda que pesquisas mostram que muitos brasileiros acreditam que em algum momento irão ganhar muito dinheiro através de dois cenários: loteria ou herança.
“O que não tem cabimento algum, porque muitas vezes não tem ninguém para deixar herança de forma substancial, e, por meio de loteria, o dinheiro vem do nada e não fruto do trabalho e da constância em poupar”, adiciona.
Cauê Mançanares, CEO da Investo, destaca que o maior benefício de começar a investir na aposentadoria cedo é a possibilidade de fazer aportes menores e deixar o tempo trabalhar a seu favor através dos juros compostos. Dessa forma, ao chegar na fase de usufruir, o montante acumulado será maior, consequentemente gerando mais conforto.
Ele argumenta que não existe uma fórmula mágica sobre o momento exato para começar, pois seria ontem. Mas, prossegue, como não é possível agir sobre a data de ontem, então o mais próximo do ideal seria hoje.
“Como diria Charlie Munger: ‘O dinheiro de verdade não está na compra ou na venda, mas na espera!’”, frisa.
Quanto às melhores opções de investimento, Mançanares ressalta que depende do horizonte de tempo. Para uma pessoa jovem, que está na fase de construção de patrimônio, a carteira de investimentos pode conter uma proporção maior de renda variável, porque, apesar da alta volatilidade, no longo prazo – pelo menos 10 anos –, traz melhores resultados.
Para quem está se aproximando da aposentadoria, a carteira de investimentos deve conter uma proporção cada vez maior de renda fixa, por ter menor volatilidade e retornos mais previsíveis.
Já Sant’Ana indica os planos de previdência, pois dificultam o acesso dos investidores ao gerar cortes substanciais das quantias na retirada antes do tempo. O psicólogo explica que esses são os chamados “Contratos de Ulisses”, que ajudam até mesmo no autocontrole pela antecipação da perda.
Ele complementa que, se não funcionassem dessa forma, a maioria das pessoas pegariam o dinheiro, gerando um grande problema no futuro.
“Então, é necessário que existam ferramentas contratuais para que o investidor siga essa estrada longa, colocando de pouquinho em pouquinho, e veja o quanto realmente vai significar lá na frente”, conclui.
