A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta semana, reforça a intenção do Banco Central do Brasil (BCB) de manter a taxa Selic estável em 15,00% ao ano por um período prolongado. O documento, que reitera cinco vezes o termo “prolongado”, busca cessar o debate sobre um iminente corte de juros, conforme analisa Beto Saadia, economista e diretor financeiro da Nomos. Apesar da pausa no ciclo de alta, o Copom deixa claro que a opção de retomar o aperto monetário permanece aberta, caso seja necessário.
Para o JP Morgan, o tom da ata indica que a “barra para retomar o aperto monetário é bastante alta”, sugerindo que uma nova elevação da Selic seria uma medida mais extrema. No entanto, o banco de investimento projeta um primeiro corte de juros apenas em dezembro, levando a taxa para 10,75% até o final do próximo ano, impulsionado por uma esperada desaceleração da demanda doméstica no segundo semestre de 2025.
Avaliação do cenário econômico pelo Copom
O Copom avalia que o cenário externo, embora com alguma melhora, permanece incerto e volátil, principalmente devido às políticas comerciais e fiscais dos Estados Unidos e tensões geopolíticas. Domesticamente, a atividade econômica e o mercado de trabalho ainda mostram dinamismo, mas com sinais de moderação no crescimento.
Em relação ao crédito, o Comitê observa um declínio no crédito não direcionado e resiliência nos empréstimos direcionados, com o crédito às famílias se tornando um entrave líquido ao crescimento. A inflação cheia e as medidas subjacentes seguem acima da meta, e as expectativas de inflação para 2025 e 2026 (5,2% e 4,5% respectivamente, segundo a pesquisa Focus) permanecem desancoradas, o que é um ponto de desconforto para o Banco Central.
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Riscos e perspectivas
A ata do Copom detalha um cenário prospectivo de inflação desafiador. Entre os riscos de alta para a inflação e as expectativas, destacam-se:
– A desancoragem prolongada das expectativas de inflação.
– Maior resiliência na inflação de serviços.
– Impacto inflacionário maior que o esperado de políticas econômicas externas e internas.
Já entre os riscos de baixa, são mencionados:
– Uma desaceleração econômica doméstica mais acentuada.
– Uma desaceleração global mais pronunciada.
– Redução nos preços das commodities.
O Copom enfatiza que o cenário atual, com expectativas desancoradas, exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que seria apropriado em outras circunstâncias, para assegurar a convergência da inflação à meta.
A mensagem do Banco Central: pausar e observar
A decisão do Copom de manter a Selic, após um ciclo “rápido e firme de elevação de juros”, é uma estratégia para observar os efeitos acumulados da política monetária já implementada. Beto Saadia ressalta que essa “ata bastante dura” tem como objetivo principal “cessar o debate sobre quando a taxa Selic voltará a cair”, deixando claro que interromper o ciclo de alta é diferente de encerrá-lo.
O documento reforça a vigilância do Comitê, que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste, caso julgue apropriado. A decisão de elevar a taxa em 0,25 ponto percentual para 15,00% a.a. na reunião anterior foi justificada pela resiliência da economia, que dificultava a convergência da inflação à meta.
Em resumo, a ata do Copom sinaliza uma postura cautelosa e firme, priorizando a estabilidade de preços em um cenário de incertezas e expectativas inflacionárias ainda elevadas.