Incertezas em relação ao cenário inflacionário externo, a dinâmica da curva de juros americana e o aumento das preocupações sobre a alteração da meta para o ano que vem são destaques da ata referente à última reunião do Comitê de Política Monetária do Branco Central (Copom), divulgada nesta terça-feira (07).
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, afirmaram na publicação.
Nas atas, o Comitê sempre cita o quadro fiscal, ora de forma leniente, ora de forma mais dura. Desta vez, entretanto, destacou que há um risco adicional em torno da mudança da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, após as declarações do presidente Lula, de acordo com Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos.
Ele relembra que o mercado já não tinha perspectiva positiva em relação à meta zero, já que projeta um déficit de 1% no PIB. No geral, é uma questão de credibilidade, como reportado pelo TradeNews no último sábado (05).
“Quando o Lula menciona que a meta vai mudar, é uma sinalização ruim para o mercado, de que o governo está abrindo a mão de tentar o zero, mesmo que o mercado já saiba que não vai conseguir mesmo”, explica Saadia.
Marco Ferrini, analista de macroeconomia da Benndorf Research, argumenta que os comentários já eram amplamente esperados. Entretanto, ele esperava um posicionamento um pouco mais rígido da autarquia ou até mesmo opiniões mais elaboradas.
Ele enxerga o texto como bastante suave, pontuando que o Comitê realizou um novo corte de 0,5 p.p. por votação unânime, além de concordar em continuar realizando ajustes de mesma magnitude nas próximas reuniões caso o cenário se mantenha.
“Dito isso, entendo que o Copom deu um ‘voto de confiança’ para o governo se atentar à questão fiscal e a recuperar a disciplina e o comprometimento com esse fator”, disse o analista.
O próprio Banco Central ainda não tem confiança para um pace diferente de 0,5 p.p para as próximas reuniões, então ainda é muito cedo para dizer o que deve acontecer caso o governo altere a meta, frisa Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
Ele entende que o cenário mais provável, de déficit de 0,25% do PIB para 2024, já está bem precificado pelo mercado atualmente e portanto os riscos adicionais seriam baixos, de modo que dificilmente o Copom adotaria uma postura mais rígida e a tendência é que os cortes de 0,5 p.p. se mantenham para as próximas reuniões.
Contudo, o especialista acrescenta que uma previsão de déficit de 0,5% do PIB certamente teria um peso diferente nos cálculos do mercado e da autoridade monetária, trazendo um balanço de riscos mais acentuado e refletindo com força nas curvas futuras de juros.
“Isso deve levar o Copom a adotar discursos mais duros, repreendendo a irresponsabilidade fiscal do governo e aumentando a probabilidade de revisão na trajetória dos juros brasileiros”, afirma Roberto.
Beto Saadia declara que, apesar do cenário de incertezas potencializado pela declaração do presidente, outros pontos macroeconômicos podem contrabalancear, de certa forma, esse efeito negativo.
Ele menciona a balança comercial muito forte, que acaba favorecendo muito a valorização do real e a inflação no Brasil que vem caindo, o que também acaba favorecendo a taxa de juros do país a cair na mesma velocidade.
Saadia adiciona também que a inflação e o mercado de trabalho americano estão se estabilizando, o que pode significar que a alta da taxa de juros dos Estados Unidos já acabou.
“Então, há muitos fatores positivos que podem acobertar essa afirmação péssima do presidente Lula”, conclui o diretor.