“Acreditamos que a dinâmica mais favorável para o crescimento deverá continuar, apesar de em menor magnitude, no segundo trimestre de 2023”, indicou a Legacy Capital – gestora de recursos independente – em sua carta mensal aos cotistas.
Em panorama sobre o momento atual da economia brasileira, a asset destacou que a consolidação da taxa de desemprego em 8% e a renda real em crescimento acima de 10% mostraram a força positiva no mercado de trabalho.
Além disso, a Legacy indicou que leituras mais fortes em relação ao comércio e serviços em conjunto com a safra agrícola recorde contribuíram para um avanço maior que o esperado no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Com isso, a gestora zerou sua posição líquida vendida na bolsa brasileira, por conta da aproximação do ciclo de queda de juros.
Por outro lado, no cenário externo, o posicionamento da casa é diferente. A Legacy explicou que vem buscando oportunidades para se estabelecer e ampliar posições aplicadas em juros.
Ela pretende aplicar isso em países onde a junção entre fundamentos econômicos e apreçamento de queda de juros nas curvas parece atrativa.
“Seguimos, ainda, com posições long/short em bolsa externa, defendendo, com o índice, a carteira, concentrada em empresas de alta qualidade e que apresentam boa perspectiva de crescimento de lucros à frente.”
Projeção para o Brasil
Caso o cenário positivo se mantenha no primeiro semestre de 2023, a gestora afirmou que irá revisar sua perspectiva de crescimento para o PIB em 2023 para uma alta de 2,2%.
Para o segundo semestre, a visão muda; a taxa de juros elevada deve contribuir para a desaceleração da atividade econômica.
“O canal de crédito, como vetor de sustentação da demanda, vem dando sinais de esgotamento, o que é evidenciado pela aceleração da inadimplência e do comprometimento de renda de empresas e famílias, que já se aproximam dos maiores níveis de suas séries históricas”, descreveu a carta.
A casa acredita que a piora da inadimplência deve levar a uma desaceleração nas concessões de crédito, o que levará à queda no consumo no segundo semestre de 2023.
A Legacy reduziu suas projeções para a inflação neste ano e para o próximo, passando para 5,2% e 4,1%, respectivamente. O ajuste foi motivado pela melhora consistente na inflação, especialmente nos grupos de bens industriais e alimentação.
“Admitindo, novamente, que a meta de inflação não sofra alteração em seu ponto central, e a inflação corrente prossiga dando sinais de desaceleração, o Banco Central deverá dar início às quedas de juros na reunião do Copom de agosto.”
Projeções externas
Para a China, a casa pinta um quadro de crescimento moderado para 2023.
A notícia de que há dificuldade para entidades estatais de créditos conseguirem honrar com suas dívidas se soma ao aumento da especulação a uma possível redução nos juros e a desaceleração da atividade industrial.
Esses empecilhos para a economia chinesa podem contribuir para uma perspectiva de desaceleração global e fim dos ciclos de aperto monetário, a depender do país.
Nos Estados Unidos, dados apontam que setores ligados à renda seguem crescendo, mesmo que em ligeira desaceleração, explicou a carta. Setores mais cíclicos, no entanto, têm ritmo de atividade mais reduzido.
Com o mercado de trabalho ainda aquecido e a resiliência no núcleo do índice de preços PCE, a asset projeta que o Federal Reserve (Fed) deve fazer mais um aumento em sua taxa básica de juros em 2023.
“De todo modo, o ciclo está muito perto de terminar, ainda que a perspectiva de manutenção da inflação em níveis incompatíveis com a meta, à frente, demande estabilidade dos Fed Funds ao longo dos trimestres subsequentes à última elevação.”
Em outros países do G10, os aumentos devem continuar. Na Zona do Euro e no Reino Unido, os BCs seguirão elevando os juros no segundo semestre de 2023, já que a inflação não mostra sinais de acomodação.