A Petrobras [PETR3; PETR4] divulgou nesta terça-feira (16) a aprovação de novas diretrizes para a política de investimentos da companhia, em substituição ao preço de paridade de importação (PPI), adotado em 2016.
Apesar dos frenesis negativos em torno de qualquer menção a mudanças na política de preços da estatal anteriormente – tanto no governo atual quanto no anterior –, o mercado reagiu de forma positiva ao novo regulamento, a julgar pela performance das ações.
Enquanto PETR3 fechou com 2,24% de alta, cotada a R$ 29,20, PETR4 subiu 2,49%, a R$ 26,30.
De acordo com o fato relevante enviado pela Petrobras à CVM, serão dois os parâmetros da nova política. O custo alternativo do cliente, baseado nas alternativas de suprimento de mesmos produtos ou produtos substitutos, e o valor marginal para a empresa, baseado no custo de oportunidade da estatal entre suas diversas possibilidades de alocação da capacidade dos ativos: produção, exportação, importação e utilização da capacidade de refino.
“Nova política não é intervenção do governo, mas comunhão de interesses”, categorizou o presidente da petroleira, Jean Paul-Prates.
Primeiras reações
Para Max Bohm, estrategista de ações da Nomos Investimentos, o fim da paridade internacional seria uma notícia ruim em um primeiro momento. Todavia, “o que de fato está sendo entendido pelo mercado é que não houve mudança alguma, somente mudou-se alguns parâmetros, mas o processo de reajuste dos preços vai ser muito parecido com o que já era adotado”.
Já para a Benndorf Research, a mudança na política de preços era esperada, mas não deixa de ser negativa. O PPI, prossegue um analista da casa, tratava-se de uma política de mercado na qual a petroleira “se comportava como uma empresa privada”, algo bom para os acionistas minoritários.
Na visão da Eleven Financial, “o novo anúncio não retira as incertezas referente à política de preços da companhia, que só deverá ser realmente testada em um cenário de elevação do preço do Brent e dos derivados no mercado internacional”.
O que significa a nova política de preços
Mesma regra com outro nome?
De acordo com Prates, a Petrobras “recupera a liberdade de decidir seus preços” com o novo regulamento, o qual permitiria mitigar a volatilidade da cotação do petróleo no exterior.
O fato relevante também diz que a estratégia comercial tem como premissa preços competitivos por polo de venda, em equilíbrio com os mercados nacional e internacional. “Petrobras seguirá refletindo os preços internacionais, mas não terá paridade de importação”, explicou Prates em coletiva com jornalistas em Brasília nesta manhã.
“Ou seja, eles colocaram alguns parâmetros mas de fato não vai ter nenhuma mudança significativa”, reforça Max Bohm. “Aquele risco de que o governo iria pressionar a Petrobras a mexer nos preços deliberadamente não vai acontecer.”
Esse teria sido o motivo da valorização de PETR3 e PETR4 hoje, acrescenta o estrategista da Nomos, posto que o mercado esperava uma intervenção estatal agressiva nos preços da companhia e, “com essa nova regra, reduz muito o risco de que isso aconteça”.
O especialista recomenda cautela ao observar as notícias sobre o assunto. “Eu também demorei pra entender o que tava acontecendo”, assumiu. Max conclui que a nova estratégia comercial muda alguns parâmetros, “mas ainda vai ter um balizamento com relação a preços internacionais e vai proteger a Petrobras para não ter que importar gasolina”.
Ficou pior?
Já os analistas da Benndorf Research não veem tanta semelhança entre os regulamentos.
Apesar de o fato relevante de hoje abordar aspectos de como será a nova precificação dos combustíveis, ele “não fornece métricas claras e deixa muito espaço para interpretações favoráveis a interferências de acordo com a conjuntura no curto prazo”.
A empresa se comprometeu a continuar realizando ajustes sem periodicidade definida, acrescentaram os analistas em relatório, evitando repassar imediatamente a volatilidade do câmbio e do preço internacional dos produtos vendidos. “Isso abre espaço para atrasos nos repasses, perda de receitas e margens.”
Os analistas da Benndorf veem chance de eventuais “subsídios” do preço dos combustíveis por parte da Petrobras. “Só o tempo dirá como será essa dinâmica. Devemos ficar atentos a isso, mas hoje não faríamos nada com as posições em função dessa notícia”, concluem.
Em concordância, a Eleven acredita que a nova regra “deixa um espaço muito amplo para definição do preço, com critérios subjetivos, dada a grande distância entre o custo alternativo para o cliente e o custo marginal da Petrobras, além da falta de periodicidade”.
Tampouco ficou claro como o custo alternativo do cliente, mencionado pela Petrobras no fato relevante, difere do preço de paridade de importação, finalizaram os analistas.
Investir em PETR4 ainda é viável?
No curto prazo, o analista técnico Filipe Borges vê alvo em R$ 30 para PETR4.
Segundo o especialista em trading com ações da Benndorf Research, a ação segue em alta nos gráficos diário e semanal, com entrada considerável de fluxo comprador nos últimos quatro pregões.
“A ação está bem forte, o stop agora é pra proteger posições compradas, e seria apenas nos R$ 23,89.” Para quem já está comprado em PETR4, Filipe recomenda manter a posição. Ele vê espaço para o papel subir em torno de 12% nos próximos dias.
Já no quesito longo prazo, a Benndorf reiterou recomendação “neutra” para PETR4.
Apesar de valuation “teoricamente atrativo”, os riscos de estar posicionado durante os próximos meses, “com os acionistas tendo pouca visibilidade sobre o processo decisório da nova diretoria”, é alto na visão dos analistas.
A casa rebaixou a recomendação de PETR4 na última sexta-feira (12), sob a justificativa de que o grau de incerteza quanto às primeiras decisões da nova gestão para os próximos meses reduziria bastante o risco-retorno do ativo.
O futuro da Petrobras
A Benndorf espera que a companhia passe a adotar estratégias mais competitivas de preço, visando reduzir o preço dos combustíveis. No entanto, os efeitos seriam negativos para o resto das petroleiras.
A projeção da casa é ganho de market share pela estatal, em detrimento de outros importadores de petróleo – isto é, refinarias privadas –, assim como um aumento das importações de petróleo pela estatal e redução das exportações.
Ou seja, a nova estratégia comercial permitirá à Petrobras tornar-se a melhor alternativa para os clientes, aproveitando sua condição de monopólio no mercado local, fator intimamente relacionado à “perda de margens e rentabilidade do setor”.
Ainda assim, o impacto nas petrolíferas privadas do Brasil, enquanto oportunidade de investimento, seria mínimo. “No limite, elas podem exportar o óleo extraído.”
Ao mesmo tempo em que vê a mensagem de hoje como positiva, Max Bohm ressalta a incerteza sobre a política de dividendos da Petrobras. Assim, se o risco de ingerência política arrefeceu, resta a dúvida sobre como será a futura regra de remuneração aos acionistas.