“O Brasil tem tantos pontos positivos e tantos ativos que, mesmo tudo dando errado, ainda assim, consegue produzir alguma coisa de bom.”
O Brasil retomou o posto de oitava maior economia do mundo após os dados do PIB divulgados na última terça-feira (04). A economia brasileira somou US$ 2,331 trilhões em valores correntes ao final do primeiro trimestre, superando o PIB da Itália, que fechou o período com US$ 2,328.
A variação elevou a posição do Brasil entre as economias globais, mas o quadro pode ainda não se tornar real até o fim do ano, caso euro e real apresentem disparidade de conversão muito alta daqui para frente.
Todavia, se o Brasil se consolidar como a oitava maior economia do mundo, como já foi há duas décadas, o provável efeito prático é um aumento do grau de investimento no país, diz Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia da Segunda Região (Corecon-SP).
“Os investidores internacionais vão olhar o Brasil com outros olhos, com uma economia consolidada e que apresenta várias potencialidades e várias vantagens para a instalação de novas fábricas, novos empreendimentos”, projeta. Os efeitos podem traduzir-se em novos empregos, maior renda, produção, circulação de mercadorias e mais arrecadação para o Estado.
Por outro lado, Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, não se surpreendeu com os números. “Já tínhamos todos os indícios de que o Brasil, frente à Itália, tem uma curva de crescimento mais promissora.” Entre vários motivos para tanto, o agronegócio foi o principal no momento.
Ainda assim, na prática, o avanço do Brasil entre as grandes economias do mundo “não significa nada, porque nossa produtividade é baixa e nossos outros indicadores são ruins”, defendeu o especialista. A retomada do posto de oitavo maior PIB “é quase como se nós estivéssemos fazendo nada mais do que a nossa mínima obrigação.”
Enquanto o crescimento interno depende dos ditos fatores sistêmicos, o avanço frente a outras economias depende também da eficiência do governo, a fim de proporcionar financiamento mais barato e mais investimento interno. Além disso, a gestão federal tem o papel de não gerar desvalorização do real, o que também puxa a economia para baixo.
A grande questão, prosseguiu Bruno, é que o Brasil cresceu muito – e nem vai, enquanto não resolver seus “problemas sistêmicos persistentes”. Os principais, enumera, estão na área da educação, logística, segurança e fiscal. Todas elas, uma vez ajustadas, geraram crescimento mais consistente.
Nem tudo é amargo. Apesar dos pesares, Bruno vê certa resiliência da economia nacional. “O Brasil tem tantos pontos positivos e tantos ativos que, mesmo tudo dando errado, ainda assim, consegue produzir alguma coisa de bom.”
De acordo com Pedro Afonso Gomes, o crescimento fraco do Brasil é fenômeno recente, de um decréscimo iniciado em torno de 2014. “São dez anos, praticamente, de uma economia que ficou estagnada, no mínimo.”
Em termos de desafios para o crescimento, o presidente do Corecon-SP não vê mudanças substanciais antes de um prazo mínimo de cinco anos. “É preciso pensar no longo prazo, é preciso pensar nas alternativas de desenvolvimento.” De acordo com ele, o novo plano de desenvolvimento nacional e da indústria, proposto pelo governo federal em fevereiro, cumpre os requisitos.
Pedro endossa a projeção de agências internacionais de risco sobre o Brasil voltar ao mesmo patamar de 2014 entre 2028 e 2029. “Isso se tudo for feito de acordo com a cartilha certa, a cartilha da redução do gasto público, do investimento certo, do investimento em produção.”
Ele já espera melhora para o próximo ano, com uma entrada de investimento estrangeiro no país. Mas ressalta: “o que nós estaremos fazendo praticamente 15 anos depois de 2014 é voltar ao estágio de 2014”.