Boa parte da população não gosta de aprender sobre finanças. Recentemente escutei de uma amiga: “não consigo entender como tem pessoas que gostam de contabilidade, eu tenho repulsa”. Infelizmente, esse não é um caso raro, e isto acaba refletindo nos indicadores de educação financeira no país, seja pelo número de famílias endividadas e no SPC, seja pelo fato de a poupança ainda ser o principal produto de investimentos da população.
Dito isso, no meu caso não foi muito diferente. Quando comecei a me interessar pelo assunto, há mais de 14 anos, queria que todo mundo soubesse, e sempre falava dos livros, técnicas, ferramentas — infelizmente, quase sempre em vão.
Por “sorte”, ao menos no relacionamento encontrei uma pessoa que, apesar de desconfiada, sempre foi curiosa para saber como funcionava esse “meu mundo”.
Por ser da área da saúde e ter intermináveis dias e noites de estudo, minha namorada não consegue trabalhar, o que acarreta em um orçamento mensal apertado. Agora, nas fases finais de faculdade, os deslocamentos entre hospitais e clínica piora, forçando-a a malabarismos logísticos.
Tocado pelo esforço e dificuldades, e querendo ao menos ajudar de alguma forma, concluí que a melhor forma seria dando-lhe um carro.
Chamei ela para uma conversa: “Quero lhe dar um carro de presente”. Achava que a reação seria de alegria e comemoração, como seria de se esperar de qualquer jovem. Porém a resposta foi muito diferente: “E os custos?”. Bom, obviamente eu tinha feito todos os cálculos (por sinal, no primeiro capítulo do meu livro, trato justamente sobre transportes, por ser um dos itens que mais consome o orçamento doméstico).
Porém ela me fez refletir. Voltei para os cálculos na planilha, avaliando quais alternativas teria. Qual aplicação seria resgatada, se um empréstimo seria válido, se havia outra forma de resolver o problema… Com as altas taxas de juros e excelentes oportunidades de investimentos na renda fixa, por fim, a solução encontrada foi: ao invés de resgatar uma das aplicações, deixar rendendo, apenas os juros de remuneração mensal já são suficientes para cobrir os deslocamentos mensais, por meio dos aplicativos de transporte.
Apesar de a logística não ser a melhor, financeiramente foi uma decisão extraordinária.
Moral da história: é muito mais fácil crescer quando os dois estão remando para o mesmo lado, quando se é um time com os mesmos objetivos, quando um ajuda o outro em todos os campos, quando se preocupam juntos com as finanças, quando um cede pensando em ajudar no sonho do outro, quando se tem visão de longo prazo, quando se entende de educação financeira, taxa de juros, momento, juros compostos etc… É claro que ela não é nenhuma expert, mas se permitiu ouvir e aprender sobre finanças ao longo desses seis anos, e com certeza colherá bons frutos ao longo da vida, por meio de boas tomadas de decisões.