A piora na percepção dos ativos de risco brasileiros contraposta a um ambiente positivo para ativos globais figura no horizonte das principais gestoras de fundos do Brasil, que se preparam para 2023. De novembro para dezembro, as assets sustentaram suas estratégias, porém apresentaram redução de risco nos portfólios, diante da desvalorização e volatilidade na bolsa doméstica.
A partir das cartas de gestores e de pesquisa interna realizada pela BRA BS/, o TradeNews coletou perspectivas sobre o desempenho econômico do Brasil e das principais economias do mundo.
Legacy Capital
A casa montou recentemente uma pequena posição comprada em dólar contra o real, em meio à expectativa de deterioração do quadro fiscal sob o novo governo. “O preço atual do câmbio não reflete a piora fiscal que será contratada”. A posição “depende mais da dinâmica do que do nível” da moeda, segundo Gustavo Pessoa, sócio-fundador. “Enquanto houver piora na dinâmica fiscal e parafiscal, devemos seguir com apostas negativas.”
As bolsas estão caras em países como Brasil, México, Europa e Estados Unidos, em meio a um ambiente de desaceleração global, expectativa de queda significativa de lucros e inflação persistente, disse Felipe Guerra, co-fundador da Legacy, em evento.
O fundo mantém posição vendida no mercado acionário doméstico, “concentrada em nomes ligados à economia local, e com indicadores de endividamento mais elevado”, disse a gestora, em sua mais recente carta a cotistas. O ‘short’ em bolsa é a principal posição em Brasil do fundo.
Ibiúna Capital
“No Brasil, vemos ações baratas e juros atrativos, mas preferimos aguardar definições antes de tomar posições mais relevantes no país”, frisa a Ibiúna. “No lado positivo, o país é credor em moeda forte em um momento de crescente escassez de dólar, e o Banco Central é agora independente e está mais avançado no ciclo de aperto monetário e controle da inflação.”
Em contrapartida, destacaram os analistas, “nossos fundamentos fiscais são frágeis, unindo endividamento elevado, baixo crescimento potencial e altos juros reais”. A casa denomina tal combinação de fatores “reconhecidamente vulnerável […] diante de um governo que foi eleito prometendo uma extensa agenda de gastos, tem urgência em gastar, mas não mostra pressa em avançar na definição de um regime fiscal consistente”.
SPX Capital
As principais perdas da gestora em novembro vieram de posições aplicadas em juros no Brasil, posições vendidas na bolsa americana e compradas no dólar contra uma cesta de moedas. A SPX reduziu o risco ao longo de novembro, porém mantém o posicionamento e a visão direcional para os mercados.
“Estávamos aplicados em juros nos EUA (apostando em quedas), mas encerramos por temer que o mercado acreditou demais no discurso baixista do Fed”, comentou a asset. “Também não estamos tomados porque inflação tem surpreendidos pra baixo.”
A SPX tem posições vendidas em Europa e EUA, vendo “prêmio de risco ainda baixos, pois não precificam uma provável recessão”.
Para o Brasil, os analistas veem atividade mais fraca, aperto de crédito e inadimplência, ainda não refletido nas projeções de lucro. Na política, a escolha de Haddad para o Ministério da Fazenda sugere participação mais ativa de Lula no ministério.
“Há um cenário de Brasil outperformar o resto do mundo pelos seus níveis depreciados de preço em bolsa, mas estamos sem posição direcional.” A asset projeta IPCA de 5,8% este ano e de 4,8% em 2023, com “dinâmica mais favorável para a inflação, com diminuição de combustível e alimento”.
Vinland Capital
Apostas na alta de juros americana e vendidas em volatilidade foram a principal contribuição positiva para os fundos da gestora. “Nossa compra de ações versus índice (vendido em Ibovespa com concentração especialmente em commodities) foram os detratores de resultado” dos portfólios.