China confirma segundo balão sobre a América Latina

Foto: The Wall Street Journal

A China confirmou que era a responsável pelo segundo balão detectado sobrevoando a América Latina, e o descreveu em termos semelhantes ao balão de vigilância que os Estados Unidos derrubaram no fim de semana.

Funcionários do Pentágono disseram no fim de semana que o segundo balão foi visto em trânsito pela América Central e do Sul e o caracterizaram como uma frota de balões de vigilância operados pela China. O anúncio foi seguido pela decisão de abater outro balão que sobrevoava os EUA no sábado, o que atraiu críticas chinesas.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, descreveu o balão como um dirigível não tripulado para fins de pesquisa que foi desviado do curso pelo mau tempo – uma explicação praticamente idêntica à que a China deu para o balão que sobrevoou os EUA. A porta-voz também prometeu proteger direitos de uma empresa chinesa envolvida no incidente norte-americano, embora não tenha identificado essa companhia.

“Este dirigível desviou-se seriamente de sua rota planejada e acidentalmente entrou nos céus da América Latina e do Caribe”, disse Mao. Ela não revelou quais países o segundo balão havia transitado.

Foto: Reuters

Já o da América Latina, ela afirmou que era para fins de pesquisa civil. Um alto funcionário da defesa dos EUA disse que o Pentágono acredita que ambos os balões “fazem parte de uma frota de balões da RPC desenvolvida para realizar operações de vigilância, que também violaram a soberania de outros países”, referindo-se à da China.

A confirmação do segundo balão recebeu respostas discretas da maioria das autoridades da América Latina, onde os governos nos últimos anos buscaram fortalecer os laços comerciais com Pequim em busca de apoio chinês, desde financiamento de infraestrutura até vacinas contra a Covid-19. A autoridade de aviação civil da Costa Rica e a Força Aérea da Colômbia relataram avistar um objeto semelhante a um balão entrando nos espaços aéreos de seus respectivos países na sexta-feira, semelhante ao abatido pelos EUA.

“Foi determinado que este elemento não representa uma ameaça à segurança e defesa nacional”, disse a Força Aérea da Colômbia. Acrescentou que o objeto cruzou o norte da Colômbia viajando a mais de 46 km/h e com uma altitude de 55 mil pés (cerca de 17 mil quilômetros). O objeto foi monitorado até deixar o espaço aéreo do país, segundo a força aérea.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou na segunda-feira que em breve viajará à China a convite do governo chinês para discutir projetos de infraestrutura em seu país sul-americano, incluindo uma nova linha de metrô na capital Bogotá, que está sendo construída por uma empresa chinesa.

O Ministério das Relações Exteriores da Costa Rica comunicou que a embaixada chinesa em San José confirmou que um segundo balão sobrevoou seu território e pediu desculpas pelo incidente.

Assegurou-se que o objeto não representava nenhuma ameaça para nenhum país e sua presença na Costa Rica se devia a um desvio da rota programada devido às condições meteorológicas e capacidade limitada de autodireção”, disse o ministério.

Os governos do México, Argentina e Brasil se recusaram a comentar.

No sábado, os militares dos EUA derrubaram o balão chinês em águas territoriais perto da costa da Carolina do Sul. O balão sobrevoou uma parte do país dias antes de ser retirado, incluindo o estado de Montana, que abriga muitos silos de mísseis nucleares dos EUA. O Pentágono disse que o balão viajou por vários locais sensíveis.

As alegações dos EUA de que os balões eram para vigilância aumentam a preocupação em Washington e entre os aliados dos EUA sobre o crescente alcance global das capacidades de defesa e espionagem da China. As autoridades dos EUA tornaram-se cada vez mais públicas ao denunciar essas supostas operações, deixando a China lutando para responder.

O incidente também mostra o quão frágeis as relações EUA-China se tornaram. Até o final da semana passada, as autoridades de ambos os países estavam ocupadas se preparando para uma visita do secretário de Estado, Antony Blinken. Durante essa viagem, esperava-se que as autoridades abordassem uma série de questões mais delicadas entre os países, incluindo a questão de Taiwan, em um esforço para colocar um piso nas relações. Após vários meses de planejamento, essa viagem foi adiada indefinidamente.

A China divulgou na segunda-feira que seu vice-ministro das Relações Exteriores apresentou uma repreensão à Embaixada dos EUA em Pequim um dia antes por os EUA terem derrubado o balão chinês.

O vice-ministro das Relações Exteriores, Xie Feng, chamou a ação dos norte-americanos de uso indiscriminado da força que prejudicaria ainda mais as relações EUA-China.

Vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng.[Foto: The Wall Street Journal]
“O lado dos EUA obviamente exagerou e violou seriamente o espírito da lei internacional e da prática internacional”, disse Xie, de acordo com um comunicado.

A declaração culpou Washington por prejudicar os esforços para estabilizar as relações desde que o presidente Biden e seu colega chinês, Xi Jinping, se encontraram na ilha indonésia de Bali em novembro. Xie pediu às autoridades americanas que não aumentem ainda mais as tensões, dizendo que a China defenderá seus interesses. Espera-se que Xie seja nomeado o novo embaixador da China nos EUA, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.

A mensagem entregue por Xie à embaixada ecoou declarações anteriores no fim de semana do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Defesa da China.

Mesmo assim, algumas autoridades chinesas disseram que é improvável que Pequim reaja com muita força à decisão dos EUA de derrubar o balão porque busca manter o diálogo com os EUA. Emergindo de três anos de relativo isolamento diplomático durante a pandemia, a China está focada principalmente em alavancar sua economia em dificuldades. Como resultado, muitos observadores da política externa chinesa dizem que ela precisa de relações internacionais estáveis, especialmente com os EUA.

 

 

(Com The Wall Street Journal)

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