A empresa tem até o final de janeiro de 2024 para chegar a um acordo de reestruturação da dívida.
Evergrande, a gigante incorporadora imobiliária cujo default há dois anos alimentou uma crise no mercado imobiliário da China, recebeu algumas boas notícias inesperadas nesta segunda-feira (04).
A empresa, que já foi a maior desenvolvedora imobiliária da China em vendas, recebeu prazo até o final de janeiro de 2024 para chegar a um acordo de reestruturação da dívida, depois que o Tribunal Superior de Hong Kong adiou uma audiência que poderia ter levado a Evergrande à liquidação.
A decisão significa que um dos defaults corporativos mais notórios da China se arrastará um pouco mais, após o abandono de última hora de uma reestruturação de dívida de US$ 35 bilhões no início deste ano.
O default da Evergrande no final de 2021 foi um momento marcante para o setor imobiliário chinês, colocando fim a anos de expansão impulsionada pela dívida. Dezenas de empresas imobiliárias chinesas deixaram de cumprir pagamentos de dívidas prometidos em seu rastro, e o mercado imobiliário do país ainda está estagnado, sofrendo este ano com a desaceleração das vendas de imóveis, queda nos preços e uma ampla falta de confiança.
Desde setembro passado, a audiência de liquidação da Evergrande foi adiada seis vezes, enquanto a empresa e seus investidores se esforçam para encontrar uma maneira de evitar uma liquidação que seria dolorosa para ambos os lados. Eles chegaram perto no início deste ano, mas os reguladores chineses bloquearam um acordo ao proibir a Evergrande de emitir novos títulos — um ponto-chave do plano.
O último adiamento da audiência de liquidação da Evergrande foi resultado dos advogados da Top Shine Global, um pequeno credor da Evergrande que havia iniciado o processo, declarando que não se oporiam a mais um adiamento.
A nova posição da Top Shine foi apresentada ao grupo de detentores de títulos 15 minutos antes da audiência, disse Neil McDonald, sócio do escritório de advocacia Kirkland & Ellis, assessor do grupo de investidores.
Na última audiência de liquidação da Evergrande, em 30 de outubro, a juíza Linda Chan disse à empresa e seus advogados que era a última chance da Evergrande apresentar uma proposta concreta. Após a mudança de posição da Top Shine, ela não repetiu o discurso na segunda-feira.
Antes do calote, a Evergrande era um tomador regular no mercado internacional de títulos, levantando bilhões de dólares que ainda não foram pagos. Mas a maioria de seus ativos está localizada na China continental, complicando as coisas para os investidores internacionais que esperam maximizar os retornos que podem obter dos títulos da empresa. Em 2022, um grupo de bancos chineses apreendeu US$ 2 bilhões detidos por uma das subsidiárias da Evergrande.
O fundador e presidente da Evergrande, Hui Ka Yan, foi detido e investigado por possíveis crimes em setembro.
A empresa sediada em Guangdong apresentou aos detentores de títulos uma proposta atualizada antes da audiência, como relatou o The Wall Street Journal no fim de semana. A empresa dará aos investidores certificados prometendo pagar-lhes depois das vendas de ativos, disse o advogado da Evergrande nesta segunda-feira. O grupo de detentores de títulos rejeitou a proposta, acreditando que receberia mais dinheiro se a Evergrande fosse liquidada, disse um advogado que representa o grupo.
Um colapso da Evergrande prejudicaria mais do que apenas os detentores de títulos. A gigante imobiliária tinha o equivalente a US$ 335 bilhões em passivos até junho, incluindo dinheiro devido a fornecedores, bancos e centenas de milhares de pessoas para as quais vendeu casas parcialmente construídas.
A Evergrande usará o tempo extra para refinar sua proposta de reestruturação e tentar obter mais apoio dos credores, disse o advogado da empresa. Chan, a juíza, sugeriu que a empresa peça a opinião das autoridades chinesas.
(Com The Wall Street Journal; Título original: China’s Property Developers Cut Prices—and Homeowners Are Resisting)