Copel [CPLE6] e Sabesp [SBSP6] são as mais encaminhadas para desestatização entre as companhias estaduais

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O futuro das administrações da Petrobras [PETR3; PETR4] e Banco do Brasil [BBAS3] concentra atenções desde a eleição de Lula para a presidência do Brasil em outubro do ano passado. No entanto, estatais de gestão estadual também ganharam novas projeções após o pleito de 2022. 

A B3 dispõe dos ativos das estatais mineiras Cemig [CMIG3; CMIG4] e Copasa [CSMG3], da paulista Sabesp [SBSP3] e da paranaense Copel [CPLE6] – assim como dos bancos estaduais Banrisul [BRSR6], do Rio Grande do Sul, Banestes [BEES3], do Espírito Santo, e BRB [BSLI3], do Distrito Federal. 

Assim como aconteceu durante o processo de capitalização da Eletrobras [ELET3; ELET6], perspectivas de saída ou redução da participação estatal nas companhias são o principal impulso para as cotações dos papéis. 

A caminho da desestatização

Perspectivas de privatização das estatais de São Paulo e Minas Gerais ganharam força diante da eleição dos governadores Romeu Zema (MG) e Tarcísio de Freitas (SP), comenta Nelly Colnaghi, analista da Levante Corp. 

Sabesp e Copel são as mais propensas a concluírem processos do gênero, analisa Raphael Figueredo, sócio e analista da Eleven Financial, “uma vez que ambas dependem menos de iniciativas do governo federal”. 

Entre elas, a mais próxima da privatização é a Copel, uma vez que o governo do Paraná já anunciou intenção de desestatizar, e o processo já foi votado na Assembleia Legislativa estadual, acrescenta Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research. 

Copel [CPLE6]

Para a Companhia Paranaense de Energia, “a expectativa é que a privatização ocorra em 2023”, afirmou Niels Tahara. A Copel anunciou em 21 de novembro que o governo do Paraná tenciona pulverizar o capital da empresa, de modo a deixá-la sem acionista controlador. 

CPLE6 atingiu o maior patamar intradiário desde janeiro de 1997 na data do anúncio, cotada a R$ 8,74, com mais de 20% de alta. As ações PN da companhia encerraram 2022 com 23% de valorização.

Radar de recomendações de Copel (CPLE6) em 11 de janeiro de 2023. [Fonte: Bloomberg]
“Desde então”, diz Nelly, “a companhia aprovou a realização de estudos visando a renovação integral de concessões de hidrelétricas que perderia caso continuasse como estatal”. Uma legislação estadual aprovada em 24 de novembro do ano passado autoriza o governo paranaense a realizar oferta pública de distribuição secundária de ações ON ou units. 

Sabesp [SBSP3]

Os leilões do governador Tarcísio de Freitas realizados durante a gestão do Ministério da Infraestrutura no governo Bolsonaro fortalecem a perspectiva de privatização da Sabesp, afirma a analista da Levante. 

Como prova do sentimento do mercado, Nelly citou a valorização superior a 15% de SBSP3 após o primeiro turno – quando Tarcísio obteve maioria de votos frente a Fernando Haddad, candidato derrotado ao governo de São Paulo e atual ministro da Fazenda.

Radar de recomendações de Sabesp (SBSP3) em 11 de janeiro de 2023. [Fonte: Bloomberg]
O governo paulista vai estudar uma privatização nos moldes do processo da Eletrobras, ponderando as peculiaridades do setor de saneamento, de acordo com Natália Resende, chefe da recém-criada “supersecretaria” de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado. 

Em entrevista ao jornal Valor Econômico na segunda-feira (09), Natália disse que o passo inicial deve acontecer nos 100 primeiros dias da gestão, com a contratação dos estudos. As ações da Sabesp encerraram 2022 com 43% de alta, sendo 21% apenas em outubro. 

Cemig [CMIG3; CMIG4]

Quanto às estatais mineiras, “o governador reeleito declarou em sua campanha que pretende avançar com o processo de privatização tanto de Copasa quanto de Cemig”, relata Nelly. 

Romeu Zema, que iniciou seu segundo mandato em 1º de janeiro, chegou a tentar privatizar a Cemig no quadriênio anterior, mas sem sucesso. O governo mineiro conseguiu vender a participação da estatal na Light, de 22,5%, e na Renova, de 27,2%, “de modo a facilitar o processo subsequente de desestatização”, acrescenta a analista da Levante. 

Radar de recomendações de Cemig (CMIG4) em 11 de janeiro de 2023. [Fonte: Bloomberg]
Em entrevista, Zema declarou que o processo de capitalização da Cemig talvez seja de uma “corporation”, semelhante ao da Eletrobras. “O Estado não venderia, a empresa receberia novos investimentos e só de o Estado não ter a voz final eu fico satisfeito, porque a empresa fica blindada contra a má gestão”, declarou o governador. 

As ações PN da Cemig subiram 12,4% no acumulado de 2022. 

Enquanto isso, na bolsa de valores

Raphael Figueredo, da Eleven, é categórico ao não recomendar o investimento em companhias estatais por ora, apesar da menor interferência da União nas estaduais. “Não acho que vale insistir nas estatais neste momento, uma vez que o governo eleito já vem deixando uma mensagem clara de aparelhamento dessas empresas, pró desenvolvimentismo”, pondera. 

Para Niels, da Benndorf, o investimento em estatais precisa ser analisado caso a caso. “É normal que essas empresas negociem com um desconto nos múltiplos e valuation, dado o constante risco de interferência estatal”, analisa, ressaltando a necessidade de entender a relação de risco e retorno para cada ativo. 

“A um preço atrativo, pode fazer sentido investir em estatais”, considera o analista, que cita como exemplo o Banco do Brasil [BBAS3]. Para a Benndorf, o preço descontado dos papéis do banco justifica o investimento. 

Na visão da Levante, apesar de as ações de estatais estaduais terem avançado substancialmente desde as progressões dos processos de desestatização, ainda há espaço para mais valorização. “A título de exemplo”, diz Nelly Colnaghi, “destacamos o caso da Copel, que, em um cenário de não-privatização, terá a concessão de sua principal usina (UHE Bento Munhoz) expirada em 2024, de modo a permanecer apenas com uma participação minoritária no ativo”. 

Radar de recomendações de Copasa [CSMG3] em 11 de janeiro de 2023. [Fonte: Bloomberg]
Caso a desestatização se concretize, a Copel pode renovar integralmente a concessão de suas usinas, “o que entendemos ainda não estar precificado”. 

Para todas as estatais, a Benndorf vê possibilidade de ganho de eficiência, dada a menor eficiência ante os pares. “A entrada do controle privado também deve permitir maiores investimentos nas companhias, além de oferecer maior flexibilidade para a gestão”, completa Niels. 

Quanto ao perfil das companhias citadas, tanto Cemig quanto Copel são do setor elétrico. A primeira é caracterizada pela concentração no segmento de distribuição, e a segunda pela maior participação no segmento de geração de energia, explica Nelly.

“No que se refere a Copasa e Sabesp”, prossegue a analista da Levante, “ambas são companhias de saneamento, responsáveis pela prestação de serviços de abastecimento de água e coleta de esgoto”. 

As operações das duas são similares. Entretanto, a Sabesp apresenta maior cobertura na divisão de esgoto, cerca de 92%, em comparação com os 72% para a Copasa. 

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