O Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a taxa de juros do Brasil em 0,5 ponto percentual na noite desta quarta-feira (02). A taxa Selic passa de 13,75% para 13,25%.
O órgão do Banco Central teve uma postura mais dovish que o esperado pelo mercado, o qual majoritariamente projetava uma queda menor, em 0,25 p.p.
É o primeiro corte desde o início do ciclo de aperto monetário, no início de 2021.
O placar foi acirrado, com Roberto Campos Neto – presidente do BC –, Ailton Aquino dos Santos, Carolina Assis Barros, Gabriel Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso votando a favor do corte de 0,50 p.p. e Diogo Abry Guillén, Renato Dias de Brito Gomes, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado e Maurício Costa de Moura a favor de uma queda menor, de 0,25 p.p.
No comunicado, o comitê declarou que mais um corte de 0,50 p.p. pode estar a caminho caso o cenário econômico siga caminhando conforme o esperado.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, antevêem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.”
O documento também mostrou que a melhora no quadro inflacionário em conjunto com a queda das expectativas de inflação para prazos mais longos foram fatores cruciais para um corte maior.
Segundo Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, a postura da autarquia foi “bem interessante”, já que havia tempo que o órgão não surpreendia as expectativas do mercado.
O analista também comentou sobre a diferença entre a opinião dos membros.
“É a primeira vez na história que nós temos um número tão grande de votos divergentes”, afirmou.
Entretanto, existem algumas pistas de que o Bacen pode não estar tão dividido, disse ele.
Um dos pontos sinalizados é o fato de Gabriel Galípolo, recente adição ao comitê e indicação de Haddad, ter votado em conjunto com Campos Neto, que já teve desavenças com o governo quanto às decisões monetárias.
Além disso, outro fator é que um trecho do comunicado mostra unanimidade entre os membros de que novos cortes podem ser feitos em futuras reuniões.
“A gente tem uma desinflação na margem, mas ainda assim em alguns pontos eles ressaltam que o Banco Central ainda vai seguir com o compromisso de trazer a inflação ao redor da meta, e o comunicado deixa um sinal a respeito de uma política contracionista ainda por um período mais elevado”, destacou Ricardo Jorge, especialista em Renda Fixa e sócio da Quantzed.
A retirada de falas sobre o risco fiscal e o risco de desancoragem das expectativas do comunicado foi outra surpresa para o especialista. “Essa é uma mensagem importante e, inclusive, é uma mensagem um tanto quanto controversa, porque o Banco Central deixa de considerar os riscos fiscais em um cenário no qual a gente ainda tem todas as pautas dentro do Congresso para serem encaminhadas.”
O arcabouço fiscal, a reforma tributária, o CARF e outras pautas atualmente em tramitação no Congresso ainda precisam passar por nova etapa, e “ainda assim, aparentemente o Banco Central desconsidera isso no seu cenário de risco”, finaliza Ricardo.