Enquanto a B3 dispõe de pouco mais de 400 empresas listadas, nos Estados Unidos são mais de 8 mil companhias com ações em bolsa. No setor de tecnologia, a discrepância continua impressionante. Por aqui, são menos de 20 ativos. Lá fora, há mais de 3 mil empresas, entre elas, algumas das maiores companhias do mundo, incluindo o emblemático grupo das FAAMGs (Facebook [M1TA34], Apple [AAPL34], Amazon [AMZO34], Microsoft [MSFT34], e Google [GOGL34]) e a Tesla.
Atualmente, o maior hub de empreendedorismo, inovação e tecnologia global encontra-se na América do Norte. O país abriga a maior bolsa de tecnologia do planeta, a Nasdaq, que possui um valor de mercado de US$ 15 trilhões, cerca de 15% do mercado acionário global e quase 20 vezes a bolsa de valores brasileira inteira.
A principal diferença entre os dois mercados é o valuation, afirma Eduardo Rahal, head institucional da Levante Corp. As empresas americanas são precificadas em outro patamar de múltiplos, segundo o analista, sendo muito mais atrativas. Um exemplo desta diferença foi o movimento recente de algumas companhias, que tentaram migrar para a listagem dos EUA em busca de melhor precificação.
Com relação ao core business, ou o principal negócio das empresas, “sem dúvida há uma grande discrepância”, afirma Rahal. “Se olharmos para as empresas de tecnologia listadas nos EUA, como Microsoft, Netflix, Apple, Alphabet, Amazon e Facebook, veremos que todas elas possuem algo em comum: o poder de escalar negócios de forma eficiente a nível global, ampliando de forma significativa seus mercados endereçáveis”, explica o especialista.
Apesar de todos os benefícios, as techs têm um ponto a se atentar: a sensibilidade aos juros. Isso ocorre porque elas possuem a maior parte de seus fluxos de caixa na perpetuidade, ou seja, o mercado embute no valuation das companhias este crescimento futuro. “Se temos um cenário em que o dinheiro fica mais escasso, com juros maiores e menores expectativas de crescimento, naturalmente os múltiplos em que as companhias são negociadas são reajustados para essa nova realidade”, afirma o analista da Levante.
Devido à dependência, o setor tem apresentado queda nos EUA. Mesmo assim, o momento é visto com “certo ceticismo” pela Levante. De acordo com Eduardo, é possível que o mercado esteja negligenciando o discurso cada vez mais incisivo do Federal Reserve.
“Como consequência, empresas que possuem a maior parte de seu crescimento na perpetuidade e múltiplos mais esticados, como é o caso das empresas de tecnologia, acabam sofrendo mais”, afirma ele.
Já no Brasil, segundo Rahal, são poucas as empresas que se apresentam como alternativas viáveis aos investidores em termos de qualidade, liquidez e crescimento sólido. De acordo com o analista, este cenário é traduzido pela própria B3, que é composta majoritariamente por companhias exportadoras e commodities.
Apesar disso, há boas opções de investimento em renda variável entre as techs por aqui. A Levante tem preferência em Sinqia [SQIA3] e Totvs [TOTS3]. Rahal diz que a primeira é um case que conta bastante com crescimento inorgânico, ou seja, via aquisições, enquanto a segunda possui múltiplos menores, melhores margens e um histórico mais consolidado com maior geração de caixa.
Mas as verdadeiras estrelas estão nos Estados Unidos. A casa de análise reiterou a recomendação de alocação no exterior. “Sem dúvida alguma estamos falando das melhores empresas globais para se estar posicionado no longo prazo”, aponta o analista.
A tese se baseia na existência de múltiplos mais esticados como um todo no setor. Eduardo Rahal ainda indica alguns cases “bastante interessantes e que valem o estudo para o investidor”, são eles: Airbnb [AIRB34], SalesForce [SSFO34] e PayPal [PYPL34].
Dentre as alternativas para investidores brasileiros que buscam investir em empresas americanas, uma possibilidade é comprar ações propriamente ditas, por meio de corretoras nacionais que permitem o acesso ao mercado dos EUA, como a XP Investimentos.
Outra opção é investir em bonds, títulos de dívida corporativos. Existe também a opção de investir em BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na B3.