De restrições severas à liberação total: mudança na política da China sobre Covid-19 gera ‘boom’ de casos 

As fábricas da China enfrentam uma nova realidade após a forte reviravolta do país em relação à política de Covid-zero: funcionários estão adoecendo ou trabalhando ao lado de colegas que contraíram o vírus.

Pequim começou a suspender muitas de suas restrições mais severas no início deste mês, incluindo quarentenas e testes obrigatórios – que por muito tempo irritaram parte da população e prejudicaram a economia. Os sistemas de “circuito fechado”, nos quais os trabalhadores ficavam isolados por dias ou semanas nas fábricas, também foram interrompidos.

Diversas cidades e regiões do país afirmaram que pessoas com casos leves de Covid ainda podem trabalhar, como aconteceu no centro industrial ocidental de Chongqing, em Guiyang, capital da província de Guizhou.

O recuo abrupto após quase três anos de restrições intensas deixou os funcionários indo e vindo do trabalho sem nenhum respaldo de proteção. O resultado é que muitas indústrias estão enfrentando uma grave escassez de pessoal enquanto buscam medidas para manter os trabalhadores saudáveis.

“Operacionalmente, as fábricas estão uma bagunça”, disse Cameron Johnson, sócio da consultoria Tidal Wave Solutions em Shangai.

Fonte: Dow Jones Newswire

A situação atual contrasta com a política do início do ano, quando as autoridades ordenaram medidas rígidas e sem concessões, como bloqueios, testes regulares, quarentenas agressivas e rastreamento de contatos.

“Agora, de certa forma, é o outro extremo: muito pouca orientação do governo”, disse Eric Zheng, presidente da Câmara Americana de Comércio em Xangai. “As empresas realmente precisam pensar em algumas coisas básicas, como fornecer kits de saúde para os funcionários, incluindo testes de antígeno, máscaras, remédios e assim por diante.” Esses suprimentos estão acabando, afirmou Eric.

O fim da política de Covid-zero gerou uma onda de contaminações. As estatísticas oficiais de infecções e mortes diárias pela doença são baixas, com a Comissão Nacional de Saúde da China relatando 2.656 casos e cinco mortes na segunda-feira (19). Mas os especialistas acreditam que há uma subnotificação.

Na gigante fábrica da Tesla em Xangai e na fábrica da Volkswagen na cidade de Changchun, não há mais obrigatoriedade de teste para os milhares de trabalhadores, de acordo com os funcionários das montadoras.

Em vez de fazer testes PCR todos os dias ou em dias alternados antes de entrar no trabalho, a equipe da Tesla agora faz testes opcionais caso haja sintomas semelhantes aos da gripe. Segundo funcionários, os próprios trabalhadores devem avisar a seus supervisores se os testes resultarem em positivo para Covid-19.

Em uma das divisões da fábrica da Tesla, cerca de 20 funcionários, quase um quinto da equipe, estavam de licença médica no início desta semana, de acordo com um trabalhador. A Tesla não respondeu aos pedidos de comentários.

Na fábrica da Volkswagen, a montadora alemã tem executado um único turno de trabalho em vez de dois desde o último sábado (17), segundo um dos funcionários da fábrica. A empresa planeja retomar os dois turnos de produção de modelos da marca Audi na quarta-feira (21), de acordo com um memorando da empresa.

A Volkswagen informou, na segunda-feira (19), que sua produção na China permanece estável, além de parabenizar a flexibilização dos controles pandêmicos, acrescentando que isso ajudaria na produção. Os trabalhadores que testarem positivo para Covid devem ficar em casa, e todos devem usar máscaras, minimizar o tempo no escritório e manter distância uns dos outros, disse a companhia.

Para ajudar os trabalhadores a lidar com o estresse relacionado à doença, o sindicato da estatal SAIC Motor, que compartilha joint ventures com a Volkswagen e a General Motors, começou a oferecer serviços de aconselhamento online.

Na fábrica da Dell na cidade de Xiamen, as regras permanecem rígidas. Alguns funcionários do escritório da empresa foram remanejados para trabalhar em casa. Ademais, toda semana, há obrigatoriedade de enviar resultados negativos do teste das últimas 24 horas se desejarem entrar em determinadas zonas da instalação, de acordo com um post da companhia na terça-feira (19).

A maioria dos serviços de manutenção está suspensa e a empresa não está permitindo visitas externas durante esse período. A Dell não respondeu a um pedido de comentário.

A China parou de contabilizar casos assintomáticos depois de reduzir a incidência das testagem, o que incapacitou o governo de avaliar a escala e a extensão da atual onda de infecções. A baixa taxa de mortalidade declarada contrasta com as previsões de modelos epidemiológicos, que indicam um aumento maciço de casos, já que a Omicron, cepa mais transmissível até o momento, atinge a população.

Desde o fim das restrições, a mídia estatal da China tem relatado que grandes empresas do Estado estão abandonando suas operações de circuito fechado e voltando à produção total. De acordo com o Beijing News, um jornal do Partido Comunista, dados de 17 de dezembro indicam que o consumo de energia nas indústrias manufatureiras da capital aumentou 15% desde meados de novembro.

Nas mídias sociais, vários usuários postaram sobre surtos generalizados de Covid em fábricas menores em todo o país, onde um grande número de trabalhadores adoeceu, resultando em atrasos na produção e no atendimento dos pedidos dos clientes.

Jörg Wuttke, presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, disse que a reviravolta de Pequim minou a confiança nos esforços de resposta à pandemia do país, e que as autoridades teriam que trabalhar duro para reconquistar a confiança do setor empresarial.

Ainda assim, Wuttke acredita que a reabertura repentina, embora perturbadora, oferece um caminho melhor do que os bloqueios prolongados, que causaram interrupções na cadeia de suprimentos e tornaram o planejamento de negócios praticamente impossível.

“A única boa notícia é que depois de sete a dez dias as pessoas estão praticamente fora de perigo e podem voltar”, disse ele. “Isso contrasta com uma política de bloqueio que começa no final de março e deixa você se perguntando o que está por vir nos próximos 60 ou 80 dias”.

 

(com Dow Jones Newswire)

 

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