O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou na segunda-feira (08) o economista Gabriel Galípolo à diretoria de política monetária do Banco Central (Bacen).
A indicação de Galípolo já era esperada, de acordo com o estrategista da Nomos, Rodrigo Correa, por ser alguém que já atuava dentro do governo, sendo “braço direito” de Haddad.
“Então, eu até acredito que foi [com] uma certa naturalidade que foi recebida essa notícia.”
Por outro lado, as reações do mercado ao anúncio do ministro foram mistas, como afirma o analista de macroeconomia da Benndorf, Marco Ferrini.
Ambos os analistas apontam que pode-se atribuir a parcela de reação negativa do mercado ao posicionamento mais heterodoxo do economista, com Rodrigo destacando que esta não é a linha preferida do mercado.
Já os mais otimistas entendem que a aprovação do economista pode levar a novas perspectivas dentro do Copom, além de possivelmente auxiliar na conciliação entre o Bacen e o Planalto, segundo Marco.
“De todo modo, todos os horizontes da curva de juros avançaram no dia de ontem, assim como o dólar, precificando a moderação em torno da nomeação”, pontuou.
E a Selic? Como fica?
Os dois analistas acenam para uma provável atuação de Galípolo a favor de um corte na taxa de juros, não só por estar alinhado ao governo federal – sendo uma indicação dele -, mas também por seu caráter heterodoxo como economista.
A influência do possível novo diretor de Política Monetária do Bacen é igual à de Campos Neto, e por isso, e pelo fato do Comitê ser um colegiado, Rodrigo não acredita que as possíveis tentativas de corte na Selic de Galípolo tenham tanto peso enquanto o atual presidente da entidade estiver no comando.
Para ele, caso o economista assuma a presidência do Bacen em 2025, a sua influência pode vir a ser maior e convergir para um corte – caso um afrouxamento monetário ainda não tenha começado.
Entretanto, Marco destaca o caráter “moderado, conciliador e convencedor” de Galípolo, já bem conhecido pelo mercado financeiro.
O economista e diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, também sublinhou o caráter conciliador de Galípolo.
“Ele tem sido um elo entre o Banco Central e o ministério da Fazenda. Esse é um elo importante, apesar de que é importante que isso seja bem feito para não descaracterizar a independência dessas duas autarquias”, comentou em entrevista para a Jovem Pan.
O economista também reforçou que o diálogo entre as duas instituições é importante e que ambas precisam estar sincronizadas.
A Política Monetária
Os analistas apresentam visões divergentes quanto ao futuro da política monetária do Bacen.
Marco afirma não esperar um afrouxamento causado especialmente pela entrada de Galípolo na autarquia.
Ele projeta que o Bacen deve reduzir os juros a partir do segundo semestre “diante da desaceleração econômica, desemprego crescente, endividamento e inadimplência recordes e sinais positivos dos indicadores de inflação, mostrando uma desaceleração da mesma”.
O analista também destaca que o Boletim Focus divulgado na segunda-feira trouxe pela primeira vez em semanas uma queda nas expectativas de inflação para o ano, o que seria mais um sinal do provável afrouxamento a partir do segundo semestre.
Rodrigo, por outro lado, tem visão mais pessimista e entende que a “harmonização entre política monetária e fiscal” não ocorrerá baseada em “entendimento mútuo”, mas de forma forçada.
Ele reforça que, caso Galípolo venha a ser o presidente do Bacen em 2025, provavelmente irá “trazer o Banco Central para os interesses do governo”.
Beto Saadia acredita que o nome de Galípolo ainda guarda certos questionamentos, principalmente por conta de diferenças ideológicas em relação à diretoria atual e a Roberto Campos Neto.
Entretanto, ele lembra que o indicado tem “certo apadrinhamento” do atual presidente do Bacen, o que poderia realinhar o governo e a entidade.
O que disse o indicado?
Gabriel Galípolo negou ontem (09) a jornalistas a existência de qualquer sinalização do ministro Fernando Haddad para que ele presida o Bacen após a saída de Campos Neto, em 2025.
Ele completou dizendo que irá colaborar com o projeto do governo, à disposição “para jogar na posição que considerar mais adequada [pelo governo]”.
Ainda hoje, em entrevista para a CNN, ele afirmou que “seria estranho” se o presidente Lula indicasse alguém que não tivesse afinidade com seu governo.
Também reforçou que a lei de independência do Bacen está sendo respeitada e que tem boa relação com Campos Neto. “A ideia é que eu possa ser um facilitador para que essas duas políticas possam caminhar no mesmo sentido.”
Sobre a meta de inflação, Galípolo afirmou que o debate em seu entorno não foi colocado de “forma casuística” para tentar reduzir o juro. Ele explicou que a discussão sobre o assunto deve ser permanente, não de curto prazo.
O que faz um diretor de Política Monetária?
Segundo o site do Banco Central, o diretor de Política Monetária deve gerir a execução das medidas de política monetária e cambial, com objetivo de alcançar a meta da taxa Selic, além de garantir o funcionamento regular dos mercados.
O diretor também fornece orientação técnica em relação à gestão das reservas internacionais do país, do Sistema de Transferência de Reservas (STR) e do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).
Além disso, participa da definição de políticas relacionadas a sistemas de pagamento, câmaras de compensação e de liquidação, bem como outras infraestruturas do mercado financeiro.
Ele compõe a Diretoria Colegiada do Banco Central, em conjunto com o Presidente e os diretores de Administração, de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, de Fiscalização, de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, de Política Econômica, de Regulação e de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.