A CVC [CVCB3] anunciou, em fato relevante na semana passada, que o CEO da empresa, Leonel Andrade, renunciou ao seu cargo. A notícia veio menos de um mês após o CFO da companhia, Marcelo Kopel, também comunicar sua saída da empresa.
Além dos dois, Lilian Maria Ferezim Guimarães renunciou a seu lugar no quadro de membros no Conselho de Administração da empresa neste mês.
Leonel havia assumido a presidência da CVC em 2020, quando a empresa havia revelado erros na contabilidade.
Funcionários da companhia haviam ocultado erros na contabilização de valores transferidos aos fornecedores responsáveis pelas viagens de turismo.
O cenário pandêmico também preocupava na época, já que o setor de turismo foi um dos mais atingidos. O ex-CEO contava com um iminente boom assim que a cobertura vacinal se tornasse suficiente para a reabertura do país.
Entretanto, com a inflação em alta, muitas famílias brasileiras deixaram de lado gastos com o lazer.
Agora, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em queda, Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, aponta que o cenário de curto prazo pode ser benéfico para a empresa.
“Lógico, a médio e longo prazo, um problema de governança pode atrapalhar, mas acho que […] no curto prazo ajuda bastante o negócio.”
A CVC está em crise?
Apesar das duas saídas seguidas de executivos, uma apuração feita pelo Valor Econômico apontou que elas já vinham sendo coordenadas por uma consultoria de headhunter – especializada em seleção de pessoas para cargos executivos mais altos – há um mês.
De acordo com o jornal, já existe um favorito para ocupar a cadeira de CEO e a expectativa da CVC é finalizar a admissão nas próximas semanas.
Segundo o Valor, Andrade havia comunicado ao conselho a intenção de sair da empresa principalmente por motivos pessoais.
Todavia, também indicou um certo desgaste com o board da CVC em relação ao ritmo de reestruturação e recuperação, que se revelaram um pouco mais desafiadores do que o planejado inicialmente, devido ao cenário macroeconômico e a um mercado financeiro mais instável.
Vitorio avalia que estas saídas recentes não devem configurar uma crise em escalas maiores para a CVC.
Além de apontar ser melhor ter um CEO mais motivado no cargo – em referência ao fato de que Andrade estava cansado da posição -, o analista afirmou que a governança envolve mais pessoas do que apenas os diretores executivo e financeiro.
Por outro lado, o analista fundamentalista Max Bohm entende que estas trocas podem ser um problema sério para a CVC.
“Não acho que essas mudanças no time de gestão vão surtir efeitos positivos, principalmente nesse primeiro momento”, afirmou.
Segundo ele, a questão de governança corporativa é levada muito a sério pelos investidores, e estas trocas seguidas podem atrasar o processo de recuperação de credibilidade no papel da companhia.
A empresa já anunciou o novo diretor financeiro, Carlos Wollenweber.
O que fazer com CVCB3?
O papel é um dos que mais caem no ano, motivo de atenção para comprados, vendidos e interessados em abrir posição em CVCB3.
Vitorio aponta que os resultados ruins no 1T23 e o IPCA ainda num patamar relativamente alto pressionam a empresa, que segue alavancada.
O analista não tem recomendações para o papel, mas, caso a quem já tenha CVCB3 na carteira, aconselha a reavaliar a sua estratégia na aquisição do ativo.
“Se […] a estratégia continua intacta, acho que mantém. Se a tese mudou, tem que reavaliar.”
Max é incisivo: não vale a pena entrar em CVCB3 no momento. Além disso, caso o investidor tenha o papel na carteira, ele recomenda vendê-lo.
“Eu sairia do papel e iria para um outro case de varejo, um outro case mais equilibrado, que não esteja passando por uma reestruturação”, explica.