Dia do Petróleo Brasileiro: Qual o futuro da Petrobras (PETR3; PETR4)?

A fundação da Petrobras (PETR3; PETR4), em 1953, se tornou um marco histórico – literalmente. Para celebrar a nova estatal, o então presidente Getúlio Vargas determinou que 3 de outubro seria Dia do Petróleo Brasileiro. Quase 70 anos depois, as ações da companhia festejaram o aniversário com alta diária de 7,99% (PN) e 8,86% (ON) no fechamento da bolsa brasileira nesta segunda-feira (03).

A oscilação, no entanto, nada tem a ver com o calendário. O TradeNews conversou com três casas de análise distintas, e as três concordam: a valorização do petróleo no mercado externo impulsionou os papéis da estatal – assim como as demais petrolíferas da B3 –, mas o movimento ganhou força por conta do pós-primeiro turno.

Os contratos futuros para dezembro de 2022 do petróleo Brent, referência para a Petrobras, subiam em torno de 4,15% às 17h da segunda-feira. Tal se deve à reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), explica o analista Vitor Polli, da Levante Corp.

“Os membros do cartel se reunirão nesta semana presencialmente e podem cortar até 1,5 milhão de barris por dia (bpd) […] Tal corte, após corte recente de 100 mil bpd, restringe ainda mais a oferta.” Polli também correlaciona variação do Brent com a alta de PetroRio (PRIO3) e (RRRP3) na sessão.

A possível decisão da Opep “traz um cenário de preços de petróleo mais valorizado no curto/médio prazo”, acrescenta Felipe Ruppenthal, da Eleven Financial.

Todavia, ambos os analistas, assim como Júlio Borba, da Benndorf Research, dão maior ênfase às motivações políticas para a valorização de PETR3 e PETR4.

Sintetizando a reação do mercado, Júlio diz que, “a eleição de grande percentual de candidatos de direita, assim como a diferença menor do que o esperado pelo mercado entre Lula e Bolsonaro, devem forçar o candidato petista a rumar para o centro e fazer menos interferências na economia em caso de eleição, além da forte fiscalização e cobrança que enfrentará em ambas as casas legislativas para evitar casos de corrupção e má alocação do dinheiro público”.

Gráfico semanal de PETR4 em 3 de outubro de 2022. [Fonte: Filipe Borges/TradingView]
O desempenho de PETR4 na sessão graficamente ainda não indica uma reversão de tendência para altas, declara Filipe Borges, analista técnico da Benndorf Research. “O ativo vinha de topos e fundos descendentes no gráfico diário, com uma diminuição de volume e uma correção saudável depois do longo período de alta entre R$ 21,50 e R$ 35”. A expectativa de Borges era uma “correção saudável”, entre R$ 27 e R$ 25,50, “que hoje começa a desconfigurar um pouco”.

Para novas operações de compra de PETR4, o analista recomenda aguardar uma consolidação dos preços acima de R$ 32. “Caso contrário, eu aguardaria, porque o ativo pode voltar pra fechar gap e apenas continuar com o movimento de correção que havia começado há duas semanas”.

Projeções

O ex-presidente Lula obteve 48,43% dos votos no primeiro turno, contra 43,20% do atual presidente, Jair Bolsonaro. O segundo turno acontece em 30 de outubro, e os analistas projetam cenários para a Petrobras em caso de vitória de cada um dos concorrentes.

Cenário Lula

Felipe Ruppenthal sustenta que o “cenário para a Petrobras em um governo Lula é muito ruim, com o discurso que temos até então e pelo histórico da gestão PT na companhia também”. O analista prevê forte intervenção na gestão da companhia, incluindo suspensão do programa de venda de ativos e potencial recompra da Vibra, antiga BR Distribuidora.

Com relação ao referido discurso de Lula, Vitor Polli acrescenta: “apesar de ainda não apresentar propostas concretas, o candidato líder no primeiro turno já afirmou diversas vezes que não seguirá a política de preços vigente da estatal, o PPI, no qual os preços dos combustíveis no mercado local seguem a cotação do mercado internacional”.

“Com um repasse defasado (ou nulo), como na época da ex-presidente Dilma, a estatal tem que arcar com o prejuízo de se importar combustíveis a um preço mais elevado do que vende no país, visto que não somos autossuficientes em derivados de petróleo”, prossegue o analista da Levante.

Polli também espera uma retomada nos grandes investimentos em uma administração petista, “o que praticamente acaba com os gordos dividendos que vêm sendo distribuídos pela empresa”.

Volume de negociação de PETR4 em 3 de outubro de 2022. [Fonte: Bloomberg]
Júlio Borba pondera que, “mesmo que o Lula ganhe, será muito difícil para o candidato petista implementar toda a agenda econômica desejada pela ala mais radical do PT”, dada a eleição para o Congresso de candidatos “muito mais à direita do que nos anos anteriores”.

O analista da Benndorf espera “uma fiscalização muito mais intensa do que o habitual sobre uma eventual gestão do Lula, principalmente no tocante às estatais e corrupção”. Quanto à Petrobras, a expectativa da Benndorf para um eventual governo Lula é aumento de despesas com Capex, menor ou nenhum avanço no plano de venda de ativos, além leve interferência nos preços de venda.

“Por consequência disso, haverá boa redução na geração de caixa da companhia e dos dividendos distribuídos”. Contudo, a casa não vê um contexto claro para recomendação de “venda” de PETR3 ou PETR4, “dado que boa parte desses riscos já estão precificados”.

“Temos que ver como será o discurso agora, no segundo turno, se continua o mesmo ou será mais moderado em relação à Petrobras”, conclui o analista da Benndorf.

Cenário Bolsonaro

Caso reeleito, na visão de Júlio Borba, Bolsonaro teria “amplo apoio nas duas casas [Câmara e Senado] e conseguirá manter a redução de impostos aprovada recentemente nos combustíveis, aliviando as pressões no preço para o consumidor final e evitando interferências na política de preços da Petrobras”.

A Eleven ressalta haver risco de alteração na política de preços em uma nova gestão do atual presidente, “mas muito menor”. A casa também menciona um possível repasse mais lento de futuros aumentos de preços dos combustíveis.

No entanto, Felipe Ruppenthal classifica um novo mandato de Bolsonaro como positivo para a petrolífera de modo geral. “Vemos a continuidade do programa de venda das refinarias e demais ativos não core da companhia, a provável continuação do PPI”.

Players mais ativos em PETR4 em 3 de outubro de 2022. [Fonte: Bloomberg]
A Benndorf também espera continuidade do programa de venda de ativos, “viabilizando grande geração de caixa para a companhia e distribuição de dividendos para os acionistas”. A casa não acredita na privatização da Petrobras em um eventual segundo mandato, “dado que demandaria grande custo de capital político que provavelmente será direcionado para outros projetos”.

Assim, a casa sustenta recomendação de “compra forte” em Petrobras em um cenário Bolsonaro, dada a expectativa de geração de caixa “em decorrência da venda de ativos e do mercado apertado para o petróleo, assim como terá um re-rating nos múltiplos devido aos menores riscos e continuidade de padrões de governança mais alinhados ao mercado”, conclui Júlio.

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