As negociações na B3 nesta quinta-feira (22) devem repercutir a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom), que manteve a taxa Selic em 13,75%. Embora o BC tenha sugerido a possibilidade de a manutenção ser apenas uma pausa no processo de ajuste, a percepção de economistas e agentes do mercado ouvidos pelo Broadcast ontem é de que a autarquia encerrou o ciclo de aperto monetário.
Ou melhor, mais do que isso: para esses profissionais, o banco central tenta “apagar” as apostas em corte de juros já no primeiro semestre de 2023, como a curva do DI já aponta.
Dois pontos foram os mais citados para embasar essa visão. O primeiro foi o dissenso na decisão, com o placar de 7 votos a 2, os diretores Fernanda Guardado e Renato Dias Gomes foram favoráveis a aumento de 0,25 ponto percentual. Foi a primeira não-unanimidade no colegiado desde março de 2016. A hipótese de um “dissenso construído” para reforço da mensagem foi mencionada por profissionais de renda fixa.
O segundo ponto é uma interpretação do trecho do comunicado em que o colegiado diz que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. Essa sentença foi interpretada como uma forma de induzir os agentes a trabalharem com o cenário de Selic em nível elevado por um período prolongado.
“A ideia do BC é retirar os cortes da curva, é ajustar a precificação e, para isso, tem de usar uma comunicação mais forte, para que o mercado fique com receio de que pode aumentar juros”, disse economista do BTG Pactual Álvaro Frasson. Ele calcula que já há nos DIs precificação de cortes a partir de março de 2023.
Mesmo assim, alguns profissionais reforçaram as projeções de queda da Selic num futuro próximo. Citi vê o início de um ciclo de baixas da Selic no segundo semestre de 2023, com a taxa a 10,5% no fim do ano que vem, mas destacou que o dissenso no Copom é um claro sinal de “modo hawk” entre membros. A XP também avalia que os juros cairão na segunda metade do próximo ano, com eles chegando na virada para 2024 em torno de 10%.
O Barclays viu o comunicado do Copom como mais hawkish do que o esperado, apontando que o BC está agindo contra a precificação de cortes na Selic no início de 2023. O banco espera o início de um ciclo de cortes em junho do ano que vem, mas há risco de postergação caso haja um “acidente fiscal” no orçamento. Já o cenário do BTG é em taxa em 11% no encerramento do ano que vem.
Vale mencionar ainda que o Copom optou por manter a ênfase no primeiro trimestre de 2024 como horizonte relevante, ainda que se tenham dúvidas se a desoneração sobre os combustíveis, apontada como motivo original da adoção desse cenário, será revertida em 2023. No primeiro trimestre de 2024, a projeção do comitê para a inflação acumulada em 12 meses continuou em 3,5%.
“O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, reafirmou a autarquia.
(Com Agência Estado)