Por César Félix
Em 1994, o Brasil enfrentava uma crise econômica severa, com uma inflação descontrolada que comprometia o poder de compra da população. O plano real surgiu como um alívio necessário, trazendo estabilidade em meio ao caos econômico. Três décadas depois, refletir sobre essa transformação histórica nos permite analisar o impacto da adoção de novas tecnologias na indústria financeira.
Seu lançamento, junto a uma série de reformas fiscais e monetárias, foi crucial para conter a hiperinflação que assolava o país. A nova moeda não só estabilizou a economia, mas também lançou as bases para um crescimento sustentável e fortaleceu a confiança no sistema financeiro nacional. O êxito do plano real tornou-se um modelo para outras economias emergentes, marcando o início de uma nova era para o Brasil.
Nos últimos 30 anos, o real se consolidou como uma moeda estável, mas o cenário econômico global evoluiu rapidamente. O avanço das tecnologias financeiras está transformando a forma como interagimos com o dinheiro. Inovações como as criptomoedas e a tokenização de ativos estão criando uma nova dinâmica no mercado.
O Banco Central do Brasil, por exemplo, está introduzindo o DREX, uma moeda digital própria que visa aprimorar a eficiência e a inovação no sistema financeiro. O DREX promete transações mais rápidas e seguras, além de possibilitar uma maior integração com os sistemas monetários globais.
No entanto, enquanto o DREX, uma moeda digital centralizada e administrada por um banco central, busca otimizar o sistema financeiro tradicional, o universo das criptomoedas propõe um novo paradigma econômico. Moedas digitais como o Bitcoin não apenas introduziram uma forma alternativa de armazenar e transacionar valor, mas também provocaram uma reavaliação do papel dos intermediários financeiros.
Esses ativos digitais oferecem uma descentralização que pode parecer radical para alguns, mas que propõe uma democratização do acesso ao sistema financeiro global.
Se compararmos os dois cenários, a pergunta que surge é: em que medida as criptomoedas podem complementar ou até substituir sistemas financeiros estabelecidos, como o real? Com suas características de transparência e segurança, baseadas na tecnologia blockchain, as criptomoedas estão redefinindo conceitos de propriedade e valor. Elas não estão limitadas por fronteiras geográficas e podem potencialmente oferecer uma alternativa às moedas fiduciárias tradicionais em um futuro próximo.
Além disso, o crescimento das criptomoedas e das finanças descentralizadas (DeFi) levanta questões sobre a estabilidade financeira global. Se as criptomoedas se tornarem uma parte significativa do sistema econômico, como os governos e bancos centrais reagirão a essa mudança? Será necessário um novo tipo de regulação para equilibrar inovação e estabilidade?
A ascensão dos ativos financeiros tokenizados seguem o mesmo caminho. Instrumentos como Cédulas de Produtor Rural (CPRs) e consórcios tokenizados digitalizam ativos tradicionais, oferecendo maior facilidade de adoção, reduzindo custos e facilitando acessos antes restritos a players e investidores de grande porte. No entanto, isso também desafia a forma como entendemos e regulamentamos o mercado financeiro.
O desafio atual é integrar essas inovações de forma que aproveitem os sistemas financeiros existentes, enquanto incorporam o potencial das novas tecnologias. O DREX e a tokenização de ativos são apenas o início de uma nova era econômica, fundamentada nas lições do passado e voltada para um futuro mais eficiente e acessível.
Os 30 anos do plano real ressaltam a importância e a necessidade da adaptação em um mundo em constante evolução. O futuro promete novas transformações, e, assim como o real foi essencial para a estabilidade econômica brasileira, as tecnologias financeiras advindas da blockchain têm o potencial de redefinir o panorama econômico global. Estamos apenas no começo da exploração do impacto profundo das criptomoedas e das finanças digitais.
*César Félix é executivo e gestor da NovaDAX. Fundada no Brasil em 2018, a NovaDAX é uma das exchanges mais populares do país, com o maior número de pares de criptomoedas com reais (BRL) e uma das plataformas mais bem classificadas da América Latina segundo o CoinTrader Monitor.
O texto trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.