Dólar a R$ 5,70: para onde ir quando o câmbio está pior até que o do Japão?

Isabela Jordão

 

O dólar caminha para sua sétima semana seguida de alta frente ao real. A moeda americana alcançou os R$ 5,70 nesta terça-feira (02), cotação vista pela última vez em janeiro de 2022. Apesar de não ser a única moeda desvalorizada em 2024, a divisa brasileira se destaca negativamente frente à maioria dos pares.

Com 14,24% de queda frente ao dólar neste ano, o iene japonês é quem mais se aproxima do desempenho do real, que cai 17,22% segundo os dados da plataforma Yahoo Finance. O peso argentino recua 13,18%, a lira turca 10,33%, o peso mexicano 7,51% e o yuan chinês 2,30%. A rúpia indiana tem a melhor performance, com apenas 1,36% de baixa.

Desempenho do dólar frente ao real em 2024. [Fonte: Bloomberg]
A moeda brasileira está na mesma direção de outras na América Latina, porém em uma intensidade pior, comenta Marco Saravalle, sócio e CIO da MSX Invest. “Nossa desvalorização realmente foi surpreendente.”

Contrapondo a fala do ministro Fernando Haddad em 16 de abril, na qual atribuiu “dois terços” da alta do dólar ao cenário externo, Saravalle afirma ver um cenário exatamente oposto, no qual a percepção de risco local é o principal vetor. “Lógico, a gente também tem os fatores externos, sobretudo em relação à política monetária norte-americana.”

A despeito do quadro nacional, também há influência do que o especialista classifica como atraso do afrouxamento monetário nos EUA em relação a diversas outras políticas monetárias ao redor do mundo. Consequentemente, investidores optam cada vez mais por alocar recursos na maior economia do mundo, trazendo força para o dólar em relação a outras moedas.

Desempenho do dólar frente ao iene em 2024. [Fonte: Bloomberg]
Renato Nobile, analista e gestor da Buena Vista Capital, vai em direção semelhante. “O cenário global é praticamente o mesmo para todo mundo, mas localmente a gente tem muito ruído, muita comunicação negativa por parte do governo”, o que explica a desvalorização mais acentuada do real frente a outras moedas.

“Não era para estar nesse sentido pela atual situação da economia”, contrapôs Renato, mas a piora nas projeções devido à comunicação interna do governo fazem do Brasil o pior câmbio emergente.

Ao falar do que pode tornar o mercado brasileiro atrativo para o investidor estrangeiro novamente, Renato não alonga palavras. É necessário previsibilidade. “Infelizmente, há comunicação truncada do governo, e é um governo muito, muito gastador,  que gasta muito mal.”

Desempenho do dólar frente ao peso mexicano em 2024. [Fonte: Bloomberg]
Bruna Allemann, head de investimentos internacionais da Nomos, concorda. “A fuga de capital do Brasil é impactada principalmente pela instabilidade política, econômica e judiciária.”

Segundo a economista, recentes declarações de Lula refletem a complexidade do cenário atual. O presidente tem questionado a autonomia do Banco Central, sugerindo interferência na política monetária. “Além disso, o presidente não tem demonstrado preocupação com o déficit fiscal e não sinalizou cortes de gastos, o que aumenta a insegurança dos investidores.”

Mudanças no cenário conflituoso, com Lula exibindo preocupação com a política fiscal e compromisso claro com a estabilidade econômica, “seriam um bom começo para reconquistar a confiança dos investidores estrangeiros”, aponta Bruna.

O analista técnico João Tonello não vê sentido em projeções para o desempenho do dólar. Habituado aos gráficos, ele vê razoabilidade apenas para projeções de day trade, dado o recorte de tempo mais limitado.

Para prazos mais longos, ele é categórico: “um dia muda tudo”, portanto o cenário macroeconômico é mais importante. Sendo assim, ele ressalta que o panorama “continua desfavorável ao câmbio, com dólar pressionado para cima em meio ao nosso risco na agenda fiscal”.

Desempenho do dólar frente à lira turca em 2024. [Fonte: Bloomberg]
E não são apenas os bancos e instituições da Faria Lima que podem tirar proveito da alta do dólar. Para quem deseja se posicionar no mercado americano, Bruna recomenda os ETFs. “São uma excelente alternativa de dolarização do patrimônio.”

Os ETFs de renda são mais adequados para perfis conservadores, como os títulos SHY e IEF, que garantem exposição aos juros americanos.

Ela também recomenda ETFs referenciados no S&P 500, índice que acompanha as 500 maiores empresas dos EUA. São adequados para perfis moderados e arrojados.

“Escolher as ações dentre mais de 6.000 opções [listadas em Nova York] pode ser para um segundo momento”, completou Bruna. “Todo investidor deve estar alocado no índice que praticamente acompanha a economia americana e as maiores empresas do mundo.”

Desempenho do dólar frente ao peso argentino em 2024. [Fonte: Bloomberg]
Adicionalmente, a especialista cita os ETFs de ouro, que servem como “proteção da proteção” contra volatilidades. Há inclusive ETFs no mercado americano referenciados em ouro – ou seja, ouro em dólar.

De todo modo, a necessidade de dolarização e a fuga de capital para economias mais estáveis, como a americana, são evidentes em tempos de incerteza, diz Bruna. “A economia americana tem se mostrado resiliente, mesmo diante da alta inflação”, com a inteligência artificial sendo responsável por mais de 40% desse crescimento.

Embora não seja possível prever até quando esse impulso continuará, dolarizar o patrimônio é sempre uma estratégia recomendada, prossegue ela. “Afinal, o dólar caro é aquele que você ainda não tem.”

 

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