Dólar abaixo de R$ 4,80: trades possíveis e o Banco Central com isso

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O dólar sustenta o patamar inferior a R$ 4,80 – registrado nesta semana, pela primeira vez desde 6 de junho do ano passado. Apesar da leve alta na terça-feira (20), o câmbio americano totaliza desvalorização de 5,3% frente ao real este mês.

Hora da viagem para a Disney? Talvez. A abordagem da Benndorf sobre o câmbio trata apenas das operações com contratos de dólar futuro [WDO]. 

A casa de research vê a cotação da divisa americana voltando a testar a linha de tendência de baixa nesta quarta-feira (21), após ter passado por uma consolidação nos gráficos de 30 minutos.

O atual patamar representa um divisor de águas para a tendência e estratégia no WDO.

O alvo de curto prazo é R$ 4,70, afirmou Victor Benndorf, CEO e analista-chefe.

Para operações hoje, ele recomenda atenção ao discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, ao Congresso americano, o qual pode impactar no câmbio à medida que o mercado aguarda a decisão do Copom.

Benndorf vê tendência baixista no WDO, com resistência principal em R$ 4,81, suporte imediato em R$ 4,79 e suporte secundário em R$ 4,74. [Fonte: Benndorf Research]


“A gente tem que ajustar as operações de trading em função do mercado.” Para operar futuros de dólar, o primeiro passo é entender a projeção de alvo para o dia, aconselha.

Na prática, traders precisam “fazer a lição de casa”, prosseguiu o especialista, através do que ele chama de “tirar o zoom”. Isto é, olhar o contexto geral do mercado, os drivers e o gráfico mais longo do dólar – para entender os limites de oscilação.

A Benndorf recomenda cautela nas compras do dólar futuro abaixo dos R$ 4,82. Um sólido rompimento dos R$ 4,79 deve sustentar o canal de baixa, abrindo espaço para novas vendas.

E o Copom?

A decisão do Copom desta quarta-feira (21) não vai afetar o dólar, explicam os dois especialistas ouvidos pelo TradeNews

“O BC não impacta o câmbio, a não ser que venha algo muito fora do esperado, que não tem acontecido nos últimos 10, 20 anos”, sintetizou Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos.

O câmbio não reage à decisão de política monetária, mas precifica antes que ela aconteça, destrincha Victor. No mercado financeiro, afinal, boato vem antes do fato. 

Além disso, a função do Banco Central não é surpreender, mas consolidar a taxa de juros já precificada pelo mercado, acrescenta Beto.

“A gente está falando de juros futuros. São esses juros que são negociados para ano que vem, para daqui a cinco anos, negociados na bolsa diariamente.”

Ou seja, o Comitê de Política Monetária do Banco Central apenas segue a tendência, na maioria dos casos — são os chamados “juros spot”.

O especialista conclui que as reuniões do Copom, apesar do barulho na mídia, pouco impactam o mercado. Investidores geralmente reagem a alguma prospecção para o futuro feita no comunicado ou na ata.

“Mas mesmo assim não impacta muito”, ponderou Beto.

Em contrapartida, as possíveis reações do Copom ao dólar são um questionamento muito mais pertinente.

Afinal, prosseguiu Beto, uma desvalorização do câmbio americano como a atual não estava nos planos de ninguém e que, “prospectivamente falando, vai ajudar muito no trabalho de controle de inflação”.

O retrovisor e o parabrisa

Dos seis meses corridos em 2023 até então, o real subiu em cinco, fruto de uma série de notícias positivas dentro de um período curto.

Segundo Beto, a enxurrada de bons drivers começou em maio, mas ganhou ainda mais tração neste mês. A começar pelo arcabouço fiscal, que veio “até mais rigoroso do que estava no papel”. 

A tramitação da proposta está adiantada: prevista para julho, já passou pela Câmara e está no Senado. 

Também houve revisão positiva de crescimento do PIB, encabeçada principalmente pelo agronegócio. 

“É uma revisão totalmente inesperada porque, caramba, com a taxa de juros tão alta, a gente não espera que o país cresça tão forte. Geralmente é o contrário.”

A expectativa era de mais contração, diz Beto, por conta do efeito cumulativo da taxa de juros restritiva e estacionariamente alta. 

Mais recentemente, na semana passada, a agência de classificação de risco S&P revisou para cima a perspectiva do Brasil. 

Adicionalmente, a economia brasileira viu uma expressiva desvalorização de commodities, em especial o preço do petróleo. 

Em suma, “foram muitas coisas que aconteceram, num espaço muito curto de tempo, que acabou atraindo muito capital para o Brasil”. O resultado da atração de capital invariavelmente é a valorização da moeda local. 

Para as próximas semanas, o principal impacto no preço do dólar deve vir principalmente do fluxo dos fundos. Beto comenta que houve resgate intenso nos fundos de ações, nos fundos de multimercados e renda fixa. 

“Muito dinheiro foi para título público, foi para CDBs em geral.” E se o dinheiro volta para os ativos de risco, dada a animação do público com a bolsa de valores, tanto os gestores quanto investidores estrangeiros voltam a comprar esses fundos e ações brasileiras. 

“Tem muito dinheiro ainda pra entrar nesse tipo de investimento, que é chamado investimento de risco, de maior risco, porque as pessoas estão animadas com o Brasil”, projeta o especialista.

Esse dinheiro, acrescenta, não começou a entrar ainda, principalmente nos fundos brasileiros. A partir do momento em que o dinheiro começar a entrar, os fundos voltam a captar, assim como a fazer posições compradas em real e vendidas em dólar. 

“Obviamente”, frisou Beto, “estou falando desse cenário caso nenhuma surpresa negativa aconteça daqui pra frente”.

Nesse aspecto, a recente decisão sobre as principais taxas de juros da China pode ser um percalço. 

O Banco Popular da China (PBoC) reduziu os juros menos que o previsto na madrugada desta terça-feira, mesmo após sinais de desaceleração econômica na passagem do primeiro para o segundo trimestre. 

“De resto, a gente já vê os principais drivers bem precificados”, conclui Victor Benndorf.

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