O dólar tem demonstrado uma volatilidade considerável neste mês de julho, com movimentos de alta e baixa que deixam o mercado em compasso de espera. De acordo com um relatório recente do Bank of America (BofA), a moeda americana, que ensaiou uma recuperação no início do mês, agora parece estar “presa perto das mínimas”, sem um direcionamento claro. A instabilidade é atribuída a uma combinação de fatores, incluindo dados econômicos dos EUA, incertezas tarifárias e as perspectivas em relação ao Federal Reserve (Fed).
Ventos cruzados afetam recuperação
O BofA destaca que, apesar de dados econômicos americanos mais resilientes em julho e do contínuo bom desempenho das ações dos EUA – especialmente nos setores de tecnologia e inteligência artificial –, o dólar não conseguiu sustentar um rally mais forte. Preocupações com a demanda por ativos americanos foram aliviadas, e o impacto das manchetes sobre tarifas diminuiu, com o mercado demonstrando “sede de seguir em frente”, deixando para trás os prêmios de risco negativos associados a tarifas mais punitivas.
No entanto, o relatório aponta que o “elefante na sala” é o futuro da liderança do Fed, que tem sido um “curinga” e, possivelmente, o maior entrave para a recuperação mais consistente do dólar. Mesmo com a expectativa de uma transição de liderança mais convencional, o mercado já começa a considerar um cenário com um Fed menos restritivo. A depreciação recente do dólar, segundo o BofA, reflete o estreitamento dos diferenciais de juros reais e uma inclinação mais acentuada da curva de juros do Tesouro dos EUA, ambos potenciais indicadores de uma “independência degradada do Fed”.
Resiliência de dados e impacto no dólar
O relatório do BofA ressalta alguns “ventos favoráveis tênues” que tentaram impulsionar o dólar. Os dados de emprego de junho, por exemplo, com queda na taxa de desemprego (para 4,1%) e adições resilientes de folhas de pagamento, reforçaram a narrativa de “dados concretos” nos EUA. Além disso, a desaceleração nos pedidos de seguro-desemprego e as vendas no varejo resilientes também contribuíram. O desempenho superior das ações americanas, especialmente as ligadas à IA, também direcionou o mercado para fatores mais centrados nos EUA.
No que tange às tarifas, o BofA observa que a data de 9 de julho para diversas cartas tarifárias passou sem impacto significativo no mercado. Apesar de avançar para mais clareza em 1º de agosto, as perspectivas para o desfecho das tarifas ainda são incertas. Contudo, o impacto das manchetes tarifárias no mercado tem diminuído, sugerindo que o “prêmio de risco tarifário” deixou de ser o principal fator cambial, e a cotação diária do dólar voltou a se alinhar aos movimentos das taxas de juros.
Futuro do Fed e impacto de longo prazo
Com o resultado da taxa de juros de julho quase certo, o foco do mercado se volta para a reunião do FOMC de setembro, dependendo da evolução dos dados nos próximos dois meses. O relatório de emprego de junho marcou o pico de precificação para os cortes esperados em setembro, que desde então diminuíram. O BofA destaca a preocupação com a acomodação ou restrição da política do Fed sob a próxima liderança. A possibilidade de uma degradação da independência do Fed, com uma priorização de considerações fiscais sobre o mandato de inflação, tem sido um fator na depreciação acumulada do dólar no ano, mesmo com as expectativas de inflação de longo prazo permanecendo ancoradas.
Essa incerteza sobre o futuro da liderança do Fed, com manchetes conflitantes sobre o presidente Powell, aponta para mais do que apenas incertezas de curto prazo. A percepção de que o Fed está prestes a se inclinar para uma postura mais dovish (branda), independentemente do estado da inflação, tem limitado a capacidade do dólar de ter uma recuperação mais concertada em julho. Isso se reflete nos diferenciais de juros reais deprimidos e na inclinação contínua da curva de juros do Tesouro dos EUA.
SAIBA MAIS: Para não perder nenhuma notícia do mercado e estar atualizado em tempo real, clique aqui e faça parte da Nomos+, a plataforma feita de investidores para investidores.