Os frigoríficos já acumulam entre 29% e 42% de perdas neste ano, com exceção de Minerva (BEEF3), que opera descolada dos pares e salta 38,20% no mesmo período. Fora Minerva, o setor possui mais três representantes dentro do Ibovespa: Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3).
O principal motivo da forte queda do setor é a mudança de ciclo da carne bovina nos Estados Unidos, onde os spreads vem se reduzindo e há menor disponibilidade de animais para abates, afirma o head de análise fundamentalista da Benndorf, Niels Tahara. Assim, “as empresas com maior exposição ao país, como a Marfrig e a JBS, devem apresentar resultados menores comparado ao ano de 2021”, complementa.
Mesmo com dados negativos, é o momento de apostar em frigoríficos, segundo a Eleven Financial e a Benndorf Research. A categoria negocia a múltiplos que já embutem uma grande queda nos resultados, com desconto excessivo, de acordo com a Benndorf.
Apesar da contração dos volumes e preços de exportação para a China, em função da recuperação da produção local e o consumo restrito por conta da pandemia de Covid-19, a Eleven Financial também enxerga um bom cenário para os frigoríficos, devido à demanda global por proteínas ainda aquecida e os preços que permanecem elevados.
“Com uma redução dos spreads bovinos nos EUA, que estavam em patamares bastante acima do histórico, acreditamos que a América do Sul deve ganhar espaço nas exportações globais, principalmente com o aumento da oferta de gado na região”, afirma a casa de análises.
Qual papel comprar?
Mesmo com a forte queda neste ano, Diana Stuhlberger, analista do setor de alimentos e bebidas da Eleven, recomenda compra de BRF e Marfrig. Enquanto isso, Niels, da Benndorf, aposta em Minerva.
Depois de dois anos de spreads bovinos recordes nos EUA, a analista da Eleven acredita que a reversão do ciclo pode já ter iniciado com a queda de 22% ao ano na diferença entre o preço de compra e o de venda. Desta forma, as margens na região deverão se acomodar em níveis mais próximos ao histórico até o final do ano, segundo ela.
Enquanto isso, a América do Sul deve ganhar gradualmente espaço nas exportações, onde a Marfrig também se encontra bem posicionada. “Somando mais um robusto desempenho trimestral à perspectiva positiva que temos para a companhia, reiteramos nossa recomendação de compra para a MRFG3, com preço-alvo de R$ 40”, afirma Diana.
Quanto à BRF, apesar de um ambiente consumidor desafiador no mercado doméstico, um possível downtrade da carne bovina para as carnes suína e de frango podem ser benéficos para a empresa, segundo Diana. Ela indica preço-alvo de R$ 25.
“No caso da companhia, que não possui operações de bovino e somente de frango e suínos, a queda deveu-se a toda essa dúvida da mudança de gestão e resultados ruins no começo do ano que agora melhoraram”, disse Diana e Matheus de Moraes, ambos analistas do setor de alimentos e bebidas da Eleven. “Os preços de suínos na China também caíram muito, o que atrapalhou as margens de exportação”, concluíram.
Enquanto Diana mantém neutralidade, o especialista da Benndorf acredita ser o momento de comprar ações da Minerva. A preferência se dá por conta da exposição a um “ciclo doméstico positivo” e à demanda do sudeste asiático, onde o consumo de carne tem sido crescente e os preços têm se mantido em patamares elevados.
Para a JBS, a forte recuperação da Pilgrims, impulsionada pela alta do preço do frango nos Estados Unidos, colaborou para o valuation da companhia, observou a Eleven. O resultado da Seara também voltou a recuperar com o custo da soja e do milho recuando de suas máximas e a companhia conseguindo elevar o preço de seus produtos.
Contudo, ainda segundo a casa, para a carne bovina, nota-se uma inversão de ciclo nos EUA, enquanto as margens no Brasil voltaram a se recuperar. “Acreditamos que a ação já precifica um cenário de margens menores nos EUA, além de custos das commodities ainda elevados”. A Eleven mantém recomendação neutra para JBSS3, com preço-alvo de R$36.