O atual desequilíbrio econômico do Credit Suisse tem gerado preocupação em todo o mundo, e não é diferente no Brasil. Com a presença significativa da instituição no mercado financeiro brasileiro, a crise pode implicar na economia do país.
Como um dos maiores bancos de investimento estrangeiros na América Latina, o Credit Suisse tem papel relevante no mercado de capitais e na oferta de serviços financeiros a clientes locais e internacionais.
Nesse contexto, analisar a relação entre a crise do banco e a economia do Brasil é o primeiro passo para identificar os possíveis impactos e as medidas a serem adotadas para minimizá-los.
Segundo o analista fundamentalista da Benndorf Research Júlio Borba, o maior impacto relacionado ao banco pode ser a venda das operações do Credit Suisse no Brasil, embora a Suíça já tenha declarado que vai socorrer a organização, segundo maior banco do país.
Júlio reitera que, “em escala maior, temos uma deterioração das expectativas econômicas, que se continuar, pode causar uma crise no mundo inteiro.”
Na noite da última quarta-feira (15), o Banco Central Suíço afirmou que vai emprestar 50 bilhões de francos suíços à instituição financeira, além de realizar uma série de operações de recompra de títulos da dívida, por quase 3 bilhões, na mesma moeda.
Como a crise do Credit Suisse pode afetar o Brasil
O banco suíço é um importante player no mercado financeiro do Brasil, com grande presença em áreas como fusões e aquisições, gestão de patrimônio e emissão de títulos.
Com a atual crise, é possível que haja uma desaceleração em algumas áreas do banco, o que pode gerar uma queda nos investimentos e, consequentemente, na atividade econômica.
Além disso, a crise também pode abalar a confiança de investidores e clientes no sistema financeiro como um todo, o que pode ter efeitos negativos de longo prazo na economia brasileira.

O analista fundamentalista da Benndorf considera que, embora o Brasil seja impactado pelos resíduos gerados pelo escândalo, o país corre riscos de baixo escalão, afinal “os bancos brasileiros estão entre as operações mais sólidas e conservadoras do mundo, o que nos permite passar por períodos de grande turbulência sem muitas dificuldades”.
Para Marco Ferrini, os desdobramentos da crise do Credit Suisse podem sim ter efeito sobre a taxa Selic, também tendo em vista que a economia brasileira vem perdendo fôlego.
“Vemos uma pressão menor sobre o BC para sustentar a taxa Selic no patamar atual e acreditamos que a autarquia deve começar a reduzir os juros a partir do segundo semestre deste ano”, declarou Marco.
Como começou a crise do Credit Suisse
A crise do Credit Suisse teve como estopim a exposição do banco a investimentos de alto risco, como os fundos das gestoras Greensill Capital e Archegos Capital Management. Em março de 2021, a Greensill entrou em recuperação judicial, causando perdas significativas para o Credit Suisse e outros bancos que investiram na empresa.
Pouco tempo depois, em abril do mesmo ano, o fundo de investimento Archegos, que tinha exposição significativa ao Credit Suisse, sofreu perdas excessivas em suas posições devido a uma série de chamadas de margem.
A crise resultou na renúncia em 2022 do CEO do Credit Suisse, Thomas Gottstein, e em uma investigação interna para determinar as falhas no gerenciamento de risco do banco.
De volta ao passado: 2008 e as crises dos bancos
Os títulos de dívidas em dólar do Credit Suisse afundaram para níveis de estresse, normalmente associados a empresas em apuros, na última quarta-feira (15).
A aversão ao risco dos agentes financeiros levantou comparações com a crise de 2008 nos EUA, principalmente ao considerar também os problemas dos bancos regionais americanos Silicon Valley Bank, Signature e First Republic Bank.
A chamada “crise do subprime”, de 2008, nos Estados Unidos, foi um marco histórico que abalou a economia global. A ruína do mercado imobiliário americano gerou um efeito dominó que atingiu vários setores da economia, levando à falência de bancos, empresas e instituições financeiras em todo o mundo.
De acordo com Marco, embora a relação entre os acontecimentos não sejam a história refletindo o passado, os casos de fato assemelham-se.
“O banco [Credit Suisse] passou a enfrentar problemas desde os colapsos do Greensill Capital e do Archegos, hedge funds, com quem mantinham negociações e que acabaram falindo em função de escândalos”, Marco Ferrini.
Enquanto a crise de 2008 foi desencadeada por uma bolha imobiliária e pela concessão indiscriminada de empréstimos, a crise do Credit Suisse é resultado de perdas significativas, que ocultaram riscos e manipularam informações para obter lucro.
Ainda que diferentes em suas origens, ambas compartilham de um motor em comum: lacunas de ética no setor financeiro.