À medida que as taxas de juros dos EUA sobem, os fundos do mercado monetário (FMM) do país se ajustam mais rapidamente do que as contas bancárias, dando às empresas um incentivo para transferir seu dinheiro para este tipo de aplicação a fim de obterem retornos mais altos.
Durante a pandemia, as organizações acumularam níveis recordes de caixa e estacionaram grandes quantias em contas bancárias, onde normalmente geravam pouco ou nenhum retorno. As baixas taxas de juros significavam que havia poucas razões para mudar para os FMM, uma forma de fundo mútuo que investe em títulos de dívida de curto prazo, incluindo títulos do Tesouro e papel comercial.
Mas isso está mudando conforme o Federal Reserve aumenta agressivamente as taxas de juros para combater a inflação elevada. Ontem (27), o banco central americano aumentou sua taxa de fundos federais pela quarta vez este ano, em 0,75 p.p., como era amplamente esperado – o que elevou a variação do benchmark para 2,25% a 2,50%.
Em meio à campanha de aumento das taxas, os rendimentos dos FMM americanos dobraram em junho para uma média de 1,23% e saltaram para uma média semanal de 1,36% na segunda-feira (25), segundo dados da Crane Data, que acompanha os fundos monetários. Os bancos, no entanto, têm sido lentos em aumentar os rendimentos, pois ainda mantêm grandes quantidades de dinheiro e não buscam atrair mais.
“É cada vez mais difícil para as empresas permanecerem em contas bancárias enquanto há substitutos atraentes e próximos disponíveis”, disse Mark Cabana, chefe da divisão de estratégia de taxas dos EUA no braço de pesquisa global do Bank of America.
Os ativos desses fundos subiram nas últimas semanas, depois de terem caído no início do ano, quando as empresas retiraram dinheiro para pagar a Receita Federal e liquidar outras dívidas. Até segunda-feira (25), US$ 5,018 trilhões estavam nestas aplicações, US$ 30 bilhões acima quando comparados ao final de junho e US$ 58,3 bilhões desde 31 de maio, também de acordo com a Crane Data.
Entre as empresas que procuram se beneficiar de rendimentos mais altos no mercado monetário está a Hewlett Packard, corporação de tecnologia sediada em Spring, no Texas. “À medida que as taxas sobem, a oportunidade da taxa aumenta”, disse Kirt Karros, vice-presidente sênior de finanças e tesoureiro da empresa. “Cada dólar conta. Vamos movimentar dinheiro consistentemente se pudermos obter retornos adicionais.”
A HPE tende a limitar a duração de seus investimentos em FMM a 90 dias ou menos, disse Kirt. “Esses produtos tendem a ser muito competitivos”, disse ele, acrescentando que a empresa movimenta seu dinheiro diariamente quando necessário. “Nós colocamos o dinheiro para trabalhar.”
A operadora de rede de farmácias Walgreens Boots reportou uma participação em fundos do mercado monetário de US$ 2,17 bilhões durante o trimestre encerrado em 31 de maio, acima dos US$ 634 milhões do final de agosto. A empresa não quis comentar sobre o aumento recente.
A Micron Technologies, fabricante de chips com sede em Boise, em Idaho, divulgou US$ 105 milhões em investimentos em fundos durante o trimestre encerrado em 2 de junho, valor acima dos US$ 38 milhões no período encerrado em 2 de setembro. “Os fundos do mercado monetário estão proporcionando melhores retornos do que 6 a 12 meses atrás, mas os retornos atuais ainda estão abaixo de outras alternativas de curto prazo disponíveis para a Micron”, disse a empresa, recusando-se a dar mais detalhes.
A Whirlpool, fabricante de máquinas de lavar e outros eletrodomésticos de Benton Harbor, em Michigan, está acompanhando de perto os movimentos das taxas de juros, disse Jim Peters, diretor financeiro da empresa. “Quando as taxas de juros são favoráveis, podemos utilizá-las”, disse Jim.
Banqueiros e provedores de serviços financeiros disseram ter notado um aumento no interesse das empresas no assunto. “Tenho muitas conversas com clientes sobre isso”, disse Christopher Tufts, chefe global de gerenciamento de portfólio e negociação para o negócio de fundos do JP Morgan Asset Management. “Obter rendimento acima de zero tornou o produto atraente para os clientes, especialmente devido à volatilidade no mercado mais amplo”, disse ele. O banco se recusou a comentar se aumentou as taxas de juros sobre depósitos corporativos.
Os investidores do tesouro consideram os fundos quase tão seguros quanto o dinheiro em caixa e valorizam o fato de que os valores investidos permanecem altamente líquidos e acessíveis. Muitas empresas usam esses fundos para estacionar seu dinheiro durante a noite ou por alguns dias, com outras saindo por vários meses, comentou Peter Crane, presidente da Crane Data.
Os bancos têm demorado a repassar taxas de juros mais altas para clientes corporativos, já que as instituições financeiras continuam com muito dinheiro ocioso, comentou Priya Misra, chefe de estratégia de taxas globais do TD Securities, um banco de investimento canadense. O beta de depósito, que ajuda a calcular os juros que os bancos repassam, é estimado em cerca de 0,05 p.p. para os primeiros 2 p.p. em aumentos nas taxas de fundos federais, o que significa que as empresas veem muito pouco benefício, disse Priya. “Um fundo do mercado monetário repassará aumentos de juros mais alinhados com o Fed, então há mais incentivo para movimentar ativos”, afirmou.
Em alguns casos, os bancos estão pagando uma taxa de crédito de lucros de 0,19 p.p. e cobrando uma taxa de administração de depósitos de 0,15 p. p., resultando em um spread efetivo líquido de 0,04 pontos percentuais, disse Dave Robertson, chefe de soluções de tesouraria da PMC Treasury, um empresa de serviços financeiros. “Estamos recebendo mais perguntas sobre opções de rendimento de nossos clientes”, disse Robertson.
Os FMM geralmente não repassam as mudanças nas taxas de juros imediatamente, o que pode fornecer uma vantagem às empresas, caso o Fed avance para cortar as taxas no próximo ano, como esperado por alguns investidores. Se as taxas de juros caírem, haverá um intervalo de tempo até que os rendimentos caiam, disse Vanessa Hubbard McMichael, chefe do grupo de estratégia CPE do Wells Fargo Securities, que aconselha entidades corporativas e públicas sobre investimentos em dinheiro.
O banco disse que seus custos de depósito aumentaram para 0,04 p.p. no segundo trimestre, acima de 0,01 p.p. no primeiro trimestre, impulsionado principalmente por sua divisão de banco corporativo e de investimento.
As empresas também acompanharão as possíveis mudanças da Securities and Exchange Comission (SEC), a CVM americana, que está analisando uma possível revisão dos fundos do mercado monetário. O órgão regulador está considerando a introdução dos chamados preços oscilantes, que resultariam em fundos cobrando taxas de resgate em casos de saídas significativas. Um anúncio é esperado ainda este ano.
(Com Dow Jones Newswire)