Especial BVRJ: a Wall Street carioca atinge seu auge

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Os anos 1960 e 1970 no Brasil são conhecidos por muita coisa: a contracultura, as vestimentas largas dos hippies, a Tropicália, Roberto Carlos e o início da ditadura militar. O que muita gente não sabe é que enquanto o resto do país começava a viver os anos de chumbo, na Praça XV de Novembro, no centro da Cidade Maravilhosa, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) iniciava seus anos dourados.

Como relatado na primeira reportagem da série especial, a BVRJ passou por altos e – muitos – baixos antes de conseguir finalmente se firmar. Segundo o professor e economista Carlos Cova, até os anos 1960, a praça fluminense tinha um número fixo de corretores, em 40, além do cargo ser vitalício. 

Entretanto, a partir desta década, uma série de medidas foram tomadas a fim de mudar a forma de se negociar na BVRJ.

Repaginada

Em julho de 1965, no primeiro governo da ditadura, o então presidente, Humberto Castello Branco, sancionou a Lei do Mercado de Capitais. A regra visava desenvolver o mercado no Brasil, além de instaurar o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional. 

“Isso criou, basicamente, o arcabouço institucional que se tem hoje”, disse Carlos.

De acordo com o economista, as corretoras passaram a ter mais liberdade dentro da BVRJ, expandindo seu papel dentro do mercado financeiro. Foi nessa época, que o Rio de Janeiro testemunhou um boom de lançamento e valorização de ações até atingirem seu auge, em 1971.

Por outro lado, diferente da crise instaurada no final do século XIV, o governo optou por intervir nas negociações antes que a bolha especulativa que estava se desenvolvendo estourasse de forma expressiva outra vez. 

“O governo, preocupado com aquela especulação, criou uma série de restrições”, expôs Carlos. 

Entretanto, o dano já estava feito. A partir do ano de 1971, a centenária Bolsa de Valores do Rio de Janeiro começava a perder sua relevância para a irmã mais nova, a Bolsa de Valores de São Paulo. 

Modernização

Ainda assim, o mercado fluminense seguia pujante ao longo da década de 1970. A BVRJ viu a chegada dos mercados futuros e, em 1979, o nascer do mercado de opções, explica Carlos.

O professor também atribui a Marcello Leite Barbosa – fundador da famosa corretora M. Marcello Leite Barbosa – diversas inovações para a época, como o departamento de open market, além da campanha que sua empresa travou para atrair as mulheres ao mercado de ações.

Em 1976, foi instaurada a Comissão de Valores Mobiliários, que passou a funcionar no Rio de Janeiro para regular o mercado de capitais. Também foi nesse período que a informatização chegou ao prédio espelhado da Praça XV de Novembro. 

“A Bolsa do Rio de Janeiro resistiu; ela passou por aquele momento [1971] e […] até se desenvolveu bastante.”

Apesar de todos os aparatos que surgiram com os anos 70, uma máxima ainda imperava: dava-se melhor na Bolsa quem detinha meios de obter informações privilegiadas. 

Em um mundo analógico – tanto pela tecnologia da época quanto pelas leis atrasadas –, era difícil que todos pudessem se capacitar da mesma forma.

“Os mais, vamos dizer assim, sagazes se valiam do tempo de demora de compensação de papéis; valiam-se de arbitragem entre uma bolsa e outra, valiam-se da facilidade que tinham de receber informações internacionais antes do residentes”, expôs Carlos.

Até 1980, o economista deixa claro que a BVRJ tinha tanto destaque ou até mais que a paulista Bovespa. Para o professor, na chamada “década perdida”, a praça fluminense atingiu “seu apogeu”. 

No entanto, o mercado de capitais, diante de tanta modernização, iria cobrar o prédio espelhado da Praça XV de Novembro e seus corretores. “Naquela época, a liquidação [da posição em um ativo] poderia ser feita utilizando uma coisa chamada cheque”, destacou Carlos.

Foi esse mesmo pequeno aparato de papel – tão obsoleto nos dias de hoje – que protagonizou o crash da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. A derrocada da Wall Street carioca o TradeNews te conta na terceira e última reportagem da série Especial BVRJ.

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