Estreito de Ormuz: o fechamento deve se concretizar?

O Parlamento iraniano aprovou no último domingo (22) uma resolução para fechar o Estreito de Ormuz, rota vital para o escoamento global de petróleo, intensificando as tensões militares com Israel e Estados Unidos. Embora a medida ainda dependa da aprovação do aiatolá Ali Khamenei e do Conselho de Segurança do Irã, a preocupação com a reação dos mercados e os preços do petróleo, caso a ideia se concretize, tem aumentado. Mas a medida realmente se realizará?

Ceticismo do mercado e impactos potenciais

Apesar da escalada retórica, o mercado permanece cético quanto a um fechamento efetivo do estreito e seus desdobramentos, com as bolsas apresentando poucas perdas e a alta do petróleo sendo considerada modesta. Beto Saadia, economista e diretor financeiro da Nomos, aponta que “as poucas perdas nas bolsas e a alta modesta do petróleo  mostram que o mercado ainda está cético quanto a uma escalada do conflito, e há motivos para isso. O mercado – dessa vez – entendeu de história.”

Saadia ressalta que, desde os anos 2000, os preços do petróleo têm se mostrado imunes a perturbações geopolíticas, citando como exemplo a variação negativa do petróleo um ano após o início do conflito Rússia-Ucrânia. Para ele, o fechamento do Estreito de Ormuz, responsável por cerca de 20% do fluxo global de petróleo e Gás Natural Liquefeito (GNL), seria um “evento de vida curta”. “Não é difícil especular que o aumento das hostilidades por parte do Irã traria ainda mais prejuízos ao próprio país, além de mobilizar outras potências com interesse econômico na região”, afirma Saadia. Ele ainda destaca que o estreito é o principal canal de exportação do Irã, e um bloqueio “estrangularia sua própria economia e não causaria impacto significativo em Israel.”

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China e EUA como fatores de contenção

Max Bohm, especialista em ações da NMS, corrobora a visão de que o fechamento é improvável, citando dois pontos cruciais. Primeiro, cerca de 30% da exportação mundial de petróleo e 80% do petróleo exportado pelo Irã para a China passam pelo Estreito de Ormuz. Bohm explica: “fechar o Estreito de Hormuz seria muito negativo para o Irã, porque por lá passa 80% do petróleo que é exportado para a China”. Ele acredita que o governo chinês já estaria intervindo para evitar o fechamento, preocupado com o impacto no seu próprio abastecimento.

O segundo ponto, segundo Bohm, é a capacidade de resposta militar dos Estados Unidos. “Caso o Estreito de Hormuz seja fechado, a força militar dos Estados Unidos tem capacidade para enfrentar o bloqueio e buscar a liberação da rota”, afirma. Ele menciona a presença de caças, porta-aviões e navios de combate próximos à região, prontos para intervir. “Em qualquer eventualidade de fechamento ou impacto no fluxo de petróleo por ali, podem se dirigir ao Estreito e conseguir restauração da normalidade”, conclui Bohm, que reitera sua opinião de que o estreito não deve ser bloqueado, apesar da aprovação parlamentar iraniana.

Cenário de preços e perspectivas

Para grande parte do mercado, o cenário para o petróleo ainda é baixista, considerando os aumentos de oferta da OPEP+ e a demanda fraca. Beto Saadia observa que “os estoques aumentaram nos últimos meses e devem continuar crescendo pelos próximos 18 meses.” Há quem especule, inclusive, uma possível mudança de regime no Irã, o que acentuaria essa tendência de baixa, com potencial para novos investimentos e aumento da oferta.

No curtíssimo prazo, Max Bohm acredita que o petróleo deve se manter entre US$ 75 e US$ 80 o barril Brent. Ele destaca que o mercado está “menos tenso do que se esperava”.

Apesar das ameaças, a percepção geral dos especialistas é de que os interesses econômicos e a capacidade de resposta militar das grandes potências atuariam como fatores dissuasórios para um fechamento prolongado do Estreito de Ormuz, mantendo o mercado relativamente calmo, mas sempre atento aos próximos capítulos desse conflito geopolítico complexo.

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